O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, está em Teerã para discussões destinadas a diminuir as tensões internacionais sobre a questão nuclear iraniana. A visita de Borrell também ocorre após um novo pico de tensão entre a República Islâmica e os Estados Unidos. Os dois países chegaram à beira da guerra no início de janeiro, pela segunda vez em sete meses, após o assassinato por Washington de um proeminente general iraniano no Iraque.
No início da tarde Borrell se reuniu com o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad, constataram jornalistas da AFP. Ele deve se encontrar com o presidente Hassan Rohani e com o presidente do Parlamento, Ali Larijani. Segundo uma declaração de seu gabinete, a missão do diplomata europeu é “diminuir as tensões e buscar possibilidades de uma solução política para a atual crise”.
Borrell também deve “expressar a determinação da UE em preservar” o acordo nuclear iraniano internacional alcançado em Viena em 2015, segundo o comunicado. É uma “visita importante”, disse o porta-voz do Irã, Abbas Mussavi, em entrevista coletiva. “Espero que as conversas permitam [aos europeus] entender a situação atual”, acrescentou.
Conciliação em fevereiro – A visita de Borrell ocorre em um novo período de tensão entre o Irã e o Ocidente sobre o programa nuclear da República Islâmica. Borrell anunciou em 24 de janeiro que os Estados-partes no acordo de Viena haviam concordado em realizar uma reunião de conciliação em fevereiro para preservar esse pacto abandonado pelos Estados Unidos unilateralmente em 2018.
Concluído entre a República Islâmica e o grupo P5+1 (China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia e Alemanha), o acordo de Viena oferece ao Irã a suspensão de parte das sanções internacionais que sufocavam sua economia em troca de garantias destinadas a provar a natureza exclusivamente civil de seu programa nuclear.
O Irã concordou em reduzir drasticamente suas atividades nucleares e se submeter a um regime de inspeção, o mais restritivo já criado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Com a decisão dos Estados Unidos de se retirar do acordo de Viena e restabelecer sanções, a República Islâmica ficou privada dos benefícios que esperava deste pacto.
Washington acusa Teerã de procurar adquirir armas nucleares, o que a República Islâmica sempre negou. O restabelecimento das sanções americanas isolou o Irã quase completamente do sistema financeiro internacional, fez a República Islâmica perder seus compradores de petróleo um por um e mergulhou o país em uma recessão violenta.
Em resposta, o Irã se libertou desde maio de 2019 de vários compromissos importantes que havia assumido em Viena. Em 5 de janeiro, a República Islâmica anunciou o “último passo” de seu plano para reduzir seus compromissos, alegando estar livre de qualquer limite no número de centrífugas para enriquecer urânio.
O Irã acusa os europeus de não honrarem seus próprios compromissos, ao não ajudá-lo a contornar as sanções americanas.
A República Islâmica diz que está pronta para voltar à plena aplicação do acordo a qualquer momento, “se as sanções forem levantadas e o Irã se beneficiar dos ganhos econômicos” que esperava deste pacto. Na tentativa de forçar Teerã a voltar à aplicação do acordo de Viena, Paris, Londres e Berlim lançaram o mecanismo de solução de controvérsias (MSC) previsto neste texto em janeiro.
O MSC pode, eventualmente, levar ao restabelecimento, por parte do Conselho de Segurança da ONU, de todas as sanções que foram suspensas no âmbito do acordo de Viena, mas as três capitais europeias garantem que esse não é seu objetivo.