Dança, música e estórias da América do Sul subiram ao palco do Sarau
| Oda Paula Fernandes
Duas culturas foram contempladas na 23ª edição do Sarau Chatô, que aconteceu no Hípica hall em Brasília, no último dia 25 de abril, com muita música, dança, poesia, artesanato e gastronomia que deram o tom do encontro de culturas. De um lado, o Peru com tradições, italianas, indígenas, espanholas e até japonesas, e de outro o Acre, irreverente na arte de raízes brasileira.
O colorido, a alegria dos costumes, arquitetura e a natureza exuberantes, a mistura étnica e as tradições fazem do Peru, berço da civilização Inca, um país recheado de contrastes. É neste caldeirão cultural que visitantes de todas as partes do mundo se encantam. A efervescência cultural deixa o calendário repleto de festas populares durante todo o ano.
Com festejos folclóricos e de santos padroeiros, carnavais e rituais que celebram a liberdade, Deus e a natureza, procissões, a música e a dança têm um papel importante na sociedade peruana, desde a época pré-colombiana, que até hoje é marca da expressividade popular. Stands com comidas típicas, artesanato e exposição de fotos atraíram o público que fez fila para saborear o famoso ceviche.
O embaixador do Peru no Brasil, Vicente Rojas Escalante, lembrou que no Acre encontra-se um dos pontos mais próximos entre Peru e Brasil. Para ele, é a partir daí, ambos países devem fortalecer as relações em toda a zona de fronteira, que tem uma extensão de 2.800 km. “Desse modo, devemos fortalecer todos os níveis de nossas relações como Peru–Brasil. São muitos os temas que nos unem: o comércio, o turismo, nossa cultura e até mesmo, os problemas que devemos superar juntos”, ressaltou Escalante.
Presente no evento, ele falou ainda da satisfação de fazer parte desse projeto que divulga e une. “Sobre o evento Sarau Chatô acredito ser uma excelente iniciativa em estabelecer os vínculos entre os Estados Federativos do Brasil e os países do mundo. No caso do Sarau Chatô Peru–Acre, tem por mim um significado especial, por tratar-se de um encontro direto entre as culturas do Peru e o Brasil”, concluiu o embaixador peruano.
Arte poética acreana – O Acre faz fronteira com o Peru e não é apenas uma linha geográfica que os separam e os distinguem. Visto por muitas décadas como um ‘ponto perdido’ no mapa do Brasil, o Acre ultrapassa os limites de seu território e traz ao mundo uma mensagem forte de responsabilidade sustentável dos recursos naturais, fomentador dos valores culturais, ambientais e sociais.
É nesse cenário que poesia, música, gastronomia e artesanato acriano repercutem mundo afora e trazem a Brasília as particularidades do Norte brasileiro. Os sabores do Acre, influenciados por portugueses, libaneses, nordestinos, índios, bolivianos e peruanos.
A secretária do governo do Estado do Acre, Rachel Moreira, aponta que estar no Sarau Chatô é uma oportunidade de o Brasil e o mundo conhecerem mais sobre a cultura e a história acreana. “O Acre é o único estado que já foi um país – império de Luiz Gálvez Rodrigues de Arias, entre 14 de julho de 1899 e 1 de janeiro de 1900 – éramos território boliviano, lutamos e nos tornamos território brasileiro. Há 20 anos escolhemos como política pública o Desenvolvimento Sustentável, numa época em que”, revela a Moreira.
Ainda de acordo com Rachel, o turismo e toda a cadeia produtiva do Acre tem esse conceito de sustentabilidade, criado na década de 1970. “É uma oportunidade de mostrar o que nós temos a oferecer. O bambu é a madeira do futuro e nós temos a maior floresta nativa de bambu do mundo”, completou a secretária do governo do Acre.
Na dança, a representação do Peru veio pelo Ballet Folclórico Peruano de Brasília apresentaram a marinera (Concha Perla), o huayno (Que Linda Flor) e a danza selvatica (Anaconda). A música ecoou nos acordes da dupla Viajantes del tiempo, com melodias instrumentais tradicionais no lado peruano dos Andes e a agrupação musical Jarana Peruana, um projeto da Embaixada do Peru que revela a contribuição artística de influentes músicos do país, como Chabuca Granda, Luis Abelardo Nuñez, Adrián Flores Alván, entre outros. A percussão também alegra o Sarau com o grupo Cajones do Peru, que toca o instrumento de origem afro-peruana cujo formato é de uma caixa e, em geral, acabamento simples em madeira.
Já a representação brasileira veio com Keilah Diniz, Alberan Moraes e Beto Brasiliense que cantaram o Norte brasileiro. O compositor e músico Alberan Moraes também se apresentou. “Minhas músicas refletem a natureza e a identidade amazônica. São coisas que trago em mim”, disse Alberan.
A poesia de Francis Mary Alves de Lima (Bruxinha) e a contação de histórias de Karla Martins animaram a noite. Bruxinha passou infância e adolescência subindo em árvores, tomando banhos de açudes e ouvindo histórias sobre as pessoas e os mitos da floresta, contada pelos avós. “O imaginário dos povos da floresta é a minha principal fonte de inspiração”, contou a poetisa que foi consultora da minissérie Amazônia: De Galvez a Chico Mendes, de Glória Perez.
O Sarau – Iniciado em dezembro de 2011, o projeto denominado Sarau Chatô consiste em uma série de eventos multiculturais gratuitos que reúnem no mesmo espaço as mais variadas manifestações artísticas, como música, dança, teatro, artes plásticas e cinema. A cada edição, são homenageados um estado brasileiro e um país com embaixada em Brasília. A realização é da Fundação Assis Chateaubriand e o patrocínio, da Petrobras.