As tensões entre França e Reino Unido não deverão afetar as negociações entre Londres e Bruxelas sobre o ‘Brexit’ na Irlanda do Norte, nem Londres tem a ganhar com a disputa entre a União Europeia e Polônia, afirmam analistas.
Esta semana, a Comissão Europeia (CE) propôs reduzir em 80% os controlos sanitários e fitossanitários a que estão sujeitas as mercadorias que transitam do resto do Reino Unido para a Irlanda do Norte, facilitando a implementação do Protocolo existente no Acordo de Saída da UE.
O objetivo é resolver os problemas resultantes do ‘Brexit’ na região britânica e responder a algumas das preocupações levantadas pelo Governo britânico, devendo ambos os lados entrar em negociações intensivas nos próximos dias.
Apesar de “França ser um dos membros [da UE] mais relutantes em oferecer concessões”, Joël Reland, investigador no centro de estudos UK in a Changing Europe, não acredita que vá influenciar as conversas.
As relações diplomáticas franco-inglesas foram abaladas nos últimos meses pela parceria militar AUKUS, que invalidou um acordo para produzir submarinos para a Austrália, pelas disputas de pesca com a ilha de Jersey e pelas acusações trocadas relativamente às travessias de imigrantes ilegais no Canal da Mancha.
Mas Reland acredita que “a atitude mais conciliadora de [vice-presidente da CE para as Relações Institucionais] Maros Sefcovic tem prevalecido sobre a ira de [Presidente francês, Emmanuel] Macron contra o Reino Unido”.
Segundo este especialista em política externa, o Presidente francês tem aumentado o tom crítico contra o Governo britânico para defletir críticas internamente e mostrar uma posição de força na arena internacional a poucos meses das eleições presidenciais, em abril.
“Paris pode pressionar a UE a adotar uma postura mais dura em relação ao Protocolo, mas o nível relativamente alto de compromisso mostrado nas propostas da Comissão esta semana sugere que isso não aconteceu. Em última análise, a Comissão define a direção”, enfatizou, em declarações à agência Lusa.
Relativamente à disputa entre a UE e a Polónia, que levantou a ameaça de um potencial ‘Polexit’, as opiniões dividem-se sobre se o Reino Unido poderá aproveitar à relativa desunião na UE para obter concessões.
O Tribunal Constitucional da Polônia deliberou recentemente que algumas das leis incluídas do Tratado de Adesão do país à UE são incompatíveis com a Constituição polaca a pedido do Governo polaco para assim tentar resistir a reformas no sistema judicial.
“Infelizmente, é óbvio que há vantagens políticas para ambos os lados em relações tensas e turbulentas”, lamenta Alex de Ruyter, diretor do Centro de Estudos sobre o Brexit da Universidade de Birmingham.
Pelo contrário, Sarah Overton, investigadora no UK in a Changing Europe, defende que “o Reino Unido não tem a ganhar nada de substancial” a não ser alguma aproximação entre Londres e Varsóvia.
“Embora a um nível superficial, a instabilidade da UE possa ser atrativa para alguns ‘Brexiteers’, uma UE estável é do interesse a longo prazo do Reino Unido como um parceiro de negociação, [pois] a instabilidade regional provavelmente tornaria ainda mais difícil a procura de soluções sustentáveis para as disputas sobre o comércio em curso entre o Reino Unido e a UE na Irlanda do Norte”, referiu.