Clayton Cunha Filho e João Paulo Viana lançam livro sobre a Bolívia contemporânea.
| Oda Paula Fernandes
Fotos: Eliane Loin
O Embaixador da Bolívia no Brasil, José Kinn, recebeu os organizadores brasileiros Clayton M. Cunha Filho e João Paulo Viana, a Editora Appris, amigos, corpo diplomático, compatriotas, convidados, imprensa, para o lançamento do livro “A Bolívia no Século XXI: Estado Plurinacional, Mudança de Elites e (Pluri)Nacionalismo” de caráter político, histórico e social, questões essenciais para a compreensão da Bolívia contemporânea.
Ao cumprimentar os presentes, o embaixador lembrou a trajetória histórica política e cultural do país e da importância de realizar trabalhos como este, pelos brasileiros que se dedicaram a estudar a política latinoamericana, com foco na Bolívia. “A história da humanidade está cheia de rebeldias às vezes organizadas, às vezes não e às vezes como projetos políticos. A estes projetos, permitam-me chamar de ‘tentativa’ de construir uma sociedade mais humana, melhor, superior”, enfatiza José Kinn.
As análises do estudo, que levou cerca de dez anos até a conclusão, permearam a retomada do interesse do Brasil por países da América Latina, segundo o professor de Ciência Política da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Fabrício Pereira da Silva. “A grande maioria dos autores aqui reunidos é composta por jovens pesquisadores brasileiros que escolheram a realidade boliviana como o tema de suas pesquisas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Se a Bolívia constitui um laboratório a céu aberto para muitas das grandes questões das Ciências Sociais nesse começo de século, pelo menos uma nova geração de acadêmicos brasileiros percebeu isso. Temos que celebrar”, comemora Silva.
O organizador da obra, João Paulo Saraiva Viana, fez uma análise dos dez anos no processo de câmbio do governo Evo Morales, aponta fatos recentes como mudança social. “Inaugurou-se um momento histórico na América do Sul”, afirma Viana, sobre as mudanças políticas da última década.
Mudança – Clayton M. Cunha Filho, também organizador da obra diz que a experiência da pesquisa revelou um povo engajado com a mudança. “Desde 2005, quando Evo Morales assumiu o poder, pude ouvir um comentário de um senhor boliviano, na praça Murillo onde fica o Congresso em La Paz, que esse governo deveria ser bom, ou Evo seria enforcado, mas não pelo pescoço [mas pelas partes íntimas]. Ali percebi que seria algo épico ou trágico, mas de qualquer forma muito interessante para se estudar à luz da ciência política”, lembra Clayton Filho.
O professor Fabricio Pereira da Silva acrescenta ainda que a Bolívia exibe uma das experiências mais instigantes deste começo de século. “Uma crise orgânica pôs em xeque o experimento político, social e econômico neoliberal testado nas décadas anteriores, ao mesmo tempo em que pareceu ameaçar elementos bem mais longevos, heranças de um passado colonial e de uma sociedade abigarrada (nos dizeres do intelectual marxista René Zavaleta)”, ressalta o professor.
A sociedade boliviana é de maioria indígena, 62% das pessoas se declararam indígena ou descendente e esta mesma sociedade buscou ‘refundar’ o poder do País ao adotar um Estado Plurinacional, após eleição de um presidente que representa a maioria, Evo Morales. É um novo sistema político com novas perspectivas econômicas, em resposta a essa crise.
Os autores do Livro, de várias áreas das Ciências Sociais expandiram as temáticas abordadas. Estado Plurinacional, a reemergência das identidades étnicas, as relações entre o nacional-popular e o indigenismo, as reflexões do Grupo Comuna, as abordagens sobre o Viver Bem, os projetos econômicos do “capitalismo andino” e do “socialismo comunitário”. Entre os questionamento de quem se sobressai, se o novo ou o antigo governo, o que fica bem claro é que o novo Estado se vê limitado pelas instituições liberais, e que novas concepções econômicas convivem com ressurgências nacional-desenvolvimentistas.