Segundo o adido agrícola da embaixada do Brasil no Marrocos, Nilson Guimarães, os brasileiros podem exportar mais café e frutas tropicais ao mercado marroquino, entre outros produtos.
Bruna Garcia Fonseca
bruna.garcia@anba.com.br
São Paulo – O Brasil tem um universo de produtos a explorar na exportação ao mercado marroquino. Essa foi uma das conclusões dos debates do webinar “Marrocos e Brasil: O Agronegócio conectando os continentes”, promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira nesta quarta-feira (09), com público de 880 pessoas. O adido agrícola da embaixada do Brasil no Marrocos, Nilson Guimarães (foto acima), defendeu a ideia no evento virtual, que foi conduzido pelo presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun.
Segundo Guimarães, o Brasil pode exportar mais café e frutas tropicais ao Marrocos, e também pode começar a comercializar aos marroquinos material genético animal, avícola e bovino, e o que ele chamou de produtos da biodiversidade brasileira, produtos típicos do Brasil como erva-mate, óleo de babaçu, castanha-de-baru, castanha-do-Brasil e açaí.
As exportações do Brasil ao Marrocos giraram em torno de US$ 270 milhões em 2019, com os principais produtos sendo açúcar, cereais, principalmente milho, pimenta-do-reino e café. Guimarães informou que os produtos que mais tiveram crescimento de exportações para o Marrocos este ano foram café, pimenta-do-reino, açúcar e soja.
“O intercâmbio comercial no agro entre o Brasil e Marrocos em 2020 teve um aumento substancial. No primeiro semestre, houve um aumento de 51,3% em receita nas exportações de produtos do agronegócio em relação ao mesmo período no ano passado, fazendo do Marrocos o terceiro destino das exportações do agro brasileiro na África. Aumentou também a quantidade exportada, em torno de 27% em relação ao mesmo período de 2019”, informou o adido.
Além dos produtos já consolidados, há também a oportunidade de abertura de mercado. Guimarães citou como exemplo um produto que teve o mercado marroquino aberto recentemente, o material genético avícola (ovos férteis e pintos de um dia) e produtos de pesca. Segundo ele, outros sete produtos de origem animal estão sendo negociados. São eles produtos apícolas, ingredientes para ração animal, envoltórios naturais, produtos lácteos, embriões e sêmen bovinos e bovinos vivos.
Na outra mão, o Marrocos vende ao Brasil principalmente pescados, como a sardinha, e os fertilizantes, principalmente fosfato ou fosfatados. Cerca de US$ 650 milhões em fertilizantes foram exportados pelos marroquinos ao Brasil no ano passado.
Complementariedade – Falando em formas de o agro brasileiro e marroquino serem complementares, o adido enfatizou a diferença na natureza do setor entre os países. “A agricultura marroquina é baseada na pequena e média propriedade, em produtos especializados em geral, e a brasileira é baseada em commodities e em grandes propriedades”, disse, mencionando também a diferença no clima dos dois países e na frequência de chuvas.
Além da demanda do Brasil por fertilizantes e sardinhas, Guimarães vê a possibilidade de expansão da pauta exportadora marroquina com frutas vermelhas congeladas (O Brasil já compra morango congelado do Marrocos), azeite de oliva e azeitona em conserva, e ainda o óleo de Argan, tanto para a culinária quanto para o setor de cosméticos, pelo qual ele é mais conhecido no País.
Embrapa – Também participou do webinar o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Alexandre Amaral (foto). Ele falou sobre a agricultura brasileira baseada em ciência, parcerias em inovação e tecnologia.
Segundo Amaral, a produtividade aumentou muito no Brasil desde os anos 1970. “A área para agricultura cresceu cerca de 30%, e a produção cresceu 390%. A produtividade, mais de 260% e a gente pode atribuir tudo isso ao emprego da tecnologia. É o que a gente chama de ‘poupa terra’, nessa mesma área aumentou a produção, e só se consegue isso com tecnologia”, disse.
A agricultura baseada em ciência, segundo o pesquisador, consegue esse aumento de produtividade graças à contribuição de organizações estaduais, universidades brasileiras, a rede federal de educação profissional, além da Embrapa, que conta com 43 centros de pesquisa e mais de 2.200 pesquisadores pelo Brasil.
De acordo com Amaral, os principais desafios para a inovação no setor são a implementação da integração e conectividade entre a agricultura de precisão e a digital para tomada de decisão, a conectividade de dispositivos e sensores em áreas agrícolas e as plataformas digitais integradas para irrigação, análise de solos, plantas e animais. Isso pode ser feito por meio de parcerias público privadas, transferência de know-how, licenciamento e prestação de serviços.
OCP Brasil – A OCP, maior indústria de fertilizantes do Marrocos, tem sede no Brasil. O head da companhia, Olavio Takenaka (foto), falou sobre o Brasil como mercado estratégico no webinar. O empresário afirmou que apesar de o Brasil ser protagonista no setor de commodities e um dos maiores exportadores de produtos agrícolas, o solo brasileiro tem deficiência de nutrientes, ou seja, o Brasil precisa da importação de fertilizantes, principalmente fosfatados, nitrogenados e potássio. Segundo ele, a agricultura brasileira tem importado mais de 60% de suas necessidades em fósforo, e ao redor de 75% de nitrogênio e 90% do potássio.
“O Brasil está designado a crescer até 2050 segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para fornecer 40% do incremento necessário para alimentar 10 bilhões de pessoas. Temos um grande desafio em diversas áreas, especialmente em fertilizantes para poder fornecer volume e produtos adequados, e nesse sentido o Marrocos tem vastas reservas. O Marrocos tem mais de 70% das reservas mundiais de fósforo e continuaremos atendendo o Brasil, trazendo produtos de qualidade e no tempo certo”, disse.
A OCP é uma empresa centenária estatal do Marrocos e fornece produtos ao Brasil há mais de 30 anos. Em 2010 inaugurou a primeira filial no Brasil, hoje tem 10 filiais pelo País e até ano que vem deve chegar a 15 pontos. Takenaka afirma que o Brasil é um dos principais mercados da companhia. A OCP tem parceria com a Embrapa para o mapeamento de solo brasileiro. A companhia também vem desenvolvendo facilitação e intercâmbio entre pesquisadores.
“O Brasil tem uma responsabilidade global por ter toda essa riqueza de vastas áreas, no clima, na capacitação técnica e na tecnologia. Os fertilizantes da OCP e do Marrocos trilharão este longo caminho até 2050 para abastecer cerca de 10 bilhões de pessoas com alimentos”, declarou.
O presidente da Câmara Árabe concordou com Takenaka. “Com certeza o Brasil vai chegar nessa produção ousada, mas viável. Acreditamos muito nessa complementariedade e nesse caminho”, disse. Hannun afirmou que o papel da Câmara é fazer a conexão para o desenvolvimento dessas relações comerciais e também sociais e culturais entre Brasil e países árabes.
O presidente da Câmara Árabe também convidou o público para participar do Fórum Econômico Brasil Países Árabes, que será realizado de forma virtual entre 19 e 22 de outubro com o tema “O Futuro é Agora”. Serão discutidos temas como parcerias estratégicas, novas formas de fazer negócios, segurança alimentar, desenvolvimento do halal, entre outros.
O webinar contou ainda com a participação do embaixador do Brasil no Marrocos, Julio Glinternick Bitelli, do embaixador do Marrocos no Brasil, Nabil Adghoghi, da diretora executiva de mercado externo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Patrícia Gomes, do gerente comercial da empresa Jacto, de maquinário agrícola, Gustavo Serizawa, e da gerente de Relações Institucionais da Câmara Árabe, Fernanda Baltazar.
Leia aqui outra reportagem sobre o webinar.
Confira o evento online completo no canal da Câmara Árabe no Youtube.