A afirmação foi do embaixador angolano, Nelson Cosme, durante as comemorações da data nacional do país. Segundo o embaixador, Angola quer fortalecer o agronegócio e a agricultura familiar
Súsan Faria
Fotos: Elaine Loin
Um pedaço da Angola se fez presente no Planalto Central. Músicos e dançarinos daquele país animaram a festa da Data Nacional de Angola – 11 de novembro – no Clube Naval de Brasília. Foi uma noite de comemorações, com o jeito angolano de ser: alegre, colorido e espontâneo. Embaixadores, diplomatas, representantes do corpo diplomático e convidados conheceram um pouco da cultura e culinária angolana. A festa em Brasília foi antecipadas para a noite de sexta-feira, 10 de novembro.
Diretamente de Luana, capital de Angola, se apresentou o Grupo de Ballet Kilandukilu, premiado no país e internacionalmente. Dançarinos exibiram muito gingado e energia, em trajes típicos angolanos. A Banda Maravilha e o cantor Robertinho animaram o baile, onde muitos representantes do corpo diplomático se soltaram na pista de dança. Antes, a Banda dos Fuzileiros Navais executou os hinos nacionais do país e do Brasil. As mesas foram enfeitadas com grandes ramalhetes, castiçais taças e pratos coloridos para um jantar típico.
“Celebramos hoje 42 anos da independência de Angola num contexto novo: de paz e tranquilidade”, explicou o embaixador de Angola, Nelson Cosme. O presidente e chefe de Estado, João Manuel Gonçalves Lourenço, tomou posse dia 27 de setembro deste ano, após disputa eleitoral – realizada em agosto último – com candidatos de cinco partidos políticos e uma coligação partidária. Segundo o embaixador, abriu-se assim um novo ciclo político em Angola, onde se vai corrigir o que está mal e melhorar o que está bem.
“A diversificação da economia e o reforço do sistema democrático são as grandes apostas do executivo, exaltando os valores patrióticos, o reforço aos princípios cívicos e a aceitação da diversidade ea diferença de opiniões”, afirmou o diplomata, lembrando que foi eleito um governo aberto, inclusivo e participativo.
Brasil– Nelson Cosme afirmou que o chefe do executivo angolano definiu o Brasil como um parceiro prioritário dentre os vários países amigos. “Queremos contar com expertise do Brasil, campeão do agronegócio da América do Sul e no mundo para fortalecer a nossa agricultura familiar e empresarial, além de continuar a reforçar as relações em setores estratégicos, como a defesa e o setor indústria”, disse em seu discurso.
Segundo o embaixador, o governo angolano prevê conceder incentivos às empresas que investirem no interior do país, particularmente as que promoverem a articulação entre a cidade e o campo, o que – de acordo com ele – poderá contribuir para reduzir as assimetrias e a pobreza, bem como aumentar o emprego e o rendimento das famílias no meio rural. “A expectativa é alavancar a agroindústria de forma a aumentar a participação desses dois setores (agroindústria e agricultura familiar) na estrutura do PIB que deixará de depender excessivamente da indústria petroleira”, explicou.
“Contamos nessa abertura – prosseguiu o embaixador – com total engajamento de parceiros brasileiros para trabalhar em conjunto a luz da nova realidade política”. Destacou o acordo de parceria estratégica assinado em 2010, entre o Brasil e Angola, e parabenizou o Brasil pelo desempenho na presidência pró tempore da Comunidade de Países da Língua Portuguesa (CPLP), que esse ano recebeu os ministros da Cultura, Justiça, Turismo, Saúde e Igualdade do Gênero de Angola.
Respeito – Ainda, segundo o diplomata, no plano internacional, Angola tem ganhado respeito pelo papel desempenhado na remoção de conflitos armados, sobretudo na África. “A Contribuição nos fóruns internacionais para busca de soluções pacíficas estende-se ao Conselho de Paz e Segurança da União Africana para busca de soluções pacíficas”, comentou.
Recentemente Angola foi eleita membro do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, de 2018 a 2020, “fruto do reconhecimento internacional pelo desempenho na preservação de direitos no país”, afirmou Nelson Cosme, lembrando que também Angola, por duas vezes, foi membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A última em 2015 e finalizada em janeiro deste ano.
“Não pouparemos esforços para realçar a imagem de nosso país. Seguiremos a orientação do executivo angolano, que determinou as embaixadas e consulados -que além do papel de captação de investimentos e difusão de produtos serviços -para escutar e apoiar os angolanos nas diásporas”, disse.Por último, o embaixador propôs aos presentes um brinde pelo reconhecimento da independência de Angola, ao fortalecimento das relações de cooperação e amizade entre seu país e o Brasil e pela fraternidade entre todos os povos do mundo.
Amizade bilateral – O subsecretário geral da África e Oriente Médio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Fernando de Abreu, lembrou que 11 de novembro é um dia de extrema importância para a nação amiga e que, há 42 anos, o Brasil foi o primeiro país da comunidade internacional a reconhecer a independência de Angola, no próprio dia de sua independência, o que torna a data especial.
“Angola e o Brasil são irmãos, unidos pela história, cultura e língua e têm construído ao longo de décadas relações bilaterais assentadas no diálogo franco e fraterno, sempre em favor dos objetivos do desenvolvimento e justiça social”, comentou o subsecretário.Segundo ele, é permanente o esforço dos dois países no sentido de aprofundamento e verificação do diálogo e da cooperação que abarcam hoje áreas abrangentes como saúde, educação e defesa.
“A parceria estratégica que lançamos em 2010 tem orientado o nosso esforço com sucesso. O ano de 2017 foi particularmente marcante nesse sentido. Em julho, por exemplo, entrou em vigor o acordo de cooperação e facilitação de investimentos mútuos”, disse. Em maio deste ano, segundo Fernando Abreu, foi assinado o memorando de entendimento para formalizar a cessão de imóvel para construir a nova sede da embaixada de Angola em Brasília e de reciprocidade para nossa embaixada em Luanda.
Independência – Em 11 de novembro de 1975, o então presidente de Angola, Agostinho Neto, proclamou a independência do país. Angola foi colônia portuguesa e após se libertar de Portugal – logo depois da declaração independência – entrou em guerra civil, com a luta pelo poder entre três grupos nacionalistas: MPLA, Unita e FNLA. A guerra durou até 2002 e o MPLA – ao qual era ligado Agostinho Neto – saiu-se vencedor.