Comex do Brasil
Brasil e Nigéria assinaram na última quarta-feira (16), em Abuja, capital do país africano, um acordo estabelecendo as bases do maior projeto agropecuário já implantado no continente africano. O acordo foi firmado pelo vice-presidente da Nigéria, professor Yemi Osimbajo e pelo embaixador do Brasil naquele país, Ricardo Guerra.
O projeto contará com recursos da ordem de US$ 1 bilhão, fornecidos em parceria pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Deutsche Bank. Com a mplantação do projeto está prevista, num primeiro momento, a exportação de 10 mil tratores e cerca de 50 mil máquinas e equipamentos brasileiros que serão montados na Nigéria. A expectativa é de que no médio prazo o projeto contribuirá de forma consistente para um aumento expresivo no fluxo de comércio entre o Brasil e a Nigéria.
Nesta quinta-feira (24) será realizada na sede da Associação Paulista de Imprensa (API), em São Paulo, uma reunião que contará com a participação das entidades e empresas envolvidas diretamente no projeto. Entre outros participarão representantes da FGV, Abimaq, BNDES, Apex-Brasil, ACSP, Fiesp, CCAB, CECEXSP, Petrobras, Eletrobrás e Furnas. O objetivo do encontro é fazer uma apresentação dessa importante iniciativa envolvendo o Brasil e a Nigéria.
Segundo o CEO do Consórcio Exporta Brasil e vice-presidente da Federação das Câmaras de Comércio Exterior do Brasil (FCCE), Roberto Nóbrega, que atua desde 1975 na área de comércio exterior, “o acordo com a Nigéria certamente será um passo inicial importante para o incremento das operações não apenas entre o Brasil e a Nigéria mas também envolvendo o Brasil e outros países do continente africano”.
O pacote tecnológico a ser fornecido pelo Brasil à Nigéria inclui um plano de negócios elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o grande objetivo da iniciativa é impulsionar a agropecuária nigeriana de modo a reduzir a dependência do país em relação aos frutos gerados pela produção petrolífera. A primeira linha desse financiamento, no valor de 116 milhões de euros, será desembolsada pelo Deutsche Bank, agora em fevereiro. Os segundo e terceiro desembolsos serão feitos no mês de julho, totalizando 360 milhões de euros, a cargo do BNDES e de um banco multilateral. O financiamento restante, no total de 462 milhões de euros, deverá ser aportado no mês de julho.
A ação de apoio ao desenvolvimento do agronegócio nigeriano prevê programas de treinamento e assistência técnica para máquinas e implementos agrícolas no prazo de dez anos. Também preve a criação de mais de 700 centros de serviços para apoiar os agricultores nigerianos em tarefas como preparo do solo, plantio, cultivo dos produtos e colheita. Esses centros terão como foco uma série de cadeias de valor, entre outras carnes bovina, de frango, caprina e ovina, peixes, laticínios, hortifrutis, óleo de palma, soja, arroz, milho e algodão.
Comércio bilateral
A assinatura do acordo sobre esse ambicioso projeto foi comemorada pelas indústrias brasileiras produtoras e exportadoras de máquinas e equipamentos agrícolas, que vêem no início de implantação dessa iniciativa uma grande possibilidade de aumento das vendas desses produtos para a maior economia africana.
Em termos de comércio exterior em geral, a expectativa é de que o projeto –e seus desdobramentos futuros- contribua também para reverter a tendência de forte queda registrada no intercâmbio comercial brasileiro-nigeriano nos últimos anos.
As trocas comerciais entre os dois países viveram sua fase áurea entr os anos de 2006 e 2015, período em que o Brasil acumulou um deficit de US$ 57,7 bilhões nas trocas comerciais com o país africano.
O saldo em favor dos nigerianos atingiu o valor máximo em 2013, quando as vendas daquele país concentradas em petróleo, nafta para a petroquímica e gás natural somaram US$ 9,648 bilhões, ao passo em que as vendas brasileiras foram de apenas US$ 876 milhões, gerando um deficit de US$ 8,772 bilhões.
Nos últimos anos, o Brasil diversificou suas importações desses produtos junto a outros países fornecedores e os números do intercâmbio com a Nigéria desabaram. Ano passado, as exportações brasileiras totalizaram US$ 667 milhões e as vendas nigerianas para o Brasil atingiram a cifra de US$ 1,632 bilhão, o que gerou um superávit de US$ 964 milhões para a Nigéria.
Os principais produtos da pauta exportadora brasileira foram açúcar de cana (US$ 375 milhões), ônibus (US$ 116 milhões), fumo em folhas (US$ 30 milhões), compostos de funções nitrogenadas (US$ 27 milhões) e tratores (US$ 14 milhões).
Do lado nigeriano, os principais produtos vendidos foram petróleo (US$ 1,37 bilhão), ureia (US$ 134 milhões), gas natural (US$ 110 milhões) e nafta (US$ 18 milhões).