Não é raro ouvir de produtores de vinho de outros países que o seu branco ou tinto orgânico não será importado para ao Brasil ou que este vinho veio para cá sem a certificação orgânica estampada no rótulo. A razão é econômica: o Brasil não reconhece a certificação estrangeira e, ao produtor ou importador, é preciso arcar com os custos de enviar um técnico brasileiro para o país de origem para atestar a veracidade das informações.
Esta barreira está sendo vencida, ao menos para os vinhos chilenos. Em um acordo de equivalência de produtos orgânicos, assinado em setembro passado e válido a partir de abril, o Chile reconhece a certificação orgânica feita pelo Brasil e o Brasil reconhece a chilena. A ideia, segundo a notícia publicada no site do Ministério da Agricultura, é criar um rótulo comum, com selos oficiais atestando a autenticidade dos produtos. As autoridades sanitárias estão definindo quais os produtos entrarão nesta lista. No caso do Chile, o interesse são os vinhos e as frutas.
A medida é importante para economizar gastos desnecessários. No caso dos orgânicos, muitas vezes é a mesma certificadora que faz a análise nos dois países, mas é preciso pagar duas vezes pelo serviço, lá e cá. Mas esta não é a única inspeção que me parece desnecessária. Pela legislação brasileira, os importadores têm de deixar para a análise 1 litro de cada vinho importado. A ideia é confirmar que não há adulteração ou contaminação nas garrafas.
Uma vez, tive a oportunidade de visitar um desses laboratórios, conhecer o trabalho e conversar com os técnicos. Lembro bem que a técnica me contou que nos 20 anos que trabalhava no laboratório do governo (com os custos pagos por todos nós) apenas uma garrafa havia sido descartada. As demais inúmeras analises realizadas confirmaram as informações atestadas pelo produtor em sua vinícola. Desde então fico pensando: o que justifica um investimento desta magnitude para averiguar parâmetros que já são checados nos laboratórios dos países produtores? Não há acordo de reciprocidade possível?