Súsan Faria
Fotos: Eliane Loin
Bangladesh é uma nação antiga, mas um estado novo, que ganhou sua independência em março de 1971. Até então fazia parte do Paquistão. Hoje, o país faz fronteira em quase todas suas divisas com a Índia e uma pequena parte (a Noroeste) com Myanmar. Tem 165 milhões de habitantes, que em sua maioria, 86%, são islâmicos. Enquanto o Brasil possui uma densidade demográfica de 25 habitantes por km2, em Bangladesh – com área equivalente ao nosso estado do Amapá – essa densidade é de 1.002 habitantes por km2.
Os dados foram apresentados pelo professor Pio Penna, da Universidade de Brasília (UnB), durante seminário sobre o projeto “Visit Bangla”, no auditório do Instituto de Relações Internacionais daquela universidade, quinta-feira, 06 de dezembro, para professores, estudantes, empresários, imprensa e convidados. Pio Penna dividiu a mesa com os jornalistas Liz Lobo, da Revista Embassy Brasília; e Ivan Godoy, da rádio Senado. Os três passaram uma semana naquele país, em outubro deste ano, a convite da embaixada de Bangladesh em Brasília, que também promoveu o seminário na UnB.
O embaixador Zulfiqur Rahman, ao abrir o evento, disse que normalmente os diplomatas só abordam os aspectos bons de seus países, mas que essa era uma oportunidade para só os brasileiros falarem do que viram. “Quero que falem sinceramente sobre as coisas boas e não tão boas que viram”, disse. Foi o segundo seminário, promovido pela embaixada, com jornalistas e professores que visitaram Bangladesh. A primeira visita ocorreu em abril deste ano.
Na opinião do professor Pio Penna, poucos brasileiros conhecem Bangladesh e também aqui se estuda pouco a Ásia. Lembrou como foi o grande movimento pela independência daquela nação, iniciado com a luta pelo idioma bengali, seguido pela luta política e a reivindicação de autonomia. “Foi uma repressão brutal, com 3 milhões de mortos além de 10 milhões de refugiados que procuraram abrigo na Índia”, disse o professor. Segundo ele, hoje, o país possui a quarta maior população muçulmana do mundo e “a impressão que tem é que o convívio é tranquilo, sem notícias de atos de extremismo”.
Os três debatedores destacaram aspectos de Bangladesh como a sensação de segurança, o trânsito caótico – mas colaborativo, com “a ordem no caos” – e os avanços econômicos, sobretudo nas indústrias têxtil, do vestuário, naval e de alimentos – peixes e frutos do mar. “O setor agrícola é muito ativo, sobretudo na produção de batata e frutas. A indústria farmacêutica exporta para a Europa e Estados Unidos. Mas achei o nível salarial muito baixo”, afirmou o professor da UnB.
A jornalista Liz Lobo iniciou sua apresentação lembrando o primeiro presidente eleito de Blangladesh, o Sheikh Mujibur Rahman, também conhecido como Pai da Nação. Um líder estudantil que iniciou sua luta pela manutenção da língua bengali e pela autonomia do país. Seis meses depois de assumir o governo, ele e a maior parte de sua família foram assassinados por um grupo de oficiais do Exército. A sua filha mais velha, Sheikh Hasina, estudante na Inglaterra, escapou da tragédia. Hoje é a atual líder da Liga Awami e primeira-ministra do Bangladesh. “A cidade toda fala do Sheikh Mujib, não quer esquecê-lo, porque ele fez crescer o patriotismo naquela nação e pagou com a própria vida pelos feitos”, disse a jornalista, lembrando que o povo também tem muito respeito pela filha do Sheikh.
Liz Lobo destacou a ascensão, o empoderamento feminino em Blangladesh, onde primeira ministra, a presidente do parlamento e a líder da oposição são mulheres. Lembrou que a expectativa de vida das bengalesas era de 54 anos em 1980 subiu para 72 anos em 2013. “As mulheres têm recebido novo tratamento no país. Estão de impondo e conquistando espaços. Não vi discriminação contra elas”, comentou. A jornalista acrescentou que a ONU reclassificou Bangladesh de país subdesenvolvido para em desenvolvimento e que a região está atraindo muitos investimentos. “É uma nação diferente com pessoas e cultura distintas, que vem despertando o interesse internacional e o governo está trabalhando muito bem o crescimento. Pouco a pouco, Bangladesh está conseguindo respeito internacional. É um povo que lutou muito, está unido, enfrentando as dificuldades junto e sem medo do trabalho”, afirmou.
Já o jornalista Ivan Godoy destacou a questão dos refugiados de Myanmar que chegam a Bangladesh. “Há uma limpeza étnica lá, só comparável ao que os nazistas fizeram com os judeus”, disse. Segundo ele, trata-se de uma minoria étnica, sem direito a ter propriedade e cujas crianças não têm acesso à escola e à saúde. Pouco a pouco foram perdendo direitos, ao ponto de não terem mais documento de identidade, mas uma carteira de estrangeiros em seu próprio país. Essa minoria não segue o budismo, religião que predomina em Myanmar. De acordo com o jornalista, são 30 acampamentos em Bangladesh, que acolheu 700 mil considerados apátridas só nos últimos dois anos. “Juntamos com os que já estavam lá, são um milhão 200 mil refugiados no país”, explicou.
Ao final do seminário na UnB, houve debate, com ampla participação dos presentes, que levaram questões ao embaixador Zulfiqur Rahman e à mesa, como a poluição das águas pela indústria têxtil de Bangladesh, o casamento de meninas, o comércio entre Brasil e aquele país e o tipo de democracia parlamentar que ali se pratica. Em seguida, foi servido um jantar, com comida típica de Bangladesh.