Depois de aprovar um empréstimo de 500 milhões de dólares para o projeto brasileiro Fundo Clima, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco do Brics, prevê apoio adicional a investimentos em infraestrutura no país, além da assinatura de um novo memorando de entendimentos com o BNDES, afirmou o presidente da instituição, K. V. Kamath, em entrevista à Reuters às vésperas da cúpula do grupo.
Segundo Kamath, o banco está “totalmente comprometido” em apoiar o Brasil em sua agenda de investimentos em infraestrutura. Para além do financiamento direto, ele previu eventual cooperação com o setor privado nesse sentido, por exemplo, com a concessão de garantias, reforço de crédito ou participação acionária.
“Com base nos requisitos atuais de desenvolvimento de infraestrutura no Brasil, a expectativa é que certos setores como água e saneamento, transporte e logística e infraestrutura urbana recebam mais foco em termos de operações soberanas do NDB. Do lado não soberano, são esperados projetos nas áreas de energia, transporte e logística”, afirmou, por email, à Reuters.
Ao falar especificamente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Kamath classificou a relação com o banco de fomento brasileiro como “muito bem-sucedida”.
O BNDES foi o primeiro parceiro com o qual o NDB assinou um memorando de entendimentos, em 2015. O primeiro projeto financiado pelo banco do Brics no país foi o de energia renovável do BNDES, com empréstimo de 300 milhões de dólares.
“O NDB irá renovar seu memorando de entendimentos com o BNDES durante a cúpula (dos Brics) e também vamos aprofundar nosso trabalho conjunto em cooperação para projetos”, pontuou Kamath.
Para a cúpula dos Brics que ocorre nesta semana em Brasília, o NDB irá apresentar os progressos atingidos a seus países membros —Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Kamath, que é indiano, frisou que o Fundo Clima é um dos 14 empréstimos aprovados pelo banco neste ano, totalizando 4,4 bilhões de dólares.
Ao todo, o banco do Brics já chancelou o financiamento a 45 projetos, somando 12,5 bilhões de dólares. A ideia é fechar 2019 com uma carteira na casa de 14 bilhões a 15 bilhões de dólares, afirmou o presidente da instituição.
“O NDB percorreu um longo caminho em quatro anos, algo que nossos pares levaram décadas para alcançar”, disse Kamath, rebatendo críticas de que o banco do Brics ainda não teria efetivamente passado do discurso à ação.
CARTEIRA BRASILEIRA
Sobre questionamentos de que o Brasil não teria recebido financiamento compatível até agora com as contribuições já feitas ao capital do banco, ele reconheceu à Reuters que países como Brasil e África do Sul demandam mais do NDB em termos de “identificação e preparação de projeto”.
“Este tem sido um processo de aprendizado e agora o NDB identificou maneiras mais eficazes de trabalhar com diferentes países”, disse.
“O Brasil e a África do Sul estão se recuperando e agora estão com uma carteira de empréstimos maior do que sua parcela de contribuição para o capital do NDB. Estamos confiantes que o banco terá um portfólio equilibrado entre todos os nossos países membros.”
O NDB já recebeu 5,6 bilhões de dólares de seus membros. O banco tem um capital subscrito de 50 bilhões de dólares.
Olhando para o quadro econômico mundial, Kamath avaliou que a economia global em geral, e a de países desenvolvidos em particular, enfrenta “alguns fortes ventos contrários agora”. Mas ressaltou que o investimento à infraestrutura é vital para pavimentar o caminho para um crescimento econômico mais rápido e inclusivo —meta que continuará sendo perseguida pelo NDB.
“O apoio ao desenvolvimento sustentável de infraestrutura esteve e permanecerá no centro da estratégia operacional do NDB para contribuir com a agenda de desenvolvimento de seus países-membros”, disse.
Ele também afirmou que a adesão de outros países ao banco se dará dentro de um processo gradual, lembrando que o mandato do banco contempla a mobilização de recursos para projetos não apenas do Brics, mas também de outras economias emergentes.
FUNDO CLIMA
O empréstimo do NDB ao Fundo Clima será utilizado pelo Ministério do Meio Ambiente no repasse a subprojetos relacionados à mitigação e adaptação às mudanças climáticas em setores como mobilidade urbana, tratamento de resíduos e energia renovável. O BNDES administrará as operações do fundo.
De acordo com Kamath, os recursos ajudarão o Brasil a cumprir obrigações firmadas no acordo de Paris.