Os corpos do embaixador italiano na República Democrática do Congo (RDCongo), Luca Attanasio, e do seu guarda-costas, Vittorio Iacovacci, mortos num ataque no leste congolês, foram hoje repatriados para Itália num voo militar, noticia a agência France-Presse (AFP).
Segundo a agência noticiosa francesa, o avião militar onde foram colocados os dois caixões aterrou hoje pelas 13:30 locais (11:30 em Lisboa) no aeroporto de Goma, capital do Kivu Norte.O Boeing 767 descolou às 16:20 (14:20 em Lisboa) com os corpos dos dois italianos a bordo.
Attanasio foi morto a tiro na segunda-feira num ataque armado a uma caravana do Programa Alimentar Mundial (PAM), perto de Goma, no leste da RDCongo, de acordo com fontes diplomáticas.
Luca Attanasio, que desempenhava as funções de embaixador na República Democrática do Congo desde início de 2018, foi “alvejado no abdómen” e “resgatado pelos guardas do Instituto Congolês para a Conservação da Natureza (ICCN)” no Virunga Park, segundo as autoridades congolesas.
Além do embaixador, duas outras pessoas morreram no ataque: o condutor congolês do PAM e o guarda-costas italiano do embaixador, afirmam fontes congolesas e italianas citadas pela AFP. No ataque, quatro pessoas foram raptadas, tendo uma sido “encontrada” por soldados congoleses, acrescenta o Ministério do Interior da RDCongo.
Numa mensagem lida na noite de segunda-feira na televisão nacional pelo seu porta-voz, o chefe de Estado congolês, Félix Tshisekedi, condenou “nos termos mais fortes possíveis este ataque terrorista”.
Tshisekedi pediu também, à semelhança do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, uma investigação para que os perpetradores dos ataques sejam “identificados e levados à justiça”. O executivo da RDCongo prometeu já fazer “todo o possível para descobrir quem está por detrás” do “vil assassínio” do embaixador italiano em Kinshasa, Luca Attanasio.
No dia do ataque, o Ministério do Interior da RDCongo acusou rebeldes hutus das Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR) de estarem por detrás do ataque resultou na morte do embaixador italiano — acusações negadas pelos rebeldes.
Numa nota enviada à agência de notícias AFP, as FDLR negaram estar “envolvidas no atentado que resultou na morte do embaixador italiano e pediram às autoridades congolesas e à missão da ONU na RDCongo (MONUSCO) “que esclareçam as responsabilidades deste ignóbil assassínio em vez de fazerem acusações precipitadas”.
O ataque à caravana do PAM teve lugar a norte de Goma, a capital da província do Kivu Norte, que tem sido flagelada pela violência de grupos armados há mais de 25 anos.Esta região, que acolhe o Parque Nacional da Virunga, uma joia natural, turística e em perigo de extinção, é também o cenário de conflito no Kivu Norte, onde dezenas de grupos armados lutam pelo controlo da riqueza do solo e subsolo.
Criado em 1925, o Parque Nacional de Virunga é Património Mundial da UNESCO. Estende-se por 7.769 km2, desde Goma até ao território de Beni, entre montanhas e florestas.O parque é guardado por 689 guardas-florestais armados, dos quais pelo menos 200 foram mortos no cumprimento do seu dever, segundo os funcionários do parque.
O nordeste da RDCongo está há anos mergulhado num conflito alimentado por dezenas de grupos rebeldes armados, nacionais e estrangeiros, apesar da presença do Exército congolês e das forças da missão da ONU no país, que conta com mais de 15.000 operacionais.