PARIS — A agressão coincide com o julgamento do atentado terrorista de 2015 contra o semanário, que deixou 12 mortos.
O chefe da Procuradoria Nacional Antiterrorista, Jean-François Ricard, confirmou que dois homens foram presos, um de 18 anos e outro de 33 anos. Principal suspeito do ataque, o jovem de 18 anos seria de origem paquistanesa e teria passagens prévias pela polícia por porte ilegal de armas e crimes comuns. Ele foi detido nos arredores da Praça da Bastilha, a cerca de 900 metros da cena do crime.
— Tendo em vista o local do ataque, em frente ao antigo prédio da Charlie Hebdo; o momento do incidente, durante o julgamento; e, enfim, a materialização dos fatos: havia um desejo manifesto de tirar a vida dessas duas pessoas, que faziam uma pausa para fumar — afirmou o procurador de Paris, Rémy Heitz, explicando o porquê do caso estar sob responsabilidade da unidade antiterrorismo.
As vítimas, que não correm risco de vida, são um homem e uma mulher, ambos funcionários da agência de notícias e produtora de TV Premières Lignes, localizada no mesmo prédio da antiga redação da Charlie Hebdo. À BFMTV, um dos donos da agência, Luc Hermann, disse que as duas vítimas foram feridas pela mesma pessoa e ainda não trabalhavam para o veículo em 2015. Ele também criticou a falta de policiamento da região após o atentado de cinco anos atrás.
— Presto minha solidariedade às famílias das vítimas e aos seus colegas de trabalho — disse o premier Jean Castex, que visitou o local do crime ao lado do ministro do Interior, Gerald Darmanin, e da prefeita de Paris, Anne Hidalgo. — Reafirmo nosso compromisso inabalável com a liberdade de imprensa, com a luta contra o terrorismo e reafirmo à nação nossa mobilização plena.
Segundo a imprensa francesa, uma faca do tipo cutelo foi recuperada nas proximidades da rua Nicolas Appert, o endereço da antiga sede da Charlie Hebdo. Outras fontes falam em um facão. Partes do 11 arrondissement foram isoladas para a operação policial, e as estações de metrô Bastille, Richard Lenoir, Bréguet Sabin, Saint-Sébastien Froissart, Chemin Vert e Saint-Ambroise tiveram suas atividades paralisadas.
Em 7 de janeiro de 2015, os irmãos Said e Chérif Kouachi invadiram a redação da revista armados com metralhadoras e assassinaram 12 pessoas, na capital francesa. Dois dias após o ataque, um outro jihadista, Amédy Coulibaly, assassinou quatro pessoas em um mercado kosher nos arredores de Paris. Antes, em uma troca de tiros, ele já havia matado uma policial. Foram 17 vítimas ao todo, além dos três terroristas que foram mortos pela polícia.
“Toda a equipe da Charlie Hebdo presta seu apoio e solidariedade aos seus antigos vizinhos e colegas da Premières Lignes e as pessoas afetadas por esse ataque hediondo”, tuitou a revista, cuja diretora de recursos humanos precisou ser evacuada de casa após receber ameaças na semana passada.
O ataque desta sexta-feira ocorre durante o julgamento iniciado no último dia 3, que põe no banco dos réus 14 pessoas, todas acusadas de dar apoio logístico aos irmãos Kouachi e a Coulibaly. O processo estava previsto para começar no primeiro semestre, mas precisou ser adiado por causa da pandemia de Covid-19. À Justiça, os suspeitos disseram que queriam se vingar pela publicação de charges do profeta Maomé, quase uma década antes.
Na véspera do início dos procedimentos, o seminário voltou a publicar charges do profeta. A capa mostra 12 charges publicadas inicialmente pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten, em 2005, e depois pelo Charlie Hebdo, em 2006. Os desenhos mostram Maomé com uma bomba no lugar de um turbante ou armado com uma faca, ao lado de duas mulheres com véu. A capa da edição seguinte do seminário exibiu a caricatura do profeta feita pelo chargista Cabu, morto no atentado.