Rodrigo Craveiro
Operação Gideão, uma tentativa frustrada de invasão marítima ao país para depor Nicolás Maduro. “Era uma exploração para ver a possibilidade de capturar e entregar à Justiça membros do regime (de Maduro), com acusações, ordens de captura, etc”, admitiu Rendón, em entrevista à rede de tevê CNN em espanhol. Ele confessou que assinou o contrato com a empresa de segurança Silvercorp, sediada na Flórida, a quem pagou um adiantamento de US$ 50 mil.
No entanto, J. J. Rendón, como é conhecido, disse que o acordo era “preliminar” e não chegou a ser cumprido. Jordan Goudreau, diretor da Silvercorp, não teria recebido “sinal verde” para a operação. O Correio tentou entrar em contato com Rendón por e-mail e por mensagens no Messenger e no Instagram. No entanto, até o fechamento desta edição, não houve resposta.
Na noite de ontem, Maduro tornou a acusar Trump pela conspiração, ao ser entrevistado pela emissora Telesur. “Ele é informado pela CIA (Agência Central de Inteligência), pelo Pentágono e pela NSA (Agência de Segurança Nacional), ao menos duas vezes por dia. O tema ‘Venezuela’ é uma obsessão para Trump”, disse, ao qualificar de “estranhamente tardias” as respostas dos Estados Unidos sobre a Operação Giderão. “É impossível que não soubessem (dos planos de invasão)”, reforçou. “Chegaram à loucura de imaginar que entrariam em nosso país e nada ocorreria. Nossa nação tem um escudo bolivariano, o qual está em alerta 24 horas por dia. Nosso povo está pronto para o combate. (…) Queriam banhar de sangue o nosso país”, acrescentou.
Maduro responsabilizou o presidente colombiano, Iván Duque, por supervisionar as operações da Silvercorp na Colômbia. E atacou o líder da oposição na Venezuela. “Guaidó preparou meu assassinato político”, disparou. O ministro da Comunicação da Venezuela, Jorge Rodríguez, anunciou a captura de 23 “terroristas” e sublinhou que Rendón reconheceu ter firmado o contrato.
O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, exortou Maduro a abandonar o poder a fim de “restaurar a democracia” na Venezuela. O chefe da diplomacia de Washington negou qualquer participação dos EUA na suposta operação, mas defendeu o fim do regime socialista. “Essa operação dos últimos dias não foi um esforço americano, mas acreditamos que Maduro deve sair”, disse a uma rádio. Dois cidadãos norte-americanos que participaram da tentativa de invasão — os veteranos de guerra Luke Alexander Denman e Airan Berry — foram capturados e deverão ser julgados em Caracas.
No fim da tarde de ontem, o Correio entrou em contato com o porta-voz de Guaidó, que se recusou a falar. “Não haverá entrevistas”, afirmou. Ele confirmou à reportagem que J. J. Rendón “tinha acesso à sala de estratégias do presidente interino (Guaidó)”. “Isso está claro”, afirmou. Mais cedo, as chamadas Forças Democráticas, integradas pelos nove maiores partidos de oposição, emitiram um comunicado em que asseguram não promover nem financiar “guerrilhas, focos de violência ou grupos paramilitares”. Também convocaram a sociedade, os civis e os militares, a lutarem pela mudança democrática. “A Venezuela não quer mais violência. A violência somente é promovida por aqueles que usurpam o poder desconhecendo que a soberania reside no povo. As forças democráticas apostam por uma saída de paz, que brinde tranquilidade e estabilidade a todos os venezuelanos e às suas famílias.”
Por telefone, Juan Palencia, deputado da Assembleia Nacional pelo partido Acción Democrática (parte das Forças Democráticas), reforçou ao Correio que a oposição “não fez nenhum tipo de incursão armada à Venezuela”. “Mesmo que ela seja justificada, pois o regime narcotraficante e terrorista de Nicolás Maduro empobrece o país a cada dia e viola os direitos humanos. Nós enaltecemos a atitude assumida por um grupo de oficiais das Forças Armadas venezuelanas que assumiram as armas para tratar de estabelecer a ordem constitucional. Enaltecemos a valentia, a coragem e o patriotismo que tiveram e pedimos que respeitem os seus direitos humanos e não sejam torturados”, declarou.
Palencia rechaçou a confissão de Rendón. “Nós, da Mesa de Unidade Democrática, não compactuamos com esse tipo de atitude, ainda que justificada. Temos que dar passos firmes, ao lado do povo, por uma estratégia inclusiva e de unidade, para se materializar o sonho da reunificação nacional e o renascimento da Venezuela livre”, acrescentou.
A Operação Gideão
Saiba detalhes da suposta conspiração contra o regime do presidente Nicolás Maduro
A escolha do nome – » Gideão (“destruidor” e “guerreiro poderoso”, em hebraico) foi o nome escolhido pelas forças do regime de Maduro para colocar fim a um grupo de militares rebeldes comandado pelo policial Óscar Pérez.
Tentativa de invasão – » Na noite de domingo, três grupos de “mercenários” — cada um com 20 pessoas — participariam da operação. Parte deles utilizou ao menos uma canoa para desembarcar em Chuao, um povoado costeiro de Chuao, no estado de Aragua (norte da Venezuela).
Confronto e prisões – » Durante a incursão marítima, forças de segurança da Venezuela frustraram a invasão e mataram oito pessoas. Pelo menos 11 militares venezuelanos e dois cidadãos norte-americanos foram capturados.
Objetivo – » Entrar em Caracas e capturar o presidente Nicolás Maduro, além dos principais dirigentes chavistas. Maduro seria transferido até Maiquetía, onde fica o principal aeroporto do país, e levado até os Estados Unidos. O plano foi revelado por Luke Denman, ex-militar das forças especiais norte-americanas.
Conexão com EUA – » A operação teria sido coordenada por Jordan Goudreau, um ex-boina verde que dirige a empresa de segurança Silvercorp, baseada em Melbourne, na Flórida. O regime de Maduro culpa diretamente o governo de Donald Trump pelo complô.
“Mercenários” americanos – » Maduro acusa os americanos Luke Denman, 34 anos, e Airan Berry, 41, de participação no complô, apresentou os passaportes de ambos e disse que eles serão julgados pela Justiça venezuelana. Sargento de comunicações das forças especiais dos EUA entre 2006 e 2011, Denman serviu no Iraque entre março e setembro de 2010 e recebeu uma medalha como paraquedista. Por sua vez, Berry foi sargento de engenharia das forças especiais dos EUA entre 1996 e 2013, e esteve no Iraqueem três ocasiões. Também recebeu várias medalhas.
Conexão Guaidó – » O Ministério Público da Venezuela apresentou fotos de um contrato supostamente assinado pelo presidente autodeclarado do país, Juan Guaidó, e por Goudreau. Segundo Caracas, Guaidó teria pago aos “mercenários” US$ 212 milhões (ou R$ 1,17 bilhão) com dinheiro “roubado da estatal petroleira venezuelana PDVSA” e das contas do governo bloqueadas pela comunidade internacional.
Conexão Colômbia –» Denman contou em interrogatório que seu trabalho envolvia o planejamento da missão e o treinamento dos mercenários em campos na Colômbia. O objetivo dele seria controlar o Aeroporto Internacional de Maiquetía para o rapto de Maduro. O presidente venezuelano acusou o colega colombiano, Iván Duque, sem fornecer mais informações.