Em entrevista exclusiva à Embassy Comunicação, o embaixador Rachid Bladehane fala do
aumento do volume de exportação, da construção de porto, da busca por investimentos no
Brasil e da parceria com a China.
A Argélia, segundo país mais populoso da África e com alto índice de desenvolvimento
humano, foi recentemente a nação em destaque na série “Oportunidades de Mercado” da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. Um dos principais produtores de hidrocarbonetos. A Argélia busca diversificar a economia, com setores prioritários para atrair investimento estrangeiro como metalurgia, eletrodomésticos e eletrônicos, indústria farmacêutica, mecânica e automotiva, entre outros. O volume de exportações quintuplicou em comparação com 40 anos atrás.
Entre as oportunidades de investimento e exportação para as empresas brasileiras na Argélia, destacam-se: alimentos e bebidas, químicos, defesa e médico-hospitalar. Para ampliar o comércio exterior, o presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, decidiu criar um Conselho Superior de Exportadores e construir um novo porto comercial.
De acordo com o embaixador Rachid Bladehane, mais de 1.300 investidores estão aguardando autorização para lançar seus projetos, que gerarão cerca de 55.000 empregos em 18 meses. Segundo o embaixador, o comércio entre o Brasil e a Argélia está em constante crescimento chegando a US$ 3 bilhões em 2022 e cerca de US$ 2 bilhões até junho deste ano. A meta estabelecida para este ano, ou seja, US$ 13 bilhões em exportações de não hidrocarbonetos, já foi alcançada.” Graças à nova política econômica, o volume de exportações quintuplicou em comparação com 40 anos atrás”. Leia agora a entrevista completa do embaixador Rachid Bladehane.
1- A Argélia é um país de destaque no evento; Oportunidades de Mercado; uma iniciativa da Câmara
de Comércio Árabe-Brasileira, com informações da área de Inteligência de Mercado da
Câmara Árabe. Quais são as oportunidades de investimento e exportação do país?
Em resposta à sua pergunta, devo dizer que a Argélia é agora uma oportunidade real para empresas estrangeiras, graças à nova lei de investimentos. Na quinta-feira, 20 de julho de 2023, o Presidente da República, Abdelmadjid Tebboune, anunciou que a China vai investir 36 bilhões de dólares na Argélia. Os investimentos abrangerão uma série de áreas, incluindo indústria, tecnologias modernas, economia do conhecimento, transporte e agricultura. A Argélia oferece inúmeras oportunidades de investimento. Em uma mensagem para o Fórum
de Negócios Argélia-China, o presidente Tebboune convidou as operadoras chinesas a investir na Argélia, onde encontrarão vantagens e facilidades.
A mensagem do presidente é um apelo às operadoras chinesas, mas também às de outros países, para que invistam na Argélia. Não há
dúvida de que a Argélia é um destino para investimentos em todos os setores. Hoje, a Argélia possui vários ativos e vantagens que a tornam um destino promissor para investimentos em áreas vitais, como agricultura, energia, agro alimentação e indústria
farmacêutica. Outras áreas em que as operadoras estrangeiras podem investir incluem turismo, transporte, serviços, energias renováveis e infraestrutura. Essa atratividade (mais de 1.300 investidores estão aguardando autorização para lançar seus projetos, que gerarão cerca
de 55.000 empregos em 18 meses) baseia-se nas decisões e medidas tomadas pelas autoridades para liberar a iniciativa e abrir caminho para a concorrência.
O objetivo é garantir altos níveis de processamento e trabalhar para desenvolver e explorar todo o potencial do setor de mineração. O objetivo é criar um clima favorável ao investimento, baseado na eficiência e na competitividade econômica. Esse objetivo envolve incentivar o empreendedorismo, a economia do conhecimento, as startups e a reforma do sistema bancário e financeiro. Com as vantagens oferecidas pelo clima de investimento da Argélia, é justo dizer que o caminho agora está aberto para que os empresários estrangeiros estabeleçam parcerias e invistam em todos os setores, de forma a beneficiarem das facilidades
concedidas aos operadores econômicos.
2- Quais são os reais benefícios da localização da Argélia e de seus portos?
Devido à sua posição geográfica, a Argélia é naturalmente uma encruzilhada entre a Europa, a África e o mundo árabe. Ela acompanha de perto os desenvolvimentos econômicos em todo o mundo e, em especial, os que atingem o continente africano. Para impulsionar o comércio regional, o governo da Argélia decidiu construir um novo porto comercial em El Hamdania, próximo a Cherchell. Quando concluído, o porto conectará a Argélia a outros países da África, Europa, Sudeste Asiático e América. Ele movimentará 6,5 milhões de contêineres e 26 milhões de toneladas de mercadorias por ano. Da mesma forma, a Argélia desempenha um papel importante e crescente no fornecimento de energia para a Europa, sem deixar de lado o mercado norte-americano altamente promissor. Além das conquistas anteriores, o país está comprometido com a implementação de projetos de grande escala em direção à Itália. A isso se soma o projeto de gasoduto para levar gás da Nigéria para a Europa, oferecendo oportunidades de investimento para empresas que operam
no setor.
3- Neste último ano, o que mudou na relação comercial da Argélia com o Brasil?
O comércio entre o Brasil e a Argélia está em constante crescimento, geralmente chegando a US$ 3 bilhões, mas este ano, em junho, já atingiu cerca de US$ 2 bilhões. Em 2022, o volume de comércio aumentou em cerca de 16,6% em comparação com 2021, e totalizou US$
3.100,879 milhões. Para o período de janeiro a maio de 2023, de acordo com a Câmara de Comércio Árabe- Brasileira, o comércio atingiu US$ 1.975.470 milhões. Com US$ 1.030.399 milhões de exportações argelinas contra US$ 1.030.399 milhões de importações argelinas do
Brasil.
As exportações argelinas registraram um aumento de 196,0% em comparação com o mesmo período de 2022. As principais razões para o aumento das exportações argelinas podem ser atribuídas ao cimento e aos pneus de borracha (produtos que nunca estiveram presentes nas exportações argelinas para o Brasil). A Argélia continua sendo o terceiro maior destino de exportação do Brasil entre os países árabes e mantém o segundo lugar como maior fornecedor do país. Os principais produtos importados pelo Brasil da Argélia são hidrocarbonetos,
fertilizantes e cimento, além de pneus e cimento, conforme mencionado acima.
4- Quantas empresas brasileiras estão sediadas ou em processo de instalação na Argélia?
Como parte da implementação da diplomacia econômica que visa promover as exportações de não hidrocarbonetos e o investimento estrangeiro direto, a WEG está investindo no setor elétrico em parceria com a CEVITAL, uma empresa privada argelina. Considerado, com razão,um dos primeiros IEDs desde a promulgação da nova lei de investimentos, esse investimento de US$ 10 milhões, em parceria com a Cevital, produzirá inicialmente 1.200.000 motores elétricos e criará 100 empregos diretos. A WEG e a Sonatrach argelina, maior empresa do segmento de Petróleo e Gás da África, fortalecem seu relacionamento com a assinatura de um MoU na Argélia.
O CEO da empresa, Harry Schmelzer Jr., esteve no país de 31 de maio a 1º de junho de 2023 para assinar o MoU, acompanhado pelo CEO da Sonatrach, Toufik Hakkar. O MoU estabelece as bases para uma estreita cooperação entre a WEG e a Sonatrach e as áreas prioritárias de cooperação incluem eficiência energética, manutenção de equipamentos elétricos, digitalização e desenvolvimento de pessoas. A colaboração entre as partes também enfatiza o desenvolvimento de conteúdo local, com o objetivo de identificar oportunidades conjuntas para desenvolver a capacidade local e promover a integração nacional. Essa aliança estratégica permitirá que a WEG fortaleça sua presença no mercado argelino e traga sua experiência e soluções tecnológicas de ponta para os projetos da Sonatrach. Em
troca, a Sonatrach se beneficiará da experiência e do know-how da WEG para otimizar suas operações e aumentar sua eficiência energética, fornecendo soluções inovadoras e ecologicamente corretas. A assinatura do MoU realizada pelos principais executivos de ambas as empresas atesta o compromisso de fortalecer a colaboração nessas áreas essenciais e a contribuição para o crescimento sustentável da indústria na Argélia.
5- Qual é a importância do apoio da APEX na relação comercial bilateral?
Em conjunto com a Algex, a APEX pode contribuir para o desenvolvimento do comércio. A criação da Agência Nacional de Promoção do Comércio Exterior (ALGEX), como parte de uma política de expansão do comércio e da integração global, tem o objetivo de fornecer apoio às exportações de não hidrocarbonetos. A Agência se reporta ao Ministro do Comércio. É evidente que uma maior sinergia entre a ALGEX e a APEX poderia incentivar mais comércio. Há três acordos de cooperação técnica no setor de artesanato com a Agência Brasileira de
Cooperação (ABC) – que planeja gastar US$ 2,6 milhões – no processamento de couro na Argélia, na transformação de rochas e minerais do Saara em artesanato, pedras preciosas e joias, o desenvolvimento de estratégias para aumentar a produção de joias na cooperativa
Tertit N Ahhagar em Tamanarasset, assinado em setembro de 2022, e um 4º projeto de acordo no capo do ecoturismo.
6- O presidente da Argélia, Abdelmadjid Tebboune, anunciou recentemente a instalação do Conselho Supremo de Exportadores, ocasião em que comemorou o aumento das exportações? Esse conselho ampliará o comércio com o Brasil?
O Presidente da República, Abdelmadjid Tebboune, decidiu criar um Conselho Superior de Exportadores o mais rápido possível, com o objetivo de melhorar a forma como suas preocupações são tratadas. É claro que essa instituição ajudará a fortalecer o comércio com
todos os países do mundo, inclusive o Brasil. Também foi tomada a decisão de acelerar o processo de abertura de zonas de livre comércio em várias wilayas que fazem fronteira com países vizinhos (Mauritânia, Mali e Níger). Esses países compartilham uma tradição de livre
comércio de produtos agrícolas com a Argélia desde 1962. Além disso, já foram tomadas medidas para abrir linhas de navegação com a Mauritânia e o Senegal a fim de apoiar o comércio continental e as exportações nacionais, com a abertura planejada de bancos
nacionais em várias capitais africanas.
Tudo isso faz parte da preocupação do Estado em fornecer apoio e assistência contínuos aos operadores econômicos geradores de riqueza, especialmente aos exportadores, que consideramos embaixadores da economia nacional; enfatizou. As exportações de não
hidrocarbonetos da Argélia não ultrapassaram 3% do total de exportações em 2018 e 2019. Hoje, elas estão em 11% e podem aumentar para entre 16% e 22% até o final de 2023 ou início de 2024. A meta estabelecida para este ano, ou seja, US$ 13 bilhões em exportações de não hidrocarbonetos, já foi alcançada.
Nossas exportações estão cada vez mais fortes. Graças à nova política econômica, o volume de exportações quintuplicou em comparação com 40 anos atrás. Essas grandes conquistas em exportações, investimentos e economia do conhecimento baseiam-se em uma abordagem global integrada para desenvolver a economia e melhorar o clima de negócios. A Argélia entrou em uma nova fase marcada por uma política de inovação, muito distante da lógica da economia rentista, que mata o espírito de iniciativa e se baseia na dependência de um barril de petróleo. Estamos otimistas quanto ao potencial das empresas argelinas no campo da exportação, onde o papel das startups está se tornando mais importante a cada dia. Também estamos claramente otimistas em relação à dinâmica positiva da atividade de exportação em nosso país, que deve impulsionar o investimento e a industrialização, criando riqueza e empregos e aumentando o PIB do país.
7- O presidente também falou sobre a abertura de novas rotas aéreas na Argélia. Houve algum progresso nesse sentido?
De fato, em julho de 2023, novas rotas aéreas serão abertas servindo as principais capitais africanas, a fim de ligar diretamente a Argélia e o continente africano; para que a Argélia não vire as costas para a África; esse aumento nos serviços aéreos se soma aos que já estão em
operação (Canadá, China) e aos que foram decididos recentemente (Caracas). No entanto, o objetivo final das autoridades argelinas é transformar nosso país em um centro internacional, dada sua posição geográfica privilegiada. A Argélia também está trabalhando para consolidar sua presença na África, principalmente por meio de quatro projetos genuínos de integração africana. São eles o projeto de conexão de fibra óptica com o Níger e a Nigéria, o gasoduto Nigéria-Europa que passa pelo Níger e pela Argélia, a exploração de gás no Níger e a linha ferroviária que ligará Argel a Bamako e Niamey.
Um dos principais produtores de hidrocarbonetos, a República Popular Democrática da Argélia busca diversificar a economia, com setores prioritários para atrair investimento estrangeiro como metalurgia, eletrodomésticos e eletrônicos, indústria farmacêutica, mecânica e
automotiva, entre outros. Entre as oportunidades de investimento e exportação para as empresas brasileiras na Argélia, destacam-se: alimentos e bebidas, químicos, defesa e médico-hospitalar.