Cinco das 30 plantas que exportam carne de frango para o país árabe sofrem sanção. Motivos oficiais para boicote são desconhecidos, mas Liga Árabe garante que a retaliação tem viés político contra o governo Bolsonaro
Hamilton Ferrari
Antes mesmo de se concretizar a troca da embaixada brasileira em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém, a economia brasileira começa a sofrer as consequências. A Arábia Saudita — um dos principais compradores de proteína animal do Brasil — anunciou sanções a cinco frigoríficos de carne de frango no país. De acordo com o secretário-geral da Liga Árabe, Arm Moussa, a retaliação tem viés político contra o governo de Jair Bolsonaro.
A lista de estabelecimentos descredenciados pelos árabes foi divulgada ontem e repercutiu negativamente entre os investidores brasileiros. Das 30 plantas brasileiras que estavam exportando carne de frango à Arábia Saudita, cinco foram barradas. A retaliação incluiu frigoríficos da BRF, que viu suas ações tombarem mais de 5%. Apesar de os motivos oficiais não terem sido divulgados, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informou, em nota, que houve uma sanção com base em “avaliações técnicas”.
Moussa sinalizou o contrário: “O mundo árabe está enfurecido”. “Essa é uma expressão de protesto contra uma decisão errada por parte do Brasil. Muitos de nós não entendemos o motivo pelo qual o novo presidente do Brasil trata o mundo árabe desta forma”, disse o secretário-geral da Liga Árabe. Até então, o país adotava uma posição neutra aos conflitos entre israelenses e palestinos na região. Seguindo os passos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Bolsonaro anunciou a medida logo após sua eleição para o cargo.
A Liga Árabe já havia alertado ao governo brasileiro para que respeitasse “o direito internacional” e mudasse de ideia ao tentar alterar a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém. Após as sanções, o presidente em exercício, Hamilton Mourão, disse que a possibilidade de troca da embaixada não deveria ser motivo para um embargo do país árabe, já que não foi concretizado. “A embaixada não está mudada ainda, o pessoal está se antecipando ao inimigo”, criticou. Ele não disse, porém, se haverá alteração. “Vamos aguardar”, completou.
Os países árabes são o segundo maior mercado de proteína animal do Brasil. Segundo José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a decisão da Arábia Saudita é negativa para o Brasil e, se for efetivamente política, o governo federal terá que repensar as decisões para o comércio exterior não perder espaço na economia global.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores informou que avalia o impacto econômico do descredenciamento dos frigoríficos. A assessoria de imprensa da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informou, em nota, que planos de ação corretiva estão em implementação para a retomada das autorizações. O Ministério da Agricultura não se posicionou sobre as declarações do secretário-geral da Liga Árabe até o fim desta edição.
Em entrevista ao Correio, na última semana, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que havia uma preocupação dos árabes com as políticas adotadas pelo atual governo, mas que estava confiante de que tudo poderia dar certo nas negociações. “Conversamos com autoridades dos Emirados Árabes. O Brasil sempre vai ser um parceiro muito importante para quem precisa de alimentos. Os países árabes são grandes importadores de aves. Houve uma preocupação, mas nenhum boicote. Nós estamos sentando e conversando, mas acredito que tudo vai caminhar bem”, completou.