“O apelo a boicotes de produtos de qualquer Estado-membro é contrário ao espírito das obrigações [da Turquia] e afasta cada vez mais a Turquia da UE”, referiu o porta-voz da Comissão Europeia com a pasta da gestão de crises, Balazs Ujvari, em conferência de imprensa.
Sublinhando que os “acordos da UE com a Turquia preveem a livre circulação de mercadorias”, Balazs referiu também que “as obrigações bilaterais com que a Turquia se comprometeu […] devem ser respeitadas”.
O anúncio foi feito após o Presidente turco, Recep Tayip Erdogan, ter apelado, na segunda-feira, ao boicote de produtos franceses, juntando-se assim a um movimento que surgiu nas redes sociais de vários países muçulmanos e que já levou a que certos produtos franceses fossem retirados das estantes de supermercados em países como o Qatar ou o Koweit.
“Peço ao meu povo que não confiem em produtos com uma etiqueta francesa, não os comprem”, afirmou Erdogan durante um discurso transmitido na televisão turca.O apelo de Erdogan foi feito horas após o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês ter referido, em comunicado, que o boicote de produtos franceses “distorce as posições defendidas pela França em apoio da liberdade de consciência e de expressão”.
As tensões entre Ancara e Paris têm aumentado desde que Emmanuel Mácron declarou que iria lutar contra o que apelidou de “separatismo islamismo”, após o assassínio do professor Samuel Paty, em Conflants Saint Honorine. No passado sábado, Erdogan questionou a “saúde mental” de Emmanuel Macron, tendo a França, em resposta, chamado o seu embaixador em Ancara.
Face à disputa entre a Turquia e a França, a maioria dos líderes europeus e dos chefes de Estado e de governo da UE têm manifestado apoio ao governo francês. O primeiro-ministro, António Costa, publicou na segunda-feira uma mensagem na rede social Twitter em que sublinha a sua “inteira solidariedade ao Presidente Emmanuel Macron”.
“Expresso a minha inteira solidariedade ao Presidente Emmanuel Macron na defesa das liberdades fundamentais em França, face à retórica de confronto que visa também o modelo europeu de tolerância”, afirmou António Costa no ‘tweet’.