Número de cristãos protestantes cai já é 10% menor em quase 30 anos. Igreja prepara-se para um futuro com poucos fiéis – o que também significa menos rendimentos.
Neste 31 de outubro a Alemanha celebra os 500 anos da Reforma Protestante. Em 1517, o então padre católico Martinho Lutero publicou as suas 95 teses que criticavam duramente a Igreja Católica. Após ser expulso do catolicismo, Martinho Lutero tornou-se o fundador do movimento cristão protestante. Atualmente, há mais de 800 milhões de protestantes no mundo. Mas entre os alemães, o número de fiéis está a diminuir.
Na famosa igreja de Santa Maria, em Wittenberg, no centro do país, não parece que o Protestantismo está em crise. Pelo menos 70 pessoas participam do culto ao meio-dia. A maioria dos fiéis são turistas que viajam até Wittenberg especialmente para visitar a igreja. Martinho Lutero costumava pregar neste lugar, onde também ocorreu a primeira celebração protestante. A igreja é orgulhosamente chamada de “Igreja Matriz” da Reforma.
A poucos passos de Santa Maria, a praça do mercado de Wittenberg também é outro lugar importante na cidade. Em destaque, no meio da praça, está uma grande estátua de Lutero, com uma Bíblia nas mãos. Herbert Schicke vende cerveja neste local também muito frequentado por turistas, mas não compartilha da mesma fé que muitos visitantes do local.
“Todo ser humano deve acreditar em alguma coisa. Algumas pessoas acreditam em Deus, outras no dinheiro. Mas quando a fé torna-se religião, é perigoso”, pondera o vendedor que diz não seguir nenhuma igreja cristã. “Sou um pagão no sentido clássico da palavra”, afirma.
“O fim do luteranismo?” A maioria dos quase 50 mil residentes de Wittenberg deve ser da mesma opinião. Apenas 12% da população é cristã, apesar de a cidade ter sido o berço da Reforma Protestante. Na cidade, Martinho Lutero terá publicado as suas famosas 95 teses que criticavam o catolicismo – em particular a venda de indulgências, que seria o pagamento de dinheiro à Igreja em troca da remissão de pecados.
Wittenberg apresenta uma exposição especial para celebrar o seu famoso filho. Entre os objetos em exibição, o manto de Martinho Lutero. Mas poucas pessoas visitam a mostra.A exposição foi curada pelo teólogo protestante Benjamin Haselhorn, que acabou de publicar um livro intitulado “O fim do Luteranismo?”. O teólogo diz estar preocupado com o futuro do protestantismo.
“Tenho 31 anos de idade e conheço poucas pessoas que frequentam a igreja regularmente. Conheço muitas que deixaram a igreja. Quando os nossos pais e avós morrerem, não sei quem restará para formar uma congregação. A continuar assim, a Igreja Protestante será um pequeno grupo no futuro”.
Poucos fiéis e menos renda – Em 1990, quase 37% dos alemães eram protestantes. Agora, só 27% ainda são membros da igreja. Mais de oito milhões de pessoas morreram ou deixaram a Igreja Protestante desde aquele ano. Isso também significa que a igreja perdeu muita renda.
Na Alemanha, todos os membros registados devem pagar uma contribuição obrigatória à sua igreja. O montante é automaticamente deduzido do salário de cada trabalhador declarado protestante. Então, menos membros significa menos dinheiro. Johannes Block, pastor da igreja de Santa Maria, diz já sentir os efeitos da diminuição de protestantes.
“Estamos a enfrentar o impacto de menos fundos no momento. Tanto é que um dos meus colegas saiu e teremos que continuar com apenas dois pastores. O número de funcionários de tempo integral vai diminuir cada vez mais no futuro”, relata o pastor. Segundo Block, os “membros da Igreja terão que redescobrir o princípio do sacerdócio universal. Eles terão que viver sua fé com menos empregados e pastores em tempo integral”.
Mudanças mais radicais – Durante séculos, os protestantes na Alemanha encontravam facilmente um pastor na sua comunidade. Mas isso está a mudar. Em todo o país, as autoridades protestantes fecharam igrejas e reuniram congregações locais. O número de pastores também deverá encolher. Os dois pastores em Wittenberg, por exemplo, não cuidam apenas de Santa Maria. Eles também atendem a várias outras igrejas. Ao todo, a paróquia tem cerca de 3.800 membros.
O pastor Johannes Block diz que as mudanças mais radicais ainda estão por vir. “Penso que a igreja criará mais em congregações locais. E suponho que cristandade vai se retrair para as cidades maiores. Os cristãos vão se reunir em torno dos ministros ou bispos locais”, estima.
Apesar da perspetiva, Johannes Block acredita que as mudanças poderão fazer bem para a Igreja. “Seremos menores em números, mas acho que também seremos mais relevantes e talvez um pouco mais alegres, porque poderemos deixar muitas preocupações e muitos deveres”.