A primeira edição do “Prêmio Mulheres Rurais – Espanha Reconhece” foi vencida por coletivos de produtoras de Alagoas, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. A cerimônia de premiação foi no dia 28, na embaixada da Espanha, em Brasília, comandada pelo embaixador Fernando Garcia Casas. Nesta data celebra-se o Dia Nacional das Mulheres Rurais. Foram recebidas 482 inscrições de projetos de mulheres que trabalham pela autonomia econômica das produtoras, mas apenas três foram premiados e sete receberam menção honrosa.
O concurso é uma parceria entre a Embaixada da Espanha, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), ONU Mulheres e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura distribuiu R$ 35 mil em prêmios para agricultoras. O objetivo do concurso é dar destaque às experiências que incentivem a autonomia econômica das mulheres rurais para promover a igualdade de gênero, aumentar a visibilidade delas e valorizar a diversidade como matriz do desenvolvimento econômico, social e cultural. Na América Latina, estima-se que cerca de 40% das mulheres que vivem no campo não têm renda própria. No caso dos homens, são 14% nesta situação.
As vencedoras receberam valores destinados a melhorar os seus empreendimentos. O primeiro lugar recebeu R$ 20 mil, o segundo, R$ 10 mil e o terceiro, R$ 5 mil. Além dos recursos financeiros, a premiação inclui assessoria para os negócios, capacitação e equipamentos.
Lançado em outubro do ano passado no Brasil, no marco do Dia Internacional das Mulheres Rurais (15/10), o prêmio recebeu 482 inscrições de coletivos de mulheres que trabalham pela autonomia econômica das produtoras. Foram inscritos projetos de agricultoras, pescadoras, indígenas, quilombolas e extrativistas de todos os estados brasileiros, principalmente dos estados do nordeste, que têm grande parte do território inserido no semiárido, que concentra elevados índices de pobreza rural.
Contexto – As mulheres produzem cerca da metade dos alimentos e representam 43% da mão de obra agrícola, mas ainda têm seu papel e importância negligenciados e estão fora dos principais espaços de decisão. No geral, as mulheres no campo também têm mais dificuldade de acesso à terra, ao crédito e a cadeias de alto valor, essenciais para sua subsistência e para o bem-estar das comunidades.
Trabalhar pela igualdade entre mulheres e homens no campo, reconhecendo o papel delas como beneficiárias e agentes para o desenvolvimento sustentável, é fundamental para o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU.
“A Covid 19 mostrou que as crises são sofridas com particular incidência pelos grupos mais desfavorecidos, como mulheres e meninas. Quero destacar o compromisso da Espanha nesta área. Somente a liderança feminina e a participação das mulheres em igualdade de condições na vida política, econômica e social alcançarão a verdadeira transformação de nossos países. Não devemos esquecer que feminismo, paz e justiça social são inseparáveis”, disse o embaixador da Espanha no Brasil, Fernando Garcia Casas. “A maior semente transformadora do campo é a igualdade”, completou.
Segundo o embaixador, a Espanha e a União Europeia não estão alheias aos problemas enfrentados pelas mulheres no mundo rural; e um olhar atento revela a força invisível do trabalho da mulher nas zonas rurais brasileiras. “Há muitas ações femininas que associam biodiversidade com economia circular para gerar renda de forma resiliente e sustentável, e à proteção da biodiversidade”, comentou.
Em sua fala, a representante da ONU Mulheres no Brasil, Anastasia Divinskaya, chamou a atenção para a falta de reconhecimento ao trabalho das trabalhadoras do campo. “É imprescindível que se invista na autonomia econômica das mulheres rurais, de forma a promover o trabalho decente e o acesso equitativo a recursos, bem como proteção de seus direitos ao incentivar sua liderança e participação na construção de leis e políticas que afetam as suas vidas”, comentou.
“As mulheres rurais têm um papel central para a agricultura mundial e ainda sim possuem acesso limitado a terras, água e renda, o que é uma violação dos seus direitos humanos básicos. Isso é consequência da falta de reconhecimento do trabalho, muitas vezes não remunerado, desempenhado por essas mulheres, o que leva a sua invisibilização e desvalorização” afirmou a representante da ONU Mulheres.
“Fortalecer a liderança feminina no campo e desenvolver ações afirmativas é chave para um mundo pós-pandemia com maior promoção da autonomia econômica, eliminação da pobreza, aumento da produtividade, igualdade de acesso aos mercados e maior segurança alimentar e nutricional. Só assim seremos capazes de transformar verdadeiramente nossos sistemas agroalimentares”, explicou o representante adjunto da FAO no Brasil, Gustavo Chianca.
Coletivos vencedores
1º Lugar – Mulheres em Ação de Jequiá da Praia (Jequiá da Praia/AL)
O grupo formado por 50 mulheres articula um empreendimento sustentável voltado para a melhoria da qualidade de vida de pescadoras, marisqueiras e artesãs nas comunidades ribeirinhas. Uma de suas atividades é o reaproveitamento do resíduo do siri, que promove a segurança alimentar e tornou-se fonte de renda e referência no município. O projeto também contribui para despoluir a lagoa de Jequiá por meio da coleta dos resíduos. “Ainda não estou acreditando que ganhamos esse prêmio”, confessou Eliane Faria de Souza, de 41 anos
2º Lugar – Associação Comunitária dos Produtores Panelinhenses (Miravania/MG)
Por meio da colheita de frutas e da produção artesanal de alimentos como sucos, queijo e doces, a associação de dez mulheres fortalece a economia local e contribui para reduzir a insegurança alimentar de dezenas de famílias. Além da oportunidade da geração de renda, o empreendimento incentiva mudança de hábitos alimentares e promove práticas sustentáveis no reaproveitamento das sementes das frutas. “Fiquei muito surpresa. Inscrevemos-nos com a ajuda de um amigo e da Emater, mas não esperava estar entre as vencedoras”, disse Marineide Alves Santos, de 41 anos.
3º Lugar – Associação das Mulheres da Terra (Terenos/MS)
Com olhar inovador para a realidade do desperdício de alimentos durante a pandemia, o grupo de 30 mulheres se uniu para discutir as possibilidades de transformar o desperdício de frutas, legumes e verduras que acontece no hortifrúti em oportunidade. A iniciativa virou fonte de renda para as mulheres engajadas no projeto e hoje conta com a participação de 20 famílias que trabalham para o reaproveitamento de alimentos. “O valor que recebemos é importante para o projeto, mas ainda mais importante é o reconhecimento que pode chegar a ser internacional”, constatou Dalvina Helena Souza, de 59 anos. “A visibilidade é o que nos causa mais emoção”, completou Cleonilda Rodrigues, de 50 anos. Elas contaram que pretendem usar o dinheiro do prêmio para adquirir um ar condicionado para o local de trabalho e investir em serviço social.
Menções – Sete coletivos finalistas receberam uma menção especial e terão direito a um curso, na modalidade ensino à distância, voltado para o empoderamento pessoal e econômico das mulheres rurais – por parte da OEI, um certificado de reconhecimento internacional e publicações técnicas das instituições promotoras relacionadas às questões de gênero, igual que todas as iniciativas válidas apresentadas.
Os coletivos são os seguintes: Rede Mães do Mangue (PA), Guardiãs do Cacau (PA), Sacolas Camponesas (PR), Mulheres do GAU – Agricultura e Culinária Orgânica (SP), Empório da Chaya (RJ) Mulheres quilombolas: luta e resistência no Quilombo Peropava (SP), Produção Artesanal de Azeite de Babaçu: Grupo de Mulheres e Extrativistas de Centro do Coroatá (MA).