José Eustáquio Diniz Alves
O Brasil é um país que conseguiu a Independência em 1822 e que apresentou grande crescimento da renda per capita ao longo do século XX, até 1980. O Vietnã é um país que passou a maior parte dos séculos XIX e XX sobre o domínio ou da França, ou do Japão ou dos Estados Unidos. A República Socialista do Vietnã foi criada em 1976 e enfrentou diversos erros na administração do país até meados da década de 1980. Contudo, após as reformas econômicas e políticas em 1986, o país iniciou um rápido crescimento econômico que tem permitido o aumento da renda per capita e a melhoria das condições de vida do povo vietnamita.
A renda per capita do Brasil (em preços constantes e em poder de paridade de compra – ppp) era de US$ 11,1 mil em 1980 e passou para US$ 14,4 mil em 2018, um crescimento de somente 0,68% ao ano, segundo dados do FMI. No mesmo período a renda per capita do Vietnã passou de US$ 1 mil em 1980 para US$ 6,7 mil em 2018, um crescimento de 5,1% ao ano. A renda per capita da população brasileira era 11 vezes maior do que a da população vietnamita em 1980 e somente 2,2 vezes em 2018, como pode ser visto no gráfico acima.
O gráfico também mostra uma projeção até meados do século XXI, com base no desempenho da renda per capita brasileira (0,68% ao ano) e da renda per capita vietnamita (5,1% ao ano), no período 1980-2018. As linhas pontilhadas mostram a projeção da renda per capita dos dois países. Nota-se que no ano 2037 o Vietnã (com US$ 17,4 mil) ultrapassará a renda per capita do Brasil (com US$ 17,2 mil). Em 2050, a projeção indica uma renda per capita de US$ 33,1 mil no Vietnã e uma renda per capita de US$ 18,8 mil no Brasil. Ou seja, a população vietnamita terá uma renda per capita 76% superior à renda brasileira.
Se o Vietnã ultrapassar o Brasil, em termos de renda per capita, nos próximos 20 anos será um acontecimento e tanto para o país asiático e refletirá o fato de que o Brasil ficou realmente preso na “armadilha da renda média”. O fato é que o Brasil, entre 1900 e 1980, crescia muito, enquanto o Vietnã – que estava dominado pela França e em guerra contra o Japão e os Estados Unidos – se mantinha um país pobre e atrasado. Mas os papéis se inverteram. O Brasil teve uma década perdida no período 1981-1990, quando o crescimento do PIB ficou abaixo do crescimento da população, apresentou baixo crescimento econômico entre 1991 e 2010 e teve uma nova década perdida na atualidade (2011-2020).
Enquanto isto, do outro lado do mundo, o Vietnã manteve um crescimento do PIB acima de 6% ao ano desde meados da década de 1980. O exercício da projeção acima indica que mantida as tendências entre 1980 e 2018, ceteris paribus, o Vietnã vai conseguir subir para o grupo de países de alta renda, enquanto o Brasil continuará sendo um país de renda média e crescendo menos do que o ritmo mundial. O Brasil vai se empobrecer em termos relativos se consolidando como nação submergente em relação à média do mundo.
O gráfico ao lado, com dados da Organização Mundial de Comércio (WTO), mostra que houve uma mudança muito grande na competitividade das duas economias. Entre 1983 e 1987 as exportações brasileiras na casa de US$ 25 bilhões eram mais de 30 vezes superiores às exportações do Vietnã, que estavam abaixo de US$ 1 bilhão. Esta diferença foi caindo rapidamente e, em 2011, o Brasil, com exportações de US$ 256 bilhões, teve receita 2,6 vezes superior aos US$ 97 bilhões do Vietnã. Mas em 2017 houve empate e, em 2018, o Vietnã com exportações acima de US$ 240 bilhões superou o Brasil com US$ 239,5 bilhões.
Neste quadro diferenciado, o Brasil será um país sem futuro de prosperidade, pois está sendo ultrapassado por países com muito menores recursos naturais e humanos e está preso à “armadilha da renda média”. Só haverá futuro se houver mudanças das tendências apresentadas nas últimas 4 décadas.Para sair desta pasmaceira, o povo brasileiro precisa “levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”, como dito na música de Paulo Vanzolini.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte:www.ecodebate.com.br