A mais recente, com 50 metros de profundidade, foi descoberta por uma equipe de televisão local e levou mais uma vez cientistas à área. “O que vimos é surpreendente por seu tamanho e grandeza. São as forças colossais da natureza que criam esses objetos”, disse ao jornal Siberian Times Evgeny Chuvilin, pesquisador do Instituto Skolkovo de Ciência e Tecnologia, que participou da expedição científica.
Segundo a imprensa local, esta é a “mais impressionante” das 17 crateras que apareceram nesta região nos últimos anos. “Isso é algo único, guarda várias informações científicas que ainda não estou pronto para divulgar”, disse o geólogo Vasily Bogoyavlensky, do Instituto Russo de Pesquisa de Petróleo e Gás em Moscou, em entrevista para a rede de televisão Vesti Yamal.
Como elas se formam – Ele explicou ainda que as crateras, chamadas pelos cientistas de hidrolacólitos, de acordo com um relatório do Instituto de Ciência e Tecnologia Skolkov, aparecem como decorrência do derretimento de uma camada de gelo até então perene, conhecida como permafrost, e a consequente liberação de gás metano que estava sob a superfície do gelo.
O permafrost é encontrado em regiões muito frias do planeta. É composto por terra, sedimentos e rochas permanentemente congelados – mas isso tem mudado com as mudanças climáticas e o aquecimento global.
Durante esse processo, em seu interior são formadas áreas saturadas de gases, que, com o derretimento do gelo, são liberados na atmosfera – deixando um buraco para trás. “Em um sentido literal, (a cratera) é um espaço vazio preenchido com gás de alta pressão e se forma quando a camada de gelo na tampa se solta”, disse ele.
No caso da Sibéria, a extração de gás das vastas reservas Yamal, além das mudanças climáticas, pode contribuir para que o fenômeno aconteça, acrescenta Bogoyavlensky.
Cratera guarda informações sobre o clima de 200 mil anos atrás
Por conta da saída de gás, o surgimento dessas crateras está muitas vezes associado a grandes explosões, segundo o Siberian Times.
Uma porta para o passado – Ainda de acordo com a imprensa russa, os grandes buracos representam uma rara oportunidade de se olhar para o passado, o presente e o futuro ao mesmo tempo. As camadas de sedimentos expostas revelam como era o clima na região há cerca de 200 mil anos, um registro geológico que pode ajudar a entender como será a adaptação da região ao aquecimento global no futuro.
E, ao mesmo tempo, o crescimento potencial da cratera pode ser um indicador imediato do impacto crescente da mudança climática no permafrost.
Em algumas crateras previamente descobertas, a parede cresceu em média 10 metros por ano – nos anos mais quentes, aumento foi de até 30 metros
O processo que levou ao aparecimento dos hidrolacólitos remonta à década de 60, como explicou Julian Murton, professor da Universidade de Sussex, na Inglaterra, em entrevista à BBC.
O rápido desmatamento na região deixou o terreno sem a proteção das sombras das árvores nos meses de verão. Assim, os raios de sol aqueceram o solo e aceleraram o processo de degelo, uma vez que era a vegetação que mantinha o solo resfriado. “Esta combinação de menos sombra e transpiração levou a um aquecimento da superfície”, afirma.
Com o derretimento do permafrost, é possível que venham a surgir mais crateras como também lagos e bacias hidrográficas. Para o professor, “à medida que o gelo derrete em novas profundidades, podemos ver o surgimento de paisagens novas”.