Rachel Alves Nariyoshi
Já era esperada a estiagem na Serra Gaúcha provocada pelo fenômeno La Niña, que esteve presente durante a primavera e segue esquentando o verão, com ocorrência de altas temperaturas e chuvas abaixo da média.
Após o período de dormência das videiras no rigoroso inverno da Serra Gaúcha e após a brotação com uma boa fase de chuvas (que contribuiu para a formação dos cachos), o processo final de maturação das uvas depende de um esperado período de poucas chuvas levando à qualidade física e fitossanitária da safra. Mas não é só isso. A pouquíssima água que cai do céu traz, também, doenças às videiras.
Assim, o Boletim Agrometeorológico da Serra Gaúcha, edição de janeiro de 2022, que tem como autores Amanda Junges do Seapdr, Henrique Pessoa e Lucas Garrido, da Embrapa Uva e Vinho, vem informar e ajudar o vitivinicultor a superar a seca que assola a região – o boletim está disponível no site da Embrapa Uva e Vinho.
Segundo a Doutora Amanda Junges, os valores de precipitação pluvial (chuva) em novembro e dezembro foram muito abaixo das médias históricas: “Em novembro, em Bento Gonçalves, choveu apenas 38 mm, o que correspondeu a 27% das médias históricas e em dezembro, novamente os valores foram baixos, com 31 mm”. Por conta da pouca chuva, o Boletim Agrometeorológico reforça a importância dos viticultores analisarem seus vinhedos prejudicados pela falta de chuvas e realizarem ações que garantam maior disponibilidade hídrica às videiras, tais como a manutenção da cobertura do solo, a redução da carga de frutas, redução da superfície foliar por exemplo.
Cada parreiral é único em seu terroir considerando o tipo do solo, a profundidade das raízes e das condições da parreira. Assim, é importante não apenas garantir a sanidade da safra, mas de todo o parreiral. Lembrando aqui que, diferentemente dos parreirais novos, parreiras mais antigas resistem melhor à falta de chuva.
No aspecto fitossanitário, em função do prognóstico climático dos próximos meses, o pesquisador Lucas Garrido recomenda a “aplicação de produtos à base de cobre para proteção das videiras, que são facilmente infectadas pelo agente Míldio. Os produtores também devem considerar práticas como desponte e poda verde para o controle mais efetivo das doenças”, orienta Garrido.
Por conta da estiagem que vem assolando a Serra Gaúcha, a safra de uvas de 2022 deverá ter menor volume do que a de 2021, porém com a mesma qualidade, pois em anos mais secos as safras são melhores. Os primeiros carregamentos de uvas que chegarão às vinícolas são as de maturação precoce, das variedades Chardonnay e Pinot Noir, que são utilizadas para elaboração de vinhos espumantes. E já é notório que o vinho espumante é o case de sucesso do Brasil.
O presidente da Cooperativa Vinícola Garibaldi, Oscar Ló, diz estar otimista com relação à qualidade da safra, muito embora considere a realidade de terroirs diferenciados das 430 famílias associadas que possuem áreas de cultivo em diversos microclimas dentro da Serra Gaúcha, “Alguns sentiram mais os efeitos da estiagem e outros menos. Desde o dia 5 de janeiro, 230 mil quilos de uvas já chegaram à Cooperativa Vinícola Garibaldi e ao longo do verão, a safra começa a se intensificar. Em 2021, havíamos recebido quase 31 milhões de quilos de uvas, mas agora, com a estiagem, faço uma estimativa de recebermos em torno de 25 milhões de quilos.” Mesmo com esse volume reduzido, a Cooperativa Vinícola Garibaldi tem projeção de elaborar em 2022 quase 5 milhões de Garrafas de vinhos espumantes e 2 milhões de garrafas de vinhos tranquilos.
E nós consumidores, do lado de cá, contamos com a qualidade da safra 2022 e esperamos vinhos de excelente qualidade.
Tim-tim ao vinho nacional!