Rodrigo Craveiro
Mao Tsé-tung (1893-1976), fundador da República Popular da China e apelidado de “O Grande Timoneiro”, tinha uma visão pragmática e pouco romântica do sistema econômico que ajudara a implantar. “O comunismo não é amor. O comunismo é um martelo que usamos para esmagar o inimigo”, afirmou. O objeto estampa a bandeira da China e o emblema do Partido Comunista Chinês (PCC), uma superentidade política que reúne 92 milhões de membros e comanda o destino de 1,4 bilhão de cidadãos. Na véspera de completar um século de existência, o PCC busca se moldar aos desafios dos tempos modernos, como o avanço do capitalismo e a disputa por espaços na geopolítica. O partido foi fundado clandestinamente na antiga concessão francesa de Xangai, em julho de 1921. Mao decidiu que o aniversário seria comemorado sempre em 1º de julho.
Para celebrar a data, o presidente da China e secretário-geral do PCC, Xi Jinping, entregou uma medalha de honra a 29 integrantes do partido e fez um apelo aos chineses. “Dediquem tudo, até mesmo sua preciosa vida à causa do partido e do povo. Esforcem-se, de modo obstinado e incessante, pelos ideais e crenças do partido. Todos os camaradas do PCC devem considerar a crença no marxismo e no socialismo com características chinesas como seus objetivos de vida. Sempre acreditar no partido e amá-lo”, declarou Xi, cujo pensamento foi alinhado ao de Mao durante o 19º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, em 2017. O presidente chinês busca “corrigir” a visão corrente sobre a história do PCC.
Segundo a agência de notícias estatal chinesa Xinhua, as celebrações pelos 100 anos do PCC ocorrerão, às 8h de amanhã (21h de hoje em Brasília), na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) — no local, em 4 de junho de 1989, tanques e tropas reprimiram um protesto pró-democracia, deixando centenas de mortos. O ponto alto das comemorações do aniversário será um novo discurso de Xi. A ascensão do PCC custou muitas vidas inocentes. A maioria dos estudiosos em história chinesa estima entre 40 milhões e 70 milhões o total de mortos em decorrência da política do partido desde a chegada ao poder, em 1949. Foram vítimas dos expurgos, da “Grande Fome” (1958-1962) causada pelo “Grande Salto para a Frente” (campanha de desenvolvimento econômico a marcha forçada), da repressão no Tibete, da Revolução Cultural e do massacre da Praça da Paz Celestial.
Com a economia em franca expansão e após quatro décadas de crescimento, a China começou a se abrir ao capitalismo, em um modelo que ficou conhecido como “socialismo com características chinesas”. Hoje, a China é a segunda maior potência econômica do planeta, com um Produto Interno Bruto (PIB) estimado em US$ 25,36 trilhões (cerca de R$ 125,7 trilhões) e tem mais bilionários do que os Estados Unidos.