Nayib Bukele, presidente de El Salvador, anunciou que seu país irá reconhecer legalmente o uso da criptomoeda Bitcoin. Se o seu plano ganhar apoio do Congresso, a nação da América Central será a primeira do mundo a adotar formalmente a moeda digital.
O Bitcoin poderia, então, ser utilizado para transações junto com o dólar americano, que é a moeda oficial de El Salvador. Bukele entende que o Bitcoin permitirá aos salvadorenhos que vivem no exterior enviarem dinheiro aos amigos e familiares no país de forma mais fácil.
“No curto prazo, isso vai gerar empregos e ajudar a proporcionar inclusão financeira a milhares de pessoas fora da economia formal”, discursou Bukele em uma conferência sobre Bitcoin na Flórida, nos Estados Unidos. O presidente acredita que a medida pode impulsionar o investimento no país.
Ele ainda disse que enviaria a proposta de mudança na legislação ao Congresso na próxima semana. Caso seja aprovada, a medida abrirá os serviços financeiros para 70% dos salvadorenhos que não têm conta em banco, calcula o presidente.
A economia de El Salvador depende fortemente de remessas de dinheiro enviadas de outras partes do mundo, que representam cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Mais de dois milhões de salvadorenhos vivem no exterior, mas continuam a manter laços estreitos com seu local de nascimento, enviando de volta mais de US $4 bilhões (R $20 bilhões) a cada ano.
Os serviços bancários disponíveis atualmente podem cobrar taxas por essas transferências, que chegam a levar dias para serem efetivadas. Muitas vezes, o dinheiro precisa ser retirado pessoalmente, nas agências físicas das instituições financeiras. “Isso vai melhorar a vida e o futuro de milhões”, prevê Bukele.
O presidente não deu mais detalhes sobre como a política funcionaria na prática. O Bitcoin, uma das criptomoedas mais conhecidas e utilizadas, passou por grandes flutuações de valor ao longo dos últimos anos. Por ora, a maioria dos bancos centrais do mundo está estudando a possibilidade de desenvolver suas próprias moedas digitais. Em abril, o Banco da Inglaterra, por exemplo, anunciou que avalia a criação de um modelo financeiro digital que existiria junto com o dinheiro e os depósitos bancários convencionais.
Um passo único e ousado – O jornalista Will Grant, correspondente da BBC no México e na América Central, analisa o que o anúncio de Bukele pode significar: “O plano divulgado pelo presidente Nayib Bukele tornaria a pequena nação centro-americana a primeira do mundo a adotar oficialmente moeda digital, o Bitcoin.
Seria um passo único e ousado, o primeiro de um país soberano, e isso pode ser um atrativo do governo de Bukele, um jovem líder que sabe usar muito bem as redes sociais e a mídia, é muito popular e preocupa os Estados Unidos com suas tendências cada vez mais autocráticas.
Ainda há muitas dúvidas sobre como o dinheiro digital se tornaria uma moeda legalizada no país. Seria necessária uma grande reforma na infraestrutura financeira em El Salvador com o Bitcoin em seu âmago. Mas, em essência, parece que é isso mesmo que Bukele está propondo.
Grande parte da economia em desenvolvimento de El Salvador é baseada em remessas do exterior e a mudança para uma moeda digital pode permitir que os membros da família evitem as altas taxas cobradas no envio de dinheiro para casa todos os meses.
De qualquer forma, esse é um movimento que provavelmente reforçará a imagem do Bitcoin como a ‘moeda do futuro’ e a posição do presidente Bukele entre seus partidários como um inovador.
Controvérsias e alternativas – Roger Ver, do site Bitcoin.com, disse à BBC que, nessa proposta salvadorenha, outras criptomoedas fariam um trabalho muito melhor do que o Bitcoin. “São notícias fantásticas para todas as criptomoedas em geral, mas o que a maior parte do mundo não percebe é que o Bitcoin não opera mais como moeda”.
“Outras opções, como Bitcoin Cash, Monero ou ZCash, funcionam muito melhor como moedas”. “O Bitcoin pode processar apenas cerca de três transações por segundo. Não há como uma rede que consegue lidar somente com esse volume de transações se transformar em dinheiro para o mundo inteiro.” Outras criptomoedas também seriam mais vantajosas para as remessas do exterior, pois elas cobram menos que o Bitcoin por isso, compara Ver.