O Irã não apoia a solução de dois Estados, sabemos que os países europeus e algumas resoluções das Nações Unidas apelam à solução de dois Estados, mas o Irã considera que qualquer prática que ajude os palestinianos a terem o seu Estado não terá a oposição do Irã”, indicou em entrevista à Lusa o embaixador da República Islâmica em Lisboa.
“Não significa que apoiemos a solução de dois Estados, antes que qualquer passo na direção do estabelecimento de um Estado palestiniano será também bem-vindo pelo Irã. Isso deverá conduzir à soberania total dos palestinianos sobre as suas terras e livres da ocupação”, disse.
A nível oficial Teerã não reconhece Israel, e como especifica o embaixador: “Para nós tudo o que está sob ocupação são terras palestinianas”. No entanto, e por considerar que “a questão de Israel é um dos pilares” da política externa iraniana na região, as autoridades iranianas avançaram em 2019 com um plano destinado a solucionar um dos mais prolongados e explosivos conflitos do Médio Oriente.
“Em novembro de 2019 o Irão revelou o seu plano para resolver a questão palestiniana nas Nações Unidas, e apelou à realização de um referendo em todos os territórios palestinianos, e onde todos os povos desses territórios para além dos muçulmanos, cristãos, judeus, e mesmo os palestinianos refugiados e fora das terras da Palestina, possam participar no referendo que determine o futuro da Palestina”, especificou Morteza Damanpak Jami.
“Esse referendo determinaria o futuro da Palestina (…) e este plano lógico é muito compatível com a lei internacional, há exemplo do mundo que seguiam este exemplo, não surge do céu”, destacou. A “defesa da causa palestiniana” tem sido um dos principais argumentos de Teerã para a sua atuação regional, e que tem implicado um crescente e previsível aumento das tensões com a liderança israelita.
“O motivo é que os palestinianos são muçulmanos, um povo sem esperança, as suas terras estão sob ocupação há mais de sete décadas, reprimidos pelas forças de ocupação israelitas, sujeitos a pressões diárias, em particular a Faixa de Gaza que está sob cerco sem contato com o mundo exterior, e mesmo durante a atual pandemia a situação nos territórios ocupados piorou devido aos contínuos atos de pressão e da tirania israelita”, sustentou.
Morteza Damanpak Jami frisou que desde o início da Revolução Islâmica, em 1979, que o Irão inclui na sua Constituição “o apoio aos povos, oprimidos, e não apenas muçulmanos, e adotou a política de apoiar espiritualmente e politicamente o povo palestiniano oprimido”. Nesse sentido, esclareceu: “a causa do povo palestiniano se tornou num importante vetor da nossa política externa, acreditamos que a única solução para o longo problema da ocupação da Palestina consiste em aceitar o direito dos palestinianos à autodeterminação”.
Um direito à autodeterminação que significaria a anulação dos sucessivos acordos que têm sido estabelecidos para tentar solucionar o conflito Israel-palestino, mas sem resultados conclusivos. “Acreditamos que os inúmeros acordos já estabelecidos, desde Camp David às recentes movimentações sobre o ‘acordo do século’ ou o reconhecimento de Israel por alguns poucos países árabes, não contribuem para que o povo palestiniano garanta o seu direito à autodeterminação e ao seu próprio Estado”, insistiu.
O diplomata considerou, neste contexto, que serão apenas os palestinianos a decidir sobre o futuro, sem interferências externas. “Até agora ninguém vindo do exterior ajudou de forma honesta o povo palestiniano. Os diversos acordos não têm servido para ajudar o povo palestiniano. Serão eles próprios, pela resistência legítima, porque a resistência contra a ocupação é parte integrante do legítimo direito de um povo sob ocupação”, concluiu.