“Estamos chocados com as mortes aparentemente arbitrárias de nove ativistas”, incluindo uma mulher, disse a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, durante uma conferência de imprensa em Genebra.
Essas pessoas foram mortas “durante operações policiais e militares simultâneas nas províncias de Batangas, Cavite, Laguna e Rizal, nos arredores da metrópole de Manila, nas Filipinas, nas primeiras horas da manhã de domingo”, acrescentou.
Segundo a ONU, as vítimas eram ativistas que defendiam, nomeadamente, os direitos das comunidades pesqueiras, os direitos dos trabalhadores e os direitos das populações indígenas. Seis pessoas também foram detidas durante as operações, segundo a ONU.
“Estamos profundamente preocupados que essas últimas mortes sejam um sinal de uma escalada de violência, atos de intimidação, assédio e rotulagem vermelha (comunista) de defensores dos direitos humanos”, disse Ravina.
O Alto Comissariado foi informado pelo Governo filipino “de que a operação foi baseada em mandados de busca emitidos como parte da campanha contra o Novo Exército Popular”, o braço armado do Partido Comunista das Filipinas.
A execução desses mandados de busca já resultou em outros assassínios, disse Ravina Shamdasani, citando a morte de nove ativistas dos direitos indígenas Tumandok em 30 de dezembro, em Panay.
As forças de segurança alegaram que atuaram em legítima defesa, durante um fogo cruzado, mas as organizações locais referiram que pelo menos três dos líderes foram executados a sangue frio, dois enquanto dormiam.
Os ataques deste domingo foram lançados dois dias depois de um novo apelo do Presidente filipino, Rodrigo Duterte, cuja sangrenta “guerra às drogas” custou a vida a milhares de pessoas, pedindo às autoridades que “ignorassem os direitos humanos” e matassem os rebeldes comunistas.
Nas Filipinas, a comissão independente de direitos humanos disse na segunda-feira que enviou uma equipa para investigar as mortes e prisões. Nos últimos meses, de acordo com a ONU, dezenas de ativistas e vários jornalistas foram presos, nomeadamente por ocasião do Dia dos Direitos Humanos em 10 de dezembro.
“Os defensores dos direitos humanos sempre foram rotulados de ‘vermelhos’ ou acusados de servir de fachada para o braço armado do Partido Comunista”, sublinhou Ravina Shamdasani, lembrando que num relatório de junho de 2020 o Alto Comissariado colocou alertas contra este tipo de rotulagem “extremamente perigosa”.
O Conselho dos Direitos Humanos da ONU publicou, em junho do ano passado, uma investigação sobre as Filipinas em que denunciava uma campanha de terror e impunidade na guerra contra as drogas que já tinha feito cerca de 30.000 mortes, assim como a pressão a líderes sociais e grupos de esquerda, com 248 ativistas assassinados desde o início do mandato de Rodrigo Duterte.