Agradeço à revista Embassy o convite para expressar algumas ideias por ocasião da Comemoração do Dia Internacional da Mulher, data que foi institucionalizada pela Organização das Nações Unidas em 1975 e que nos faz lembrar a luta travada por milhares de mulheres ao redor do mundo para garantir o respeito aos nossos direitos, exercer nossos trabalhos em igualdade de condições e oportunidades.
Como disse a argentina Florentina Gómez Miranda “Se uma mulher entra para a política, muda a mulher. Se muitas mulheres entram para a política, a que muda é a política” e efetivamente essa se transforma, não faltam exemplos: Margaret Thatcher; Angela Merkel; Kamala Harris; só para citar algumas. As mulheres são responsáveis cada dia mais por essa luta e pela transformação da sociedade.
Na política e nas relações internacionais, o papel da mulher é reconhecido e altamente valorizado nos processos de negociação, relevante para conseguir acordos e indispensável para a manutenção da paz.
O mundo da diplomacia, durante séculos reservado aos homens, conta hoje com centenas, milhares de mulheres nos altos escalões, seja como Ministras de Relações Exteriores na Espanha ou na Colômbia ou como embaixadoras, ministras conselheiras, encarregadas de negócios, mudando a maneira como nos relacionamos como Estados.
Quando várias mulheres se unem em torno de um objetivo, este acontece, pois passamos imediatamente do planejamento para a execução. Um simples café pode dar origem a uma fundação de ajuda aos mais necessitados e uma conversa informal pode fazer surgir um projeto que transforme a vida de milhares de pessoas.
Nós mulheres sabemos escutar, ato indispensável em nosso trabalho como representantes de nossos países, já que é assim, através do diálogo que somos capazes de conectar-nos com as ideias, debater respeitando as diferenças e conseguir consensos que nos levam à melhor defesa dos interesses de nossas nações.
Nós mulheres somos capazes de superar obstáculos com a mesma força que criamos uma família, traduzindo em ações imediatas que nos levam a perseguir um novo sonho sem olhar para trás e a alcançar um novo sucesso apagando para sempre um fracasso anterior.
Entretanto, o caminho que nos trouxe até aqui não foi fácil, pois, apesar das conquistas, das desigualdades e dos abusos a subestimação de nossas capacidades persistem e são uma dolorosa realidade. É incompreensível que passados 21 anos deste século ainda se deva lutar pela igualdade de salários para igual trabalho; ou que se pretenda justificar a falta de acesso a altos cargos executivos com a desculpa: é mulher. É inaceitável que na maioria de nossos países as políticas públicas voltadas para a mulher continuem sendo desenhadas exclusivamente por homens com um olhar condescendente e não com um olhar de respeito.
Assim que, sim, celebremos este dia, porém não percamos de vista aquelas que sofrem descriminação, que são mutiladas segundo um conceito cultural inaceitável em nossos dias. Levantemos a voz por elas, pelas migrantes que morreram ao longo do caminho em busca de um futuro, pelas violadas, pelas abusadas, pelas invisíveis, pelas carentes de direitos em muitas sociedades. Quando estes vexames tenham acabado, aí sim, estaremos prontas para travar novas batalhas e para celebrar, no entanto, ainda não. Ainda falta. Feliz Dia Internacional da Mulher.
María Teresa Belandria é embaixadora da Venezuela no Brasil