Multidão volta às ruas em protesto contra a falta de vacinas, remédios e vagas em hospitais, além de pedir a saída de Abdo Benítez, acusado de corrupção pelos opositores
No segundo dia de protestos em Assunção, o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, destituiu três ministros, na tentativa de conter a ira da população. O mandatário, que, mais cedo, havia pedido que os integrantes do Gabinete colocassem os cargos à disposição, anunciou na noite de ontem a demissão de Eduardo Petta (Educação), Ernesto Villamayor (chefe de Gabinete) e Nilda Romero (Mulher).
Com média de 1.173 casos novos de covid-19 na semana passada, o país está em crise. A população reclama da forma como o governo administra a pandemia: faltam medicamentos, vacinas e vagas nas UTIs, em meio a denúncias de corrupção. O ministro da Saúde, Julio Mazzoleni, renunciou na última sexta-feira, quando confrontos entre manifestantes e policiais deixaram 21 feridos e um morto.
Ontem, nas ruas da capital, jovens carregavam cartazes com dizeres como “Não mais presidentes corruptos” e denunciavam a violência policial do dia anterior. Em um comunicado, a Igreja Católica paraguaia pediu que o governo atendesse os anseios dos manifestantes. “Pedimos que se escute a legítima indignação da população (…).
Os cidadãos pedem gestos, ações e, sobretudo, resultados na gestão pública com a provisão de equipamentos, insumos e medicamentos necessários para fazer frente às necessidades prioritárias da população afetada pela enfermidade”, diz o texto, assinado pela Conferência Episcopal.
Com 7 milhões de habitantes, o Paraguai registra 3,2 mil mortes por covid, o equivalente a 23 óbitos por 100 mil. Ontem, o jornal mais influente do país, o ABC, publicou um duro editorial criticando o governo. “O Dr. Mazzoleni, que acreditamos ser uma pessoa honesta, foi derrotado pelos velhos flagelos da administração pública: a corrupção e a ineficiência são tão letais quanto a covid-19”. O texto também fala em “ineficácia e corrupção” e cita “negligência e incapacidade” para explicar o atraso do país em adquirir vacinas.
A oposição pede a renúncia de Benítez e do vice, Hugo Velázquez, para que o presidente do Congresso, Oscar Salomón, assuma o governo e convoque eleições. “O presidente pede paz, pede calma entre os paraguaios. O presidente respeita as manifestações pacíficas”, disse o ministro da Tecnologia da Informação e Comunicação, Juan Manuel Brunetti, citado pelo ABC.
Ontem, o governo chileno doou 20 mil doses da vacina chinesa Coronavac ao Paraguai. A remessa foi recebida no Aeroporto Internacional de Assunção pelo novo ministro da Saúde, Júlio Borba, e pelo chanceler Euclides Acevedo. Os imunizantes são destinados a 10 mil profissionais de saúde, e são a segunda remessa do Chile, que já havia doado 4 mil doses da russa Sputnik V, também para médicos, enfermeiros e outros trabalhadores da área.
Relatório
No vizinho Peru, o governo também enfrenta críticas da população e da oposição devido à gestão da pandemia. Com 33 milhões de habitantes, o país acumula mais de 1,3 milhão de casos de covid-19 e ultrapassa 46,8 mil mortes, e ainda engatinha na campanha de vacinação: os profissionais de saúde não foram todos imunizados. Amanhã, os idosos começarão a ser vacinados com doses da norte-americana Pfizer.
Três semanas depois do escândalo Vacinagate — a denúncia de que 470 pessoas furaram fila na vacinação —, o governo teve de se manifestar, ontem, sobre um ensaio clínico divulgado pela emissora Willax, segundo o qual a chinesa Sinopharm comprada por Lima protegia somente um terço dos pacientes. “Parece-nos muito irresponsável dizer meias verdades”, disse a número dois do governo peruano, Violeta Bermúdez, em uma coletiva de imprensa, afirmando que o relatório divulgado era preliminar — e não o definitivo — dos testes do imunizante no país. “O objetivo por trás (da divulgação do relatório) é fazer com que o processo de vacinação fracasse”, afirmou Bermúdez, garantindo que o Peru comprou vacinas do Sinopharm para imunizar a população em janeiro após estudos em outros países, que concluíram que a substância tinha 79,34% de eficácia.
Maduro recebe dose da Sputinik V
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, recebeu a primeira dose da vacina russa Sputnik V contra a covid-19, ontem, enquanto seu governo anunciava a imunização de professores a partir de amanhã, com fármacos do laboratório chinês Sinopharm. “Estou vacinado, não sinto nenhum tipo de “fiebrasky”. Dizem que você sai falando russo”, afirmou Maduro, 58 anos, com uma risada. A vacinação na Venezuela começou, no mês passado, pelos profissionais de saúde.
Só um voto de vantagem
Ao fim de várias horas de negociações e debates, seguidos de uma maratona de votação, o Senado dos Estados Unidos aprovou, ontem, com apenas um voto de vantagem, o plano de US$ 1,9 trilhão apresentado por Joe Biden para reativar o pais, duramente afetada pelo coronavírus. O texto retornará à Câmara de Representantes, onde o presidente democrata conta com maioria, e deve chegar à Casa Branca antes do dia 14, quando termina a validade dos atuais auxílios à população.
“Demos um passo gigante”, celebrou Biden ao comentar a aprovação do plano de estímulo, uma de suas promessas de campanha. Ele enfatizou que o país “precisa desesperadamente” dessa ajuda para superar a crise provocada pela pandemia. É o terceiro pacote de ajuda emergencial aprovado pelo Congresso desde o início da pandemia.
“Essa lei fornecerá mais ajuda a mais pessoas do que qualquer coisa que o governo federal tenha feito em décadas”, disse o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, pouco antes da votação final, que marcou 50 votos a favor do pacote e 49 contra.
Líder da minoria republicana, o senador Mitch McConnell criticou a aprovação da lei, assinalando que jamais o Congresso gastou tanto dinheiro “de forma tão inconsistente ou após um processo tão flexível”,
O pacote de ajuda de Biden fornece, entre outros auxílios, cheques de US$ 1,4 mil para milhões de americanos, além de US$ 350 milhões em ajudas a estados e municípios. Grandes somas serão destinadas ao combate à pandemia, incluindo US$ 49 bilhões para promover diagnósticos e encorajar pesquisas, e mais de US$ 14 bilhões para aumentar o ritmo de vacinação.
A análise do projeto começou pela leitura, forçada por um republicano, de suas 628 páginas, o que consumiu quase 11 horas. Na sexta-feira, a tramitação foi interrompida repentinamente devido à oposição de um senador democrata moderado sobre a duração do auxílio, que, por um acordo, acabou reduzido.