“O fim da pandemia e a recuperação económica mundial podem ser uma miragem se a recuperação não incluir África, é por isso que a cooperação internacional é tão importante agora, mais do que nunca, precisamos de reimaginar a ajuda ao desenvolvimento”, disse Angel Gurría na intervenção inicial do 20º Fórum Económico Internacional de África, que hoje decorre em formato virtual a partir de Paris.
“Os países desenvolvidos gastaram 14 biliões de dólares [11,5 biliões de euros] no combate ao vírus, mas a Ajuda Oficial ao Desenvolvimento é de apenas 153 mil milhões de dólares [126 mil milhões de euros], estando a Covax subfinanciada, por isso o que pergunto é como é possível a Covax estar subfinanciada quando os países gastaram 100 vezes mais em estímulos que na AOD, já que isto significa que podem multiplicar a ajuda e partilhar as vacinas para combater a pandemia”, defendeu Angel Gurría.
Na abertura do Fórum, organizado pela OCDE e pela União Africana, em conjunto com a Presidência do Senegal, Angel Gurría exemplificou a escala do impacto da covid-19 com a quebra económica originada pela crise financeira mundial, em 2008, dizendo que “no ano passado 41 economias africanas sofreram um declínio no PIB, o que compara com apenas 11 na crise financeira de 2008”.
Para o secretário-geral da OCDE, a pandemia veio agravar a queda das receitas dos governos face ao número de pessoas, que já tinha caído 18% entre 2010 e 2018, e deverá ter caído mais 10% em 2020 em pelo menos 22 economias africanas, a que se junta a queda de 18% das poupanças, 9% nas remessas e “uns impressionantes” 40% no Investimento Direto Estrangeiro.
“A Ajuda Oficial ao Desenvolvimento não será suficiente para compensar estas contrações, que se juntam às emergências pré-covid, como a crise alimentar e a crise de segurança na África subsaariana, que foram exacerbadas pela pandemia e vão alimentar-se dela”, acrescentou o responsável.
Para garantir a recuperação das economias africanas, Angel Gurría defendeu “uma ação coordenada e ousada”, que passa pela aposta na digitalização, melhoria das receitas internas e aceleração da diversificação em todos os países do continente.