A participação de manifestantes de minorias étnicas nos protestos de hoje em Rangum, muitos vestidos com os trajes tradicionais coloridos das suas regiões, sublinhou a profundidade e a amplitude da oposição ao golpe militar da semana passada.
As minorias étnicas têm sido alvo de repressão por parte dos militares, como a minoria muçulmana rohingya, que usam táticas brutais para esmagar as suas aspirações por maior autonomia.
Os manifestantes protestam hoje em Rangum e Mandalay, as maiores cidades do país, como ocorre há vários dias, mas também na capital, Naypyitaw, e em muitas outras cidades.Os manifestantes têm ignorado a lei de emergência emitida na segunda-feira proibindo manifestações e reuniões com mais de cinco pessoas.
Os manifestantes são operários, funcionários públicos, alunos e professores, pessoal médico e pessoas de todas as camadas sociais e até monges budistas e clérigos católicos têm sido visíveis nos protestos, assim como pessoas do grupo LGBTQ.
Hoje, na cidade de Dawei, no sul do país, os manifestantes danificaram um cartaz do general Min Aung Hlaing, o líder do golpe que agora lidera a junta governante em Myanmar.A junta não dá sinais de recuar e na quarta-feira à noite deteve mais membros do partido Liga Nacional para a Democracia (NDL), do qual faz parte a líder deposta Aung San Suu Kyi, já detida junto com outros políticos e ativistas.
O Irrawaddy, um portal de notícias na internet, disse que pelo menos seis altos membros do NLD foram detidos, incluindo Kyaw Tint Swe, um dos principais assessores de Suu Kyi.A junta militar está também a preparar uma lei de segurança para aplicar a internet que permitirá interromper temporariamente a rede, proibir conteúdos e exigir dados de utilizadores, entre outras medidas.
A junta vai exigir que os prestadores de serviço online mantenham o cadastro dos usuários (IP, telefone, endereço, uso de dados e demais informações necessárias) por três anos e o entreguem quando solicitado. Aqueles que não fornecerem dados, de acordo com a lei, enfrentarão penas de até três anos de prisão e multas de 10 milhões de kyat (5.800 euros).
A 01 de fevereiro, o exército prendeu a chefe do Governo civil birmanês, Aung San Suu Kyi, o Presidente Win Myint e vários ministros e dirigentes do partido governamental, proclamando o estado de emergência e colocando no poder um grupo de generais.
Nos dias seguintes, têm ocorrido sucessivos protestos em várias cidades de Myanmar e a tensão nas ruas tem vindo a aumentar. As forças policiais têm recorrido frequentemente a canhões de água para dispersar manifestantes.