Maior grupo de percussão feminino de Brasília se apresenta na ilha de Paros, Grécia, onde 36 bandas Batalá, com total de 300 integrantes de 15 países, batucarão sons afro-brasileiros.
Súsan Faria
É impossível ficar indiferente aos repiques, surdos, dobras, caixas, bumbos e toda a percussão e energia que vem da Banda BATALÁ de Brasília, formada só por mulheres e que ensaia todos os sábados no Parque da Cidade. Parte da banda leva esses sons afro-brasileiros este mês à França e à Grécia.
As meninas embarcam dia 15 próximo para Paris. Na França, 13 componentes da BATALÁ se unirão ao BATALÁ Paris e – juntos – os dois grupos participam dia 21 (de junho) da “Fetê de la Musique”, uma grande manifestação popular que abrange vários gêneros musicais e acontece em todo o país. Os shows surgem em teatros, parques, bares, ruas e até nas varandas das casas e apartamentos, marcando a chegada do verão no hemisfério Norte.
Após o evento, o grupo brasiliense segue para a Ilha de Paros, na Grécia, unindo-se a mais quatro integrantes do BATALÁ Brasília para o Encontro Mundial de 20 anos do BATALÁ, que acontecerá de 26 de junho a 03 de julho. O encontro reunirá as 36 bandas BATALÁ espalhadas por 15 países, como Espanha, França, Estados Unidos, Inglaterra, Grécia, Brasil, dentre outros. “É uma oportunidade de integrantes novos e antigos – independente do instrumento que tocam, da experiência musical, da idade e da raça, religião e nacionalidade – participarem efetivamente de um intercâmbio cultural, social e musical”, explica uma das coordenadoras do Batalá Brasília, Maria Eugênia Nascimento Cajazeira.
Casada, 46 anos de idade, residente na Asa Norte, a bancária Maria Eugênia está no BATALÁ há sete anos e diz que esse “é um momento muito rico em troca de experiências e vivências e que transforma o encontro numa atividade muito prazerosa”. A banda Batalá foi idealizada e fundada pelo mestre Giba Gonçalves, em Paris, em 1997, e trazida para Brasília, em 2003, por Paulo Lindemberg Garcia da Silva.
Segundo Maria Eugênia, o mestre Giba Gonçalves ministrará um workshop para os mais de 300 integrantes do mundo inteiro que participarão do Encontro na Grécia. Na oportunidade, Giba repassará muito do seu conhecimento musical e “apresentará novas composições e coreografias com o objetivo de serem difundidas nas cidades e países onde há a representação da banda”.
Mulheres protagonistas – A Associação BATALÁ de Percussão foi o primeiro grupo de percussão de Brasília constituído apenas por mulheres. Busca a valorização da mulher como protagonista na disseminação da diversidade cultural brasileira. A BATALÁ gravou o CD gravou os CDs Batucando, Xireé, Raça Humana, 15 anos, Desvio e Feito em Casa e se apresenta em eventos públicos, oficiais e particulares, como aniversário da cidade, desfile de 7 de setembro e até para visitas presidenciais como a do ex-presidente dos EUA, Barak Obama em 2011.
O grupo, em conjunto com os demais BATALÁs, participa de carnavais pelo mundo e grandes eventos como a abertura dos cinco shows da turnê dos 50 anos do grupo de rock Rolling Stones em Nova Iorque, em 2012. A professora de Geografia da Universidade de Brasília (UnB), Elisângela Machado, 43 anos, paulistana, residente na Asa Norte, toca surdo 2 na BATALÁ há quase dois anos e está orgulhosa de ir com a banda para a Grécia, para representar o Brasil e comemorar “os 20 anos de uma banda que difunde a arte da percussão e a música afro-brasileira”. Disse que é grande a satisfação pessoal “em fazer parte desse movimento cultural brasileiro, levado para 15 países com os mesmos ritmos e saberes ensinados pelo Mestre Giba e Paulo Garcia, encantando a todos que ouvem e veem”.
Em Paris – Em 1997, o percussionista baiano Giba Gonçalves ensinou aos franceses a musicalidade dos instrumentos de percussão afro-brasileiros. A partir de Paris, a Banda espalhou-se pelo mundo e hoje são mais de 30 grupos disseminando a cultura brasileira em 16 países dentre eles Reino Unido, Grécia, Estados Unidos, México, Argentina e África do Sul.
Em Outubro de 2003, Paulo Garcia, empresário brasiliense, criou a Banda BATALÁ Brasília, a primeira no mundo formado exclusivamente por mulheres. Mais de mil mulheres já passaram pelo grupo, considerado patrimônio musical da cidade.
Além da formação musical, a Associação BATALÁ de Percussão de Brasília atua em parceria com outros projetos e ONGs como Casa Azul (Samambaia), Coletivo da Cidade (Estrutural), Grupo Cultural Afro Reggae (RJ), Abadá Capoeira (RJ), Cortejo Afro (BA) entre outros. Sustenta-se de recursos obtidos através de apresentações, os quais são re-investidos para compra de instrumentos e figurinos cedidos às integrantes; e apresentações gratuitas em comunidades com acesso limitado a bens culturais.
Lavagem do Bonfim – Há 12 anos, anualmente, a BATALÁ participa do cortejo oficial da Lavagem do Bonfim em Salvador/BA, conduzindo o bloco ORISHALÁ, de sua criação e que se traduz na expressão artística de gratidão de um grupo que reconhece a importância de valorizar seus antepassados históricos e culturais, e utiliza-se da força do tambor como som de força e harmonia para manifestar seus louvores e orações, individuais e coletivos.
A Lavagem do Senhor do Bonfim é a maior representação do sincretismo religioso afro-brasileiro, reunindo elementos do catolicismo e do candomblé. A festa iniciada em 1754 reúne hoje mais de um milhão de pessoas na Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, e é considerada a segunda maior festa de manifestação popular da Bahia, perdendo apenas para o Carnaval.
Ensaios – Para participar do BATALÁ Brasília, basta ser mulher e ter acima de 18 anos. Não há limite de idade, não é preciso ter experiência musical, somente vontade e muita dedicação para aprender.
Para tornar-se integrante do BATALÁ é preciso:
- Comparecer ao ensaio para escutar e sentir o clima da banda, aos sábados das 10h às 13h no Estacionamento nº 11 do Parque da Cidade (Estacionamento do Carrera Kart)
- Preencher a ficha de inscrição. Se apresentar a uma das integrantes.
- Assistir aos ensaios, durante quatro semanas e ir se familiarizando com a Banda.
- Receber um instrumento, após concluir que pode e quer se comprometer como uma integrante da banda. O instrumento é emprestado mediante cheque-caução. Cabe à nova integrante providenciar proteções como: joelheiras, caneleiras, proteções auriculares, luvas, cintos e baquetas.
Mais informações: http://www.batala.com.br/
Email: comunicacao.batala@gmail.com