Bayrakli, Turquia, 31 Out 2020 (AFP) – Em Bayrakli, na província turca de Izmir, socorristas tentaram durante toda a noite abrir passagem em uma pilha gigantesca de concreto e aço, os escombros de um edifício residencial de sete andares.
A alguns metros, os socorristas retiraram um corpo sem vida dos escombros, o que provocou os gritos da multidão. “Deixem eu ver quem é”, suplicava um homem, sem notícia de vários parentes.
O terremoto, com intensidade de 7 graus de acordo com o Centro Geofísico dos Estados Unidos (USGS) e de 6,6 segundo as autoridades turcas, aconteceu na sexta-feira à tarde no Mar Egeu, ao sudoeste de Izmir, a terceira maior cidade da Turquia, e perto da ilha grega de Samos. O abalo foi tão forte que também foi sentido em Istambul e Atenas. Além disso, provocou um mini-tsunami que inundou as ruas de Seferihisar, cidade turca próxima do epicentro, e afetou as costas de Samos.
Diante da catástrofe, Turquia e Grécia deixaram as disputas diplomáticas de lado e anunciaram a intenção de uma ajuda mútua. Na Grécia, dois jovens morreram e nove pessoas ficaram feridas. O primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis viajará neste sábado a Samos, onde a situação é “extremamente difícil”, de acordo com a Proteção Civil.
A costa turca do Egeu, densamente povoada, foi a mais afetada. De acordo com o balanço da Gestão de Emergências e Desastres (AFAD), 25 pessoas morreram e 804 ficaram feridas na Turquia. – Quase 500 tremores -Mais de 100 pessoas foram resgatadas vivas do escombros, informou neste sábado o ministro turco do Meio Ambiente, Murat Kurum. Duas mulheres foram salvas 17 horas depois do tremor, segundo o governo.
Em Bayrakli, distrito que tem quase 300.000 habitantes, as autoridades instalaram barracas para que as famílias conseguissem passar a noite no local. Nermin Yeni, 56 anos, estava em casa cozinhando quando a terra tremeu. “Corri para a rua e caí”, recorda, diante da barraca em que passou a noite. Outros, com menos sorte, passaram a madrugada em sacos de dormir sobre a grama e alguns em seus carros.
No bairro, as equipes de resgate pediam silêncio em alguns momentos, com a esperança de ouvir possíveis sobreviventes. Muitos moradores decidiram passar a noite a céu aberto, apesar de suas residências terem resistido ao terremoto. O medo dos tremores secundários é grande: desde o sismo principal na sexta-feira, a terra tremeu quase 500 vezes, segundo as autoridades.
Mais de 6.000 agentes de emergência foram mobilizados na região, informou a presidência turca. – Mini-tsunami -Na ilha grega de Samos, a zona mais afetada na Grécia, o terremoto provocou um mini-tsunami. O nível do mar se elevou a 40 cm sobre as estradas do porto de Vathy, o que provocou danos em vários estabelecimentos comerciais. O secretário de Estado para a Proteção Civil, Nikos Hardalis, qualificou a situação da ilha como “extremamente difícil” e pediu aos habitantes que permaneçam atentos ao risco de tremores secundários.
O Observatório Geodinâmico de Atenas registrou vários tremores desde o terremoto de sexta-feira, o mais forte deles de 4,7 graus durante a madrugada de sábado. As autoridades iniciaram a avaliação dos danos em Vathy e outras localidades da ilha. Também instalaram barracas para quem precisa, afirmou Hardalis. Turquia e Grécia ficam uma das zonas sísmicas mais ativas do mundo. O fenômeno de sexta-feira provocou os temores do “Big One”, um grande terremoto que atingiria a capital econômica da Turquia.
Em 1999, um tremor de 7,4 graus de magnitude no noroeste da Turquia deixou mais de 17.000 mortos, mil deles em Istambul. Na Grécia, o último terremoto letal havia acontecido em julho de 2017 na ilha de Cos, perto de Samos, e deixou dois mortos.