A medida foi prolongada até 8 de novembro. A Argentina já acumula 233 dias de um regime que, mesmo sob fortes restrições, mantém o país entre os piores do ranking global de contágios. “Vamos continuar por mais 14 dias como estamos hoje”, anunciou Fernández. O chefe de Estado comunicou sua decisão aos argentinos durante uma visita à província de Misiones, na fronteira com o Brasil e com o Paraguai.
O novo coronavírus agora avança pelo interior do país, especialmente por oito províncias que concentram 55% dos cerca de 15 mil contágios diários: Córdoba, Santa Fé, Tucumán, Mendoza, Neuquén, Río Negro, Chubut e San Luis.
Ao contrário do interior, na área metropolitana de Buenos Aires, que inclui a capital argentina mais 13 municípios ao redor da cidade, a curva de contágio tem diminuído nas últimas duas semanas, embora ainda seja considerável. “Vamos ver os frutos que deram os 14 dias em que declaramos o último isolamento sanitário. Por esse motivo, vamos continuar nas mesmas condições que estamos hoje. Apesar da baixa na área metropolitana de Buenos Aires, ainda não podemos dizer que estamos tranquilos porque há um número de contágios significativo”, apontou.
Apesar da mais prolongada quarentena do mundo, a Argentina tem escalado posições no ranking global de contágios. Com 1,07 milhão de infectados, o país ocupa o sétimo lugar na lista de países com maior número de contaminados em proporção à população, mesmo quando é um dos que menos testes faz. Durante a última semana, o país chegou a ocupar a quinta posição. O físico Jorge Aliaga, pesquisador da Universidade de Buenos Aires e do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet), calcula que o número de casos positivos seja até oito vezes maior do que o registrado pelas autoridades.
“Na Argentina, já devem ter sido contagiadas entre 5 e 8 milhões de pessoas, apesar de os testes só terem confirmado 1 milhão”, afirmou Aliaga. Se observadas apenas as últimas cinco semanas, a Argentina se encontra entre os países com maior número de mortes diárias. São 8 por milhão de habitantes, segundo dados dos Centros de Controle Epidemiológico Europeus.
Vírus avança pelo interior “Vemos que, no interior do país, o vírus está disseminado para além das cidades. Está também nos pequenos povoados”, indicou o presidente, como argumento para justificar a saturação de hospitais de cidades do interior. “Além dos contágios, […] notamos um estresse no atendimento médico. Hospitais saturados, pessoal de saúde que se cansa. Há lugares específicos em todas as províncias em que o nível de saturação está num ponto limite”, admitiu Fernández, explicando que a saturação nesses hospitais acontece porque eles “atendem a todos os povoados próximos”.
Sondagens indicam que a maioria dos argentinos é contra a continuidade da quarentena após 217 dias de estritas restrições. Segundo a consultora Giacobbe, por exemplo, 58,2% dos argentinos reprovam uma nova extensão. O número tem crescido a cada 14 dias. Na sondagem anterior, eram 55%. “Longe estamos de querer cortar direitos e liberdades. Só procuramos preservar a saúde de todos nós”, argumentou o presidente. “Pouco a pouco, vamos abrir as atividades, porque a economia também precisa”, prometeu Fernández, indicando ao mesmo tempo que o país “está longe de ter resolvido este problema”.
Buenos Aires flexibiliza restrições – No sentido contrário aos anúncios do presidente, o governador do Distrito Federal, Horario Larreta, anunciou novas flexibilizações na capital do país. Bares, restaurantes e academias poderão ocupar 25% das suas capacidades máximas internas, dependendo da ventilação. Até agora, só podiam usar espaços ao ar livre. Museus poderão abrir com reserva prévia, assim como piscinas ao ar livre poderão funcionar com número limitado de frequentadores e sem acesso aos vestiários.
Depois de sete meses, os casamentos civis serão permitidos com um máximo de 20 pessoas, pacientes poderão voltar ao tratamento de reabilitação e crianças do pré-escolar poderão ter atividades pedagógicas e recreativas ao ar livre.
A Argentina ainda não permite aulas presenciais nem o uso dos transportes públicos para quem não for trabalhador considerado essencial. Os voos domésticos foram retomados apenas para atividades essenciais. As pessoas não podem atravessar de uma província para outra nem de um município ao outro. A circulação de pessoas e de veículos dentro das cidades requer permissão especial. Estão proibidas as reuniões de amigos e familiares que não convivam no cotidiano.