O violento tiroteio de terça-feira (20/10) contra manifestantes na Nigéria provocou uma grande comoção no país: a Anistia Internacional denuncia várias mortes, mas as autoridades reconhecem apenas uma vítima fatal. O governador do estado de Lagos, Babajide Sanwo-Olu, reconheceu no Twitter que uma pessoa morreu no tiroteio contra manifestantes pacíficos que desafiaram o toque de recolher na terça-feira à noite na cidade, capital econômica da Nigéria.
A ONG Anistia Internacional afirmou que vários manifestantes faleceram no ataque, mas que ainda tenta determinar o número exato. As mais de 1.000 pessoas que se reuniram na terça-feira no ponto de pedágio de Lekki foram dispersadas com tiros de munição letal, após o anúncio do toque de recolher total para sufocar o movimento de protesto iniciado há quase duas semanas.
“Tenho a responsabilidade sobre este incidente infeliz e vou trabalhar com o governo federal para elucidar o que aconteceu”, escreveu no Twitter o governador. Sanwo-Olu afirmou ainda que a repressão escapou de seu controle. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram homens vestindo uniformes militares atirando com armas de fogo, mas o exército chamou as imagens de “fake news”.
Tiros foram ouvidos perto do posto de pedágio na terça-feira à noite e na manhã desta quarta-feira. Os bairros comerciais e as lojas da cidade de 20 milhões de habitantes permanecem fechadas. “Terça-feira sangrenta”, afirmaram os jornais nigerianos esta manhã. Nas redes sociais, manifestantes pedem a renúncia do presidente Muhammadu Buharim, uma campanha que ganhou o apoio de Davido, estrela da música nigeriana.
A polícia mobilizou na terça-feira a unidade antidistúrbios como resposta aos confrontos em várias manifestações. A indignação tomou conta do país e atravessou fronteiras. O candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu ao presidente Buhari e aos militares que “interrompam a violenta repressão que custou a vida de vários manifestantes”.
“Os Estados Unidos têm que ficar ao lado dos nigerianos que se manifestam pacificamente pela reforma da polícia e o fim da corrupção em sua democracia”, completou em uma mensagem sem seu site. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu o fim do que chamou de “brutalidade” da polícia na Nigéria. O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, condenou a sangrenta repressão contra os manifestantes que desafiaram o toque de recolher em Lagos.
“Não suporto ver a tortura e a brutalidade que ainda existem em nossos países”, escreveu no Twitter a cantora Rihanna. A mobilização inédita na Nigéria começou no início do mês nas redes sociais como denúncia da violência policial e, aos poucos, se tornou um protesto contra o governo. Desde o início dos protestos, pelo menos 18 pessoas, incluindo dois policiais, morreram nas manifestações.