SANTIAGO — É outubro outra vez no Chile. Faltam duas semanas para o plebiscito do dia 25, em que os cidadãos vão decidir se querem uma nova Constituição. No último dia 3, um sábado, duas mulheres com máscaras choravam abraçadas do lado de fora da Clínica Santa María, em Santiago. Eram Marta Cortez e Daisy Alvear, mães de jovens que tiveram que enfrentar cirurgias depois de serem alvo da repressão policial nos protestos do último ano.
O filho de Marta, Óscar Pérez, foi imprensado por dois blindados dos carabineiros em 20 de dezembro, enquanto a TV transmitia ao vivo os protestos que começaram em 18 de outubro de 2019 e se estenderam durante seis meses até serem interrompidos pela pandemia. Desde então, Óscar passou por sete cirurgias. O filho de Daisy é Anthony Araya, de 16 anos, que teve alta ontem. Morador de uma das áreas mais pobres de Santiago — Bajos de Mena, na comuna de Puente Alto — ele é o jovem que, em 2 de outubro, foi empurrado no Rio Mapocho pelo carabineiro Sebastián Zamora, que está em prisão preventiva sob a acusação de homicídio frustrado.
A imagem de Anthony de cabeça para baixo no rio despertou uma das piores recordações da ditadura de Augusto Pinochet, muito presente no momento em que os chilenos se organizam para derrubar ou não a Carta herdada dos militares e que não consagra direitos sociais como os à educação, à saúde e à previdência.
A opção “aprovo” ou “rejeito” um novo texto constitucional é a primeira da consulta. O plebiscito também perguntará se o eleitor prefere que a nova Carta seja escrita por uma “convenção constituinte” de 155 integrantes a serem eleitos exclusivamente para isso, em abril de 2021, ou por uma “convenção mista”, formada em parte pelo atual Congresso.
Depois do golpe de 1973, cadáveres de pessoas detidas pelos carabineiros, a polícia militar chilena, foram jogados no Mapocho. Anthony teve fraturas nas mãos e hematomas na cabeça, mas sua vida não corre mais risco, segundo os médicos.
A opção “aprovo” ou “rejeito” um novo texto constitucional é a primeira da consulta. O plebiscito também perguntará se o eleitor prefere que a nova Carta seja escrita por uma “convenção constituinte” de 155 integrantes a serem eleitos exclusivamente para isso, em abril de 2021, ou por uma “convenção mista”, formada em parte pelo atual Congresso.
Se os protestos haviam recomeçado desde o 11 de setembro, data do 47º aniversário do golpe, no dia seguinte ao episódio do Mapocho cerca de mil manifestantes retomaram a Praça Baquedano em Santiago, o chamado marco zero das manifestações de 2019, que nos seis meses de confinamento havia ficado vazia.
— Há gente dividida entre a vontade de voltar a se mobilizar e correr o risco de pegar a Covid-19 ou se cuidar para participar do plebiscito, mas na rua ou em casa continuamos atentos — disse Martín Fernández, secundarista de 17 anos que integra a organização Bloco Oriente Secundário e participou do movimento estudantil que deu origem à chamada “explosão social”.