Segundo o compilado dos levantamentos nacionais feito pelo site especializado FiveThirtyEight, o ex-vice-presidente tem, neste momento, 51,9% das intenções de voto, contra 42,1% do republicano – uma vantagem de 9,8 pontos percentuais. O recorde anterior tinha acontecido em 10 de julho, quando Biden abriu 9,6 pontos percentuais em relação a Trump.
Na última sexta (2), quando o atual presidente anunciou que estava com Covid-19, a vantagem do democrata era de 7,6 pontos, mas a diferença tem aumentado desde então. Há 24 anos que um candidato não tinha uma vantagem tão grande contra seu rival nesse estágio da disputa -a eleição acontece em 26 dias, em 3 de novembro. Em 1996, o também democrata Bill Clinton tinha 13,4 pontos de vantagem sobre seu adversário, o republicano Bob Dole.
Como a Folha de S.Paulo mostrou nesta quarta (7), nunca um candidato com uma vantagem tão grande quanto a de Biden tão perto da votação perdeu a disputa. Assim, numa campanha marcada pela imprevisibilidade causada pela pandemia de coronavírus, Trump precisará realizar uma reviravolta inédita na história da democracia americana para continuar morando na Casa Branca por mais quatro anos.
A história eleitoral americana, no entanto, também é marcada por surpresas. O próprio Trump, aliás, protagonizou uma das mais conhecidas quando foi eleito, em 2016. Na ocasião, ele chegou ao dia da eleição como azarão – o FiveThirtyEight apontava que ele tinha cerca de 30% de chance de vitória- e saiu como presidente eleito dos Estados Unidos.
Mas ainda que ele consiga repetir o desempenho e diminua a diferença em relação a Biden, assim como fez com Hillary Clinton, isso provavelmente não será suficiente para lhe dar a vitória. Há quatro anos, Hillary tinha 6,2 pontos percentuais de vantagem sobre Trump a 27 dias da eleição. Quando as urnas abriram, a vantagem da democrata era de apenas 2,1 pontos – 48,2% dos votos para ela, 46,1% para ele.
No peculiar sistema eleitoral americano, porém, não necessariamente o vencedor da disputa é o candidato ganhador no voto popular. Isso porque quem de fato escolhe o presidente é o Colégio Eleitoral, que não segue proporcionalmente os votos totais. Cada estado tem um número de votos no Colégio Eleitoral proporcional à sua população. A Califórnia, com 39,51 milhões de habitantes, por exemplo, tem direito a 55 representantes. Já a Dakota do Sul, com 884,6 mil, a 3.
O candidato que vence a eleição em um estado leva todos os votos dele -as exceções são Nebraska e Maine, que dividem os votos de maneira um pouco mais proporcional. No fim do processo, é eleito quem conquistar mais da metade dos votos no Colégio Eleitoral, ou seja, ao menos 270 dos 538 votos possíveis.
Ao diminuir a vantagem de Hillary nas vésperas da eleição, Trump conseguiu virar a disputa dentro do Colégio Eleitoral – ele foi eleito com 304 votos, contra 227 da rival. Segundo analistas, é possível que a situação se repita em 2020. De acordo com o FiveThirtyEight, Trump tem atualmente cerca de 10% de chance de perder no voto popular e mesmo assim ser reeleito (a possibilidade de algo semelhante acontecer com Biden é menor que 1%).
Para isso, porém, o republicano precisa diminuir a vantagem do democrata de uma maneira ainda mais intensa do que há quatro anos. Se a vantagem de Biden caísse 4,1 pontos até a eleição (igual a 2016), o democrata venceria Trump por uma vantagem de 5,4 pontos no voto popular. Nesse cenário, o democrata teria 98% de chance de vencer o Colégio Eleitoral, novamente segundo o FiveThirtyEight.
Ou seja, Trump até teria alguma chance de vitória, mas extremamente baixa. Para o republicano de fato entrar na disputa, a vantagem de Biden precisa cair para algo abaixo de 3 pontos percentuais – nesse caso, a chance de vitória de cada um ficará próximo de 50%.