A autoridade que administra os lugares sagrados muçulmanos de Jerusalém anunciou que o complexo da mesquita de al-Aqsa seria fechado enquanto durasse o bloqueio. – (crédito: Ahmad GHARABLI / AFP)
A população de Israel, país com o maior índice de contágio do coronavírus nas últimas duas semanas, voltou a se confinar nesta sexta-feira (18/9), justamente quando começa a temporada das festas judaicas, o que gera descontentamento em grande parte de seus habitantes.
“O sistema de saúde levantou a bandeira vermelha”, declarou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para justificar este segundo confinamento geral, que entrou em vigor às 14h (8h de Brasília) e deve se estender por três semanas.
A medida coincide com as festas de Rosh Hashanah (Ano Novo judaico, neste fim de semana), Yom Kippur (Dia do Perdão) e Sucot, que é celebrado por volta de 10 de outubro.
Na semana passada, as autoridades impuseram um toque de recolher em cerca de 40 cidades do país, especialmente em cidades árabes e judias ultraortodoxas, na esperança de desacelerar a propagação do vírus.
Isso não impediu, porém, o aumento do número de casos, com hospitais e pessoal médico sobrecarregados, apesar de, no primeiro surto da doença, o país ter sido considerado exemplar na gestão sanitária. Entre a noite de quinta e esta manhã, o Ministério da Saúde registrou 5.238 novos casos, algo inédito.
“Fizemos tudo para tentar encontrar um equilíbrio entre as necessidades de saúde e as necessidades econômicas, mas estamos testemunhando um aumento preocupante de infecções e de casos graves nos últimos dois dias”, disse Netanyahu na quinta-feira à noite.
“Epidemia de mentiras!” – Enquanto o primeiro-ministro falava, centenas de manifestantes, usando máscaras cobrindo o rosto, reuniram-se em Tel Aviv para protestar contra as novas medidas do governo. “Uma epidemia de mentiras!”, dizia um cartaz. “O confinamento é injustificado”, afirmou Tamir Hefetz, organizador da manifestação. “Prejudica a população e a economia, gera desemprego e suicídios”, insistiu.
“Não se pode fechar um país desta forma”, considerou nesta sexta o “Yediot Aharonot”, o jornal mais vendido de Israel, que publicou inúmeras entrevistas com médicos, economistas e educadores, todos opostos ao reconfinamento. Netanyahu especificou que não hesitaria em endurecer, se necessário, as restrições adotadas.
O Estado não espera que os cidadãos respeitem o confinamento tanto quanto fizeram em março, escreveu Amos Harel no jornal “Haaretz”. “No início da crise, o pânico estava no auge. Seis meses depois, as coisas estão um pouco diferentes”, apontou o jornalista, criticando “a falta de relevância das decisões do governo: as instruções são complicadas, muitas vezes contraditórias e constantemente modificadas”.
Horas antes da entrada em vigor do confinamento, o governo finalmente autorizou os deslocamentos até um quilômetro da casa, contra 500 metros inicialmente (e 100 metros no primeiro confinamento).
Sinagogas afetadas – Os israelenses poderão sair apenas para ir ao mercado, à farmácia, ou ao trabalho, se for uma profissão considerada essencial. Há exceções, como ir a “funerais, ou circuncisão”, disse o Ministério da Saúde, que também impõe restrições aos locais de culto. As sinagogas geralmente ficam lotadas nos dois dias do Rosh Hashanah e especialmente no Yom Kippur. Este ano, contudo, os fiéis poderão orar nessas sinagogas, dependendo do tamanho do edifício.
Pela primeira vez em sua história, a grande sinagoga de Jerusalém não sediará as celebrações do Ano Novo judaico. Os judeus ultraortodoxos planejaram manifestações no domingo contra a “injustiça” que dizem estar sofrendo, devido às restrições aos locais de culto.