O recém-eleito líder do Partido Liberal Democrático do Japão (LDP) Yoshihide Suga posa para um retrato em seu escritório após sua coletiva de imprensa na sede do partido em Tóquio em 14 de setembro de 2020. – (crédito: Nicolas Datiche / POOL / AFP)
O Partido Liberal Democrata (PLD), que governa o Japão, escolheu nesta segunda-feira (14/9) por ampla maioria como seu novo líder Yoshihide Suga, que tem praticamente assegurado o posto de primeiro-ministro em substituição a Shinzo Abe, que anunciou a renúncia ao cargo por motivos de saúde.
Suga, de 71 anos e atual secretário-geral do governo e conselheiro de Abe, recebeu 377 votos, contra 89 para o ex-ministro das Relações Exteriores Fumio Kishida e 68 para o ex-ministro da Defesa Shigeru Ishiba, anunciou o PLD.
Como o partido tem maioria no Parlamento, Suga deve vencer sem problemas a eleição para o cargo de primeiro-ministro prevista para quarta-feira e virar o sucessor de Abe como chefe de Governo.A votação desta segunda-feira teve a participação de apenas 535 eleitores: os parlamentares do PLD e os representantes do partido nas 47 prefeituras do Japão.
O PLD evitou uma votação mais ampla, com a participação das bases do partido, alegando que teria sido algo muito complexo para organizar de maneira rápida.O formato reduzido beneficiou Suga, que setores importantes do partido consideram um sinônimo de estabilidade e e continuidade da política de Abe.
“Com esta crise nacional do coronavírus, não podemos nos permitir um vazio político”, declarou Suga, antes de destacar que tem como “missão” prosseguir com o programa de governo de Abe.
Desafios – Shinzo Abe, 65 anos, que bateu recordes de permanência no cargo de primeiro-ministro (mais de oito anos em dois mandatos), se recusou a expressar apoio a qualquer candidato. Mas após a votação desta segunda-feira, expressou “apoio total” a Suga, que segundo ele “trabalhou de maneira dura e discreta pela nação e o povo” em seu cargo anterior.
Vamos construir um Japão que brilhe e supere a crise do coronavírus com Suga como líder”, completou. No fim de agosto, ele surpreendeu o país ao anunciar a renúncia, quando ainda faltava um ano de mandato. Ele explicou que tomou a decisão por causa de uma doença crônica do intestino.
O próximo chefe de Governo terá que administrar uma série de desafios particularmente complexos. O Japão já estava em recessão antes da pandemia de coronavírus e muitas conquistas da política econômica do atual primeiro-ministro, chamada de “Abenomics”, estão em risco.
Suga declarou que a recuperação da economia será uma prioridade absoluta, assim como a contenção do vírus, essencial para a celebração dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, adiados para o próximo ano.
Os desafios diplomáticos também são importantes, sobretudo a preservação da aliança com os Estados Unidos e a atitude que deve ser adotada a respeito da China, enquanto a opinião pública mundial passou a ter uma postura mais rígida com Pequim após a propagação do coronavírus e os distúrbios políticos em Hong Kong.
Legislativas antecipadas?
“É um período difícil para o Japão, pois o governo dos Estados Unidos está exercendo pressão sobre a China”, destacou Makoto Iokibe, professor de Historia Política e Diplomática na Universidade de Hyogo.
“Ao Japão não interessa simplesmente seguir o caminho de Washington e aumentar as tensões com a China”, explicou à AFP.Ninguém sabe se Yoshihide Suga decidirá convocar eleições legislativas antecipadas para consolidar sua posição e evitar que seja considerado um primeiro-ministro interino até a celebração das eleições previstas para 2021, quando terminaria o mandato de Abe.
Várias autoridades governamentais mencionaram a possibilidade de legislativas antecipadas, talvez a partir de outubro, mas Suga não falou nada sobre o assunto até o momento.Grande parte da oposição japonesa, que está fragmentada, estabeleceu um novo bloco na semana passada, em sinal de desafio ao PLD, que a maior parte das últimas seis décadas no poder.
No caso de novas eleições, o PLD figura como favorito, apesar de Suga não ser considerado muito carismático.”Suga é capaz de aplicar políticas para controlar os burocratas, mas tem dificuldade para conquistar o coração das pessoas”, disse Iokibe.