Após dois anos de recessão, a América Latina finalmente começa a mostrar sinais de recuperação econômica. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) prevê para este ano um crescimento de entre 1% e 1,5% para a região. Um dos motivos é a conjuntura mundial favorável, que propiciou o aumento do preço das matérias-primas, das quais dependem muitos países do continente, e uma retomada das exportações.
“O contexto internacional atual é bastante neutro. Não contribui muito para o crescimento nem para a recessão. O que se recuperou obviamente foi o consumo, o investimento e as exportações. Isso porque os nossos parceiros comerciais estrangeiros também se recuperaram. Então foram reativados todos os motores tradicionais do crescimento”, explica Angel Melguizo, diretor da OCDE para a América Latina.
Segundo ele, a recessão foi fruto de uma combinação da queda do preço das matérias-primas com o endurecimento das condições monetárias. “Houve um freio no consumo e nos investimentos. Agora eles estão se materializando junto com a ação dos mercados, que começaram a solicitar de novo produtos latino-americanos.”
Apesar da tendência de crescimento, o diretor da OCDE aponta as diferenças de performance entre os países do continente: “É uma região tremendamente heterogênea nas raízes culturais e políticas, e isso se traduz também em grandes diferenças na área econômica. A recessão da região aconteceu exclusivamente porque alguns dos principais países, em termo de tamanho, passaram por grandes recessões”.
Ele cita a Venezuela, mas a considera um caso extremo, devido à grave crise política e social. “Mas outros países, como Argentina, Brasil e Equador, que estão entre as principais economias da região, também tiveram crescimento negativo em 2016. Agora todos eles estão se recuperando, com exceção da Venezuela, que deve continuar registrando taxas negativas de crescimento nos próximos anos.”
Brasil tem recuperação lenta – O professor de economia aplicada da Fundação Getúlio Vargas, Lívio Ribeiro, explica a situação do Brasil no contexto regional. “Estamos tirando a cabeça fora d’água. Não é um crescimento pujante, sensacional, muito pelo contrário. Depois de alguns anos de alta recessão, as contas mostram que o triênio 2014-2016 representa o pior desemprenho dos últimos 120 anos Depois disso, há uma previsão de crescimento de 0,5% em 2017, uma recuperação muito lenta, muito gradual. Mas, dado o tamanho da economia brasileira, isso permite uma retomada do crescimento regional.”
O diretor da OCDE lembra que alguns blocos se sobressaem no continente, como os países andinos. “Sobretudo Colômbia e Peru, que mostraram a robustez e a contribuição da sua política macroecômica, que permitiu que mantivessem taxas de crescimento por volta dos 3% – um pouco menos na Colômbia e um pouco mais no Peru. Agora esses países têm que continuar apostando em políticas de diversificação produtiva para que seus ciclos econômicos sejam menos voláteis e para que sua recuperação seja mais dinâmica.”
Na semana passada, o Fórum Econômico da região levou a Buenos Aires 1.200 empresários, ministros, altos funcionários e organismos internacionais, como a OCDE e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
“No evento foi confirmada a mudança de tendência, essa recuperação da economia da América Latina, que também se reflete na retomada da Argentina. Depois da recessão de 2016, o país está se encaminhando para uma recuperação econômica. Mas a região como um todo continua enfrentando desafios, como aumentar o crescimento potencial, conseguir ser uma região de salários altos, e não medianos, e fortalecer a emergente classe média. Esses foram os fatores que caracterizaram os anos de bonança econômica e que devem ser protegidos”, conta Melguizo, que participou do encontro.
Apesar da boa nova da saída da recessão, a América Latina precisa realizar transformações estruturais para fortalecer sua economia de maneira sustentável, como explica o professor de economia Elton Casagrande, da Unesp (Universidade Estadual Paulista). “Essa recuperação não altera a situação estrutural das dificuldades de lidar com os desafios: melhora da produtividade, dos capitais social e humano, da infraestrutura etc. No curto prazo, a resposta é positiva. Mas as ameaças ao próprio crescimento não estão sendo tratadas adequadamente.” O Banco Interamericano de Desenvolvimento prevê para o triênio 2017-2019 um crescimento de 2% para a região.