Bamako, Mali – Uma delegação de países da África Ocidental chegou a Bamako neste sábado (22) para tentar pressionar por um rápido retorno ao governo civil, quatro dias após o golpe militar que depôs o presidente Ibrahim Boubacar Keita.
A missão da Comunidade Econômica da África Ocidental (Cedeao), liderada pelo mediador na crise do Mali, o ex-presidente nigeriano Goodluck Jonathan, chegou a Bamako durante a tarde para se reunir com os membros da Junta Militar que tomou o poder e com Keita, que está preso após ser obrigado a renunciar.
No aeroporto, ela foi recebida pelo coronel Malick Diaw, número dois do Comitê Nacional para a Salvação do Povo (CNSP), órgão criado pelos militares para comandar o país, e pelo porta-voz da junta, Ismaël Wagué, confirmaram correspondentes da AFP.As negociações levariam a “algo bom para o país, bom para a Cedeao e bom para a comunidade internacional”, disse Jonathan, mediador da crise no Mali.
A delegação iniciaria a visita com encontros informativos “com representantes da União Africana e da Missão das Nações Unidas para o Mali (MINUSMA), em seguida se reuniria com embaixadores dos países da Cedeao em Bamako”, de acordo com o programa obtido pela AFP.
À noite, os enviados visitariam o campo militar de Kati, nos arredores de Bamako, onde Keita está detido com uma dezena de altos líderes civis e militares, incluindo o primeiro-ministro Boubou Cissé, presidente da Assembleia Nacional, Moussa Timbiné, e o Chefe do Estado-Maior do Exército, General Abdoulaye Coulibaly.
“Não estamos de acordo com o golpe” – A delegação da Cedeao se reunirá na manhã de domingo com os embaixadores dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (França, Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha e China).
Os países vizinhos do Mali, reunidos em uma cúpula extraordinária, exigiram na quinta-feira a “reintegração” do presidente e decidiram enviar uma delegação a Bamako para apoiar um “retorno imediato à ordem constitucional”.
Os militares no poder, que prometeram uma “transição política”, foram saudados na sexta-feira no centro de Bamako por milhares de partidários da oposição, que há meses exigiam a saída do chefe de estado.
“Não há golpe, não há Junta, há apenas malineses que assumem suas responsabilidades”, disse Mohamed Aly Bathily, um dos líderes da coalizão do Movimento 5 de Junho (M5-RFP). Na manhã de sábado, várias dezenas de apoiadores de Keita tentaram se manifestar em Bamako, mas foram dispersados pela polícia.
“Estamos aqui esta manhã para mostrar que não concordamos com o golpe. Mas pessoas vieram nos atacar com pedras, e então as forças da ordem aproveitaram a agressão para dispersar nossos militantes”, disse à AFP Abdoul Niang, militante da Convergência das Forças Republicanas (CFR).
Keita, eleito em 2013 e reeleito em 2018 por cinco anos, enfrenta um protesto sem precedentes desde o golpe de 2012 há meses. Assim como a ONU, a União Europeia (UE) pediu na quarta-feira a libertação imediata dos prisioneiros e “um retorno ao Estado de Direito”. Os Estados Unidos suspenderam a ajuda militar ao Mali na sexta-feira.
Em meio à crítica situação política, neste sábado, quatro soldados malineses morreram e um ficou gravemente ferido por um artefato explosivo quando seu veículo passava pelo centro de Mali.
Ataques de grupos jihadistas, que começaram no norte do Mali em 2012, se espalharam para o centro do país em 2015, causando inúmeras mortes de civis e militares. Esses ataques, combinados com a violência intercomunitária, se espalharam para os países vizinhos, Níger e Burkina Faso.