“Estou orgulhoso da relação que construímos juntos nos últimos dois séculos, mas não vamos nos acomodar. Eu acredito que a relação EUA-Brasil tem potencial para estar entre as alianças mais significativas do século que vem”, disse o embaixador americano que está em São Paulo.
Confira discurso dele na íntegra por aqui.
A Relação Estratégica Estados Unidos – Brasil: Passado Presente e Futuro
É um grande prazer para mim estar com todos vocês aqui hoje. É uma verdadeira honra falar com os estudantes de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas. Uma instituição tão importante que tanto tem feito para promover a internacionalização do Brasil.
Gostaria de agradecer ao professor Oliver Stuenkel por suas gentis palavras de apresentação. E também à Livia Avelhan, por todo seu apoio para fazer este evento acontecer. Valorizo a parceria de longa data da FGV com os Estados Unidos e com nossas instituições acadêmicas, e espero, enquanto for embaixador, que o relacionamento com a missão diplomática dos Estados Unidos no Brasil seja cada vez mais aprofundado.
Tenho o privilégio de falar com todos vocês sobre um tema ao qual me dedico 100% –– o desenvolvimento contínuo da parceria Estados Unidos-Brasil em benefício dos dois países e de seus cidadãos.
Como talvez sabem, cheguei pela primeira vez a São Paulo, em 1974, quando tinha 11 anos de idade, com a minha família. Então, chegando ao Brasil com o nome “Todd”, rapidamente me tornei “Toddy”, o que é muito bom, e desde então eu tenho ouvido dos meus amigos o jingle “Toddynho”. Frequentei a Escola Maria Imaculada, a “Chapel School” em Santo Amaro e me graduei em 1980. Sempre valorizarei os anos que passei no Brasil.
Depois da universidade eu já voltei três vezes para trabalhar no Brasil. As duas primeiras foram aqui em São Paulo, ficando um ano cada vez. Antes de me tornar diplomata, um dos mais importante acontecimentos foi o nascimento do meu primeiro filho, Joshua, que nasceu aqui em São Paulo na maternidade ProMatre perto da Av. Paulista. Então, eu tenho um brasileiro na minha família!
Mais recentemente, servi como Ministro Conselheiro na Embaixada em Brasília (de 2011-14). É realmente uma honra servir agora como embaixador dos Estados Unidos. Para mim, o Brasil é uma nação que admiro, e os brasileiros são um povo que tenho orgulho de chamar de amigos. Muito do que é hoje a relação Estados Unidos – Brasil foi moldado pelo nosso passado compartilhado. E o que fizermos hoje, juntos como amigos, moldará nosso futuro. Quero compartilhar nos próximos minutos alguns dos meus pensamentos sobre nosso passado, nosso presente e nosso futuro juntos como as duas maiores democracias das Américas.
Gostaria de compartilhar, ainda, minhas opiniões sobre porque acredito que nossa relação como nações é estrategicamente importante para nossos países — para nossos povos, para nossas economias e para nossos governos – além de dividir minha visão sobre para onde talvez possamos ir juntos.
Primeiro, um pouco sobre nosso passado.
Em 1822, os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil. Os Estados Unidos foram também o primeiro país a estabelecer presença diplomática no Brasil, abrindo o Consulado em Recife em 1815. Dom Pedro II, em 1876, foi o segundo Chefe de Estado a visitar os Estados Unidos quando celebramos o centenário de independência.
Na Segunda Guerra Mundial, o Brasil foi um importante aliado dos Estados Unidos em apoio ao esforço aliado para derrotar a tirania na Europa. A base em Natal era um ponto estratégico de transporte de tropas e equipamentos americanos que se dirigiam à Europa. O presidente Getúlio Vargas e o presidente Franklin Roosevelt reuniram-se em Natal nos dias 28 e 29 de janeiro de 1943 para discutir a cooperação Estados Unidos-Brasil na Segunda Guerra Mundial; e o Brasil tornou-se o único país sul-americano a contribuir com tropas para o esforço de guerra aliado. Tropas americanas e brasileiras lutaram juntas na Campanha Italiana. E por sua coragem e sacrifício, o Exército Brasileiro mostrou que “Sim, a cobra vai fumar”.
Depois da guerra, a integração econômica cresceu rapidamente, resultando em laços econômicos profundos. A AmCham Brasil é a maior Câmara Americana do mundo e, no ano passado, completou 100 anos no Brasil. Quatrocentas empresas americanas da Fortune 500 têm operações significativas no Brasil, muitas delas estabelecidas há mais de 100 anos. Os Estados Unidos colaboraram estreitamente com os brasileiros na criação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica e da Embrapa, colaboração que continua até hoje.
Na década de 1960, a Aliança para o Progresso do Presidente John Kennedy trouxe novidades à nossa relação bilateral, com a criação da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional,(USAID) no Brasil, que desde então contribuiu com quase um bilhão de dólares em assistência no país, e o Peace Corps, que trouxe mais de 4.200 voluntários americanos para trabalhar em comunidades em todo o país.
Por duzentos anos, nossos povos estão unidos pelo nosso amor à liberdade, bem como por nossa luta para enfrentar os erros da história — seja a escravidão, o preconceito racial ou, as iniquidades sociais — e nosso acolhimento da fé, da família e do país. E, como qualquer bom amigo, às vezes discordamos — como por exemplo, quem realmente inventou o primeiro avião, ou sobre abordagens para resolver conflitos internacionais ou promover indústrias nacionais. Mas, o mais importante, é que permanecemos juntos ao longo do tempo, mesmo passando por períodos diferentes, e continuamos a caminhar juntos.
Essa forte história, em conjunto com nossos valores compartilhados, formam uma base sólida para a cooperação que temos hoje e que trabalhamos para intensificar. Gostaria de falar sobre onde a parceria Estados Unidos-Brasil está no momento, e então compartilhar uma visão para o futuro dela. Nossas relações de longa data no setor de saúde fornecem as bases para nossos esforços conjuntos no combate à COVID-19 e no aprendizado mútuo sobre o fortalecimento de nossos sistemas de saúde.
Os Estados Unidos e o Brasil têm uma longa história de colaboração em saúde e em pesquisa biomédica. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) está presente no Brasil desde 2000 e trabalhou diretamente com o Ministério da Saúde em assuntos relacionados a HIV/AIDS, malária, imunizações e Zika. Trabalhando com o Ministério da Saúde o CDC ajudou a criar programas para testes e serviços durante a atual pandemia.
Quando a COVID-19 chegou, todas as conexões já estavam estabelecidas para uma resposta conjunta. Com base nessas articulações, o CDC está fornecendo mais de 15 milhões de reais em financiamento para fortalecer os sistemas de vigilância e análise de dados no Brasil em sua resposta à ameaça de doenças infecciosas.
Todos os anos, os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos financiam mais de 800 milhões de reais em pesquisas de ponta com o governo brasileiro e organizações acadêmicas, desde doenças infecciosas até diabetes e câncer. Este ano, os Institutos Nacionais de Saúde estão usando muitas das suas redes estabelecidas para ensaios clínicos para agilizar o teste das vacinas contra a COVID-19. Os Estados Unidos estão investindo mais dinheiro na busca de uma vacina do que qualquer outro país do mundo.
O governo e empresas privadas dos Estados Unidos no Brasil forneceram mais de 402 milhões de reais em assistência para ajudar comunidades, hospitais e famílias a responder à emergência de saúde. A USAID está financiando serviços essenciais de saúde na Amazônia, inclusive para comunidades indígenas, bem como para refugiados venezuelanos.
Os Estados Unidos já doaram mais 400 ventiladores e 600 estão a caminho, como prometido pelo presidente Trump ao presidente Bolsonaro. A empresa americana United Health Group, dona da Amil Assistência Médica – a maior operadora de planos de saúde no Brasil, doou mais de R$ 37 milhões à Fiocruz, hospitais de campanha e ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Apenas no estado de São Paulo, a Accenture, a Amazon, a BP Bunge, a Colgate, a PWC e outros estão contribuindo para a resposta do governo estadual à COVID-19 por meio da participação na força-tarefa do setor privado Grupo Empresarial Solidário, que arrecadou mais de $ 1 bilhão de reais. As empresas farmacêuticas dos Estados Unidos estão testando vacinas contra a COVID-19 no Brasil, enquanto continuam a produção substancial de medicamentos aqui no país. Nossa cooperação em saúde permanecerá forte e passaremos por essa pandemia juntos.
No entanto, mesmo durante a pandemia, estamos trabalhando para fortalecer nosso relacionamento em outras áreas. Os Estados Unidos continuam aprofundando nossa cooperação científica de pesquisa e desenvolvimento com as principais instituições e empresas acadêmicas do Brasil, muitas aqui em São Paulo.
Em março deste ano, o Brasil sediou a quinta reunião da Comissão Mista Estados Unidos–Brasil sobre Ciência e Tecnologia. Representantes de mais de 30 agências brasileiras e americanas se reuniram para discutir temas que vão desde a observação da Terra e os campos de ciência, tecnologia e engenharia até pesquisas avançadas de manufatura e física de partículas.
Em dezembro do ano passado, o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas Estados Unidos-Brasil entrou em vigor. O acordo permite o uso da tecnologia de lançamento dos Estados Unidos no Centro de Lançamento Espacial de Alcântara e abre as portas para a colaboração comercial na economia espacial em rápido crescimento.
Nos meses de maio e abril a Embaixada organizou um webinar com o presidente da Agência Espacial Brasileira com mais de 364 participantes. Há também novas parcerias com a NASA que estão sendo exploradas. Só este mês, o Brasil se tornou o primeiro país a realizar conversas com a Força Espacial dos Estados Unidos sobre maneiras de aprofundar nossa cooperação espacial de defesa. A nossa parceria espacial ajuda a garantir acesso responsável e seguro e uso do espaço para todos nós.
O primeiro Diálogo da Indústria de Defesa Estados Unidos-Brasil realizado em 2016 reuniu representantes de empresas americanas e brasileiras para identificar oportunidades de parceria comercial e áreas de colaboração conjunta em políticas e regulamentos. Em julho deste ano, o Diálogo lançou trabalhos sobre o desenvolvimento de um código de ética para nossas indústrias de defesa, um passo importante e visionário para nossos setores privados.
Continuamos uma longa história de cooperação militar e estratégica. Assinamos nove acordos estratégicos de defesa apenas nos últimos cinco anos. Esses laços na área de segurança atestam a importância dos Estados Unidos estarem juntos com o Brasil – uma relação baseada em princípios democráticos, uma história comum de luta pela liberdade e a convicção de defender o direito à democracia no futuro.
Os Estados Unidos veem o Brasil como um parceiro natural e um aliado na área de segurança. Em reconhecimento disso, o presidente Trump designou, no ano passado, o Brasil como aliado preferencial extra-OTAN — um dos 16 países globais com essa designação. Essa designação traz privilégios, incluindo acesso prioritário a equipamentos militares, novas oportunidades de pesquisa conjunta e uma plataforma para construir futura cooperação em defesa.
O Acordo de Pesquisa, Desenvolvimento, Testes e Avaliação, assinado em março deste ano, se ratificado pelo Congresso Brasileiro, permitirá esforços colaborativos em tecnologias básicas, exploratórias e avançadas em patamar usufruído apenas pelos aliados da OTAN e pelos parceiros estratégicos de segurança mais próximos dos Estados Unidos. Além da defesa militar nas nossas fronteiras e da garantia da soberania nacional, a paz nas nossas ruas e a paz de nossas famílias também são extremamente importantes.
A segurança pública tem sido, portanto, uma área de constante colaboração. Por essa razão, o Fórum Permanente de Segurança Estados Unidos–Brasil, que foi lançado em maio de 2018 e se reuniu mesmo nesta tarde, aborda assuntos relacionados ao tráfico de armas e narcóticos e outras questões de segurança que podem impactar e impactam a vida de cada um de nós diariamente. É por isso que trabalhamos juntos para treinar os responsáveis pela segurança pública.
Enquanto enfrentamos essas ameaças de segurança, não as enfrentamos sozinhos. Como os criminosos não respeitam fronteiras, buscamos soluções que reúnem parceiros de toda a região. Em julho de 2019, os Estados Unidos e o Brasil se juntaram à Argentina e ao Paraguai para relançar o Mecanismo de Segurança Regional para enfrentar o crime transnacional e de finanças ilícitas. Esses esforços conjuntos combinados – utilizando informações e conhecimentos de todas as nações parceiras – resultaram no fechamento de rotas de contrabando de armas, apreensões de várias toneladas de drogas ilícitas, desarticulação de redes transnacionais de pornografia infantil e quadrilhas de contrabando de animais exóticos.
Na área econômica, os Estados Unidos são o maior mercado brasileiro de produtos manufaturados e de valor agregado e têm sido por muitos anos. As exportações de produtos industrializados produzem mais empregos e multiplicadores econômicos do que a exportação de commodities com pouco ou nenhum valor agregado.
A exportação de produtos de valor agregado promove a transferência de tecnologia, o crescimento profissional de sua força de trabalho e o desenvolvimento de sua economia. Nosso comércio bilateral é caracterizado por sua diversidade de produtos, relacionamentos desenvolvidos ao longo de décadas e uma quantidade considerável de comércio entre empresas que destaca a integração de nossos setores produtivos. Isso é uma evidência de como os Estados Unidos e o Brasil compartilham uma relação comercial madura.
Segundo o Banco Central do Brasil, os Estados Unidos são, de longe, a maior fonte de estoques de investimento estrangeiro direto. Com base nas estatísticas mais recentes, os estoques de IED dos Estados Unidos totalizaram US$ 118 bilhões em 2018, representando 24% de todo o estoque de IED no Brasil. Em seguida vem a Espanha, com US$ 57 bilhões.
Empresas americanas de energia estão implantando tecnologia de ponta com os parceiros brasileiros para promover a transição do Brasil para um dos maiores produtores e exportadores de petróleo do mundo. Os investimentos americanos em energia renovável e nuclear estão fornecendo fontes limpas de eletricidade para atender às crescentes necessidades energéticas do Brasil.
Esses temas são prioritários para o Fórum de Energia Estados Unidos–Brasil, criado em 2019. E esse investimento está indo em ambas as direções à medida em que as empresas brasileiras ampliam sua presença no mercado americano, comprando empresas americanas ou estabelecendo suas próprias, na agricultura, no processamento de alimentos e nos setores financeiros.
Vemos bancos de investimento brasileiros investindo em empresas americanas e bancos de investimento dos Estados Unidos investindo em alguns dos unicórnios mais bem-sucedidos do Brasil, como Gympass, Wildlife Studio, Quinto Andar e Loggi. Essa é mais uma evidência de como os Estados Unidos e o Brasil compartilham uma relação de investimento de longa data.
A liberdade sustenta cada parte deste grande trabalho: a liberdade de pensar e comunicar o que cada um de nós quer; a liberdade de inovar e proteger nossa própria propriedade, nossas invenções; a liberdade de competir. O sucesso econômico dos Estados Unidos e do Brasil dependerá da capacidade de nossos inovadores de capitalizar suas ideias. Tentar, falhar e tentar de novo.
É por isso que a proteção da propriedade intelectual é primordial para as economias desenvolvidas, e por isso o roubo de Propriedade Intelectual precisa ser combatido. É por isso que a Escritório de Patentes e Marcas dos Estados Unidos e o INPI assinaram um acordo “Exame Acelerado de Patentes” em dezembro de 2019. Um programa de 5 anos para facilitar que inovadores e empresas de todos os setores se beneficiem de determinações de processos mais rápidos de patentes em ambos os países.
Os Estados Unidos e o Brasil juntos alimentam o mundo. Nossa parceria de longa data na agricultura solidificou os ganhos para os agricultores brasileiros e americanos por meio de programas como o LABEX-USA, um programa em que a EMBRAPA envia cientistas agrícolas sêniores para os Estados Unidos para fazer pesquisas com parceiros de outros laboratórios.
As empresas agrícolas – ADM, Bunge, Cargill, Mosaic, John Deere, Caterpillar, Pioneer – estão bem integradas no Brasil, e muitas empresas brasileiras estão produzindo alimentos nos Estados Unidos. Como as duas grandes superpotências agrícolas, os Estados Unidos e o Brasil estão na linha de frente, defendendo em conjunto o uso da sólida base científica nas políticas de produção agrícola e importação.
Isso não só beneficia os produtores dos nossos dois países, mas promove a segurança alimentar globalmente. O mundo deve adicionar mais de dois bilhões de habitantes nos próximos 30 anos. Alguém tem que alimentá-los, e estou apostando nos Estados Unidos e no Brasil.
Os Estados Unidos e o Brasil estão atualmente buscando acordos comerciais e entendimentos que avancem a nossa parceria comercial, reduzam barreiras ao comércio e facilitem o investimento. Nossa ambição mútua é de nível elevado e nossas duas equipes de negociação estão trabalhando arduamente.
E por causa do forte compromisso do Brasil com a transparência e a reforma econômica, os Estados Unidos anunciaram publicamente no ano passado nosso forte apoio à adesão do Brasil à OCDE. Ao alcançar os marcos importantes necessários para a adesão plena, o Brasil se tornará uma economia mais competitiva e aumentará sua capacidade de atrair investimentos nacionais e estrangeiros.
Nossos dois países estão trabalhando para enfrentar os desafios ambientais. Os Estados Unidos e o Brasil compartilham desafios ambientais semelhantes e ao mesmo tempo, uma história produtiva de trabalho conjunto. Nosso objetivo é proteger e preservar o meio ambiente, promovendo o crescimento de nossas economias.
Em janeiro de 2020, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) e o Ministério do Meio Ambiente assinaram um memorando de entendimento para fortalecer e coordenar esforços para proteger efetivamente o ambiente de nossas nações. A Plataforma de Parceria para a Amazônia, iniciativa estratégica da USAID, é uma plataforma de ação coletiva. É liderada pelo setor privado que identifica e desenvolve soluções inovadoras para o desenvolvimento sustentável e conservação da biodiversidade, florestas e recursos naturais da Amazônia brasileira.
Desde 2015, especialistas técnicos do Serviço Florestal dos Estados Unidos e da USAID têm trabalhado em estreita colaboração com parceiros federais e municipais brasileiros para a construção da capacidade de prevenção e gestão de incêndios, incluindo a formação de mais de 500 líderes indígenas e membros da comunidade. Em 2020, a USAID ampliará esse trabalho conjunto para apoiar os esforços do Brasil na prevenção e controle dos incêndios na Amazônia.
Hoje, como duas das maiores democracias do mundo, os Estados Unidos e o Brasil compartilham uma compreensão do poder das pessoas que vivem em liberdade. Devemos lutar para manter e avançar nossas liberdades, e devemos lutar para promover a justiça e os direitos humanos em nossos próprios países e em todo o mundo. Os Estados Unidos têm no Brasil, um parceiro importante.
A Carta Democrática Interamericana da OEA declara que “os povos das Américas têm direito à democracia e seus governos têm a obrigação de promovê-la e defendê-la.” Enquanto continuamos a trabalhar para melhorar a vida de nossos próprios cidadãos, os Estados Unidos e o Brasil são líderes na promoção da democracia na região.
O Brasil tem sido um líder vital nos esforços para restaurar a democracia na Venezuela e ver uma transição democrática que possa por fim ao regime ilegítimo e desumano de Maduro. Segundo a ONU, mais de quatro milhões fugiram da Venezuela e entre 4.000 e 5.000 venezuelanos fogem todos os dias. O Brasil recebeu centenas de milhares deles.
Os Estados Unidos apoiam fortemente a liderança e a generosidade do Brasil no acolhimento aos refugiados venezuelanos. Os Estados Unidos também forneceram mais de 50 milhões de dólares para ajudar a cuidar desses refugiados venezuelanos aqui no Brasil. Globalmente, este ano, o Brasil tornou-se membro fundador da Aliança pela Liberdade Religiosa, trabalhando com os Estados Unidos e outros países para elevar e ampliar os esforços para combater a discriminação e a perseguição com base na religião ou na crença.
É inconcebível que mais de um milhão de [ee-gur-es] Uigures estejam sendo mantidos em campos de concentração na China, ou que pastores no Irã como o pastor Youcef Nadarkhani, permaneçam presos por causa da sua fé. Os Estados Unidos e o Brasil patrocinam conjuntamente a Declaração de Consenso de Genebra para garantir ganhos significativos de saúde e desenvolvimento para as mulheres e defender a família.
Nossos dois governos agora, como no passado, estão ativos na definição de metas e agendas, estabelecendo mecanismos para promover a cooperação e a colaboração e planejando novas parcerias. No entanto, são os nossos povos – americanos e brasileiros — que fazem da relação o que ela é hoje e definem o que ela se tornará.
Mais de 2,1 milhões de brasileiros visitaram os Estados Unidos em 2019. O Brasil também é um dos 10 principais países que enviam estudantes para os Estados Unidos, a grande maioria dos quais retornam ao Brasil com os conhecimentos e experiências adquiridos. Claramente, tanto as restrições temporárias de viagem do Brasil quanto dos Estados Unidos devido à COVID-19 este ano impactam as vidas das pessoas que não podem ser resumidas em estatísticas.
Reconheço que muitos estudantes brasileiros que querem viajar para os Estados Unidos para estudar em uma universidade não conseguem por causa da COVID-19. Muitas universidades nos Estados Unidos anunciaram que só terão aulas on–line, o que significa que muitos serão capazes de estudar de qualquer lugar do mundo.
Estamos disponibilizando recursos através dos mais de 40 centros de assessoria do EducationUSA no Brasil para ajudar os alunos a se conectarem com as universidades. Em 2019 nossa rede organizou 497 visitas de universidades dos Estados Unidos e alcançou mais de 300 mil alunos pessoalmente e mais de um milhão através da divulgação virtual.
Nossa parceria com 35 Centros Binacionais espalhados pelo Brasil alcançou mais de 5,5 milhões de brasileiros em 2019. Os Centros oferecem programas culturais; assessoria para estudos nos Estados Unidos; e oportunidades de aprendizado de inglês. Desde o início da pandemia, mais de 30 especialistas americanos apoiaram os esforços de transição para o ensino de inglês on-line e híbrido. Alcançaram mais de 420 mil professores em todos os estados do Brasil.
Apoiamos o ensino superior brasileiro por meio da colaboração. Como resultado de uma parceria entre o Ministério da Educação e a Comissão Fulbright, mais de 1.980 cidadãos americanos e brasileiros viajaram entre nossos dois países em intercâmbios patrocinados ou operados pela Fulbright.
Além dessa parceria, apoiamos o Programa de Modernização do Ensino de Graduação em Engenharia, um programa de oito anos que visa modernizar o ensino de engenharia em oito das melhores universidades brasileiras. E quero destacar que a parceria educacional entre os Estados Unidos e o Brasil — inclusive com a FGV — também faz parte da nossa história compartilhada. A Escola de Administração de Empresas da FGV em São Paulo foi fundada em 1954 em colaboração com a Universidade Estadual de Michigan.
Todos vocês provavelmente sabem disso: o prédio da escola tem o nome do Presidente John F. Kennedy, cuja administração forneceu apoio financeiro durante a Aliança para o Progresso. Entretenimento, cultura, esportes, música, organizações humanitárias, comunidades religiosas, os clubes Rotary e Lions garantem que a relação Estados Unidos – Brasil prospere. É profunda, de longa data, e fundamentada nos valores das Américas – democracias e liberdades, – verdades que consideramos realmente evidentes. Esses são investimentos em pessoas. Esses são investimentos no futuro. E isso vai continuar.
E qual será o futuro da parceria estratégica dos Estados Unidos e Brasil?
Acredito que o futuro começa aqui conosco nesta reunião, porque nós, como indivíduos, escolhemos onde queremos levar essa parceria e como queremos nos engajar. A maior parte da relação entre os Estados Unidos e o Brasil ocorre fora dos canais oficiais de governo. Acontece entre pessoas, organizações, empresas, universidades nos Estados Unidos e no Brasil que encontram benefício na interação.
Então, nesta conjuntura como embaixador dos Estados Unidos, posso imaginar dez parcerias temáticas à medida que avançamos. Cada uma delas está em consonância com o Quadro Estratégico para o Hemisfério Ocidental que o conselheiro de Segurança Nacional Robert O’Brien apresentou no último fim de semana. Acredito que, como governos, temos a oportunidade de criar ambiente em que essas interações podem aumentar, ao mesmo tempo em que atendemos às responsabilidades que os governos mantêm exclusivamente.
Posso vislumbrar dez parcerias temáticasque estão avançando:
Parceria para a prosperidade. Acredito que podemos dobrar nosso comércio bilateral em cinco anos. Estamos trabalhando para esse objetivo agora à medida em que avançamos em direção a acordos comerciais e à medida em que o mundo busca diversificar as cadeias de suprimentos em uma realidade pós-pandemia. Estamos progredindo em energia, tecnologia e agricultura. Nós podemos fazer isso.
Parceria educacional. Temos tantas iniciativas educacionais ativas, mas gostaria de vê-las dobrar em número de alunos estudando nos Estados Unidos e no Brasil nos próximos cinco anos beneficiando, assim, a maioria dos alunos. Parceria de defesa mais profunda. Nossos militares compartilham uma história digna de orgulho. Ligações mais fortes, construídas peça por peça em benefício mútuo, protegerão ainda mais nossos países daqueles que não compartilham nossos valores.
Parceria de segurança mais próxima. Juntos podemos quebrar os redutos de grupos criminosos transnacionais que operam em nossos países. Eles destroem comunidades e promovem o vício em drogas, traficam pessoas, devastam o meio ambiente com mineração ilegal e desmatamento, e saqueiam a vida selvagem. Trabalhando juntos, podemos ajudar a garantir as bênçãos da liberdade para nossos cidadãos que são mantidos em cativeiro por esses bandidos.
Parceria no espaço. Com a ratificação do AST (Acordo de Salvaguardas Tecnológicas), e uma convicção compartilhada sobre a importância do uso responsável do espaço, podemos agora explorar juntos uma parceria expandida que está fora deste mundo.
Parceria na área de saúde. Pós-pandemia: continuaremos a promover avanços na saúde, revolucionando a forma como prevenimos e cuidamos de doenças, avançaremos nossa capacidade conjunta de combater doenças e impulsionaremos políticas que contribuam para uma melhor saúde para americanos, brasileiros e pessoas em todo o mundo.
Parceria ambiental. Juntos, podemos desenvolver políticas e programas que protejam o meio ambiente — da Amazônia às comunidades urbanas — ao mesmo tempo em que criamos incentivos para que o setor privado participe e proporcione um crescimento econômico sustentável para todos os nossos cidadãos;
Parceria em inovação e criatividade. Onde nossos negócios, acadêmicos e profissionais trabalham juntos na ciência, na arte e nos negócios, da agricultura à exploração espacial, abrindo novas oportunidades e criando novos caminhos para a prosperidade;
Parceria global. Uma parceria onde elevamos o bem-estar não só de nossos cidadãos, mas também dos países ao redor do mundo, liderando reformas em instituições internacionais, defendendo a ciência e políticas públicas baseadas em dados, promovendo princípios democráticos e resistindo à tirania em todas as suas formas. E finalmente…
Uma aliança duradoura. Quando os Estados Unidos e o Brasil lideram juntos para avançar os nossos compromissos compartilhados ao redor do mundo com as liberdades fundamentais, incluindo a liberdade de religião, a liberdade de expressão e a liberdade de pensamento, acredito que o mundo será um lugar melhor. E acredito que podemos fazer isso melhor juntos.
À medida em que construímos essas parcerias, certamente haverá desafios ao longo do caminho. Está bem. Isso não me preocupa. Com respeito mútuo e compreensão, os Estados Unidos e o Brasil podem lidar com tais diferenças, pois mantemos nossos olhos fixos na esperança e nas possibilidades que estão diante de nós.
Estou orgulhoso da relação que construímos juntos nos últimos dois séculos, mas não vamos nos acomodar. Eu acredito que a relação Estados Unidos -Brasil tem potencial para estar entre as alianças mais significativas do século que vem — muitos estão contando conosco para fazê-lo — e farei tudo o que puder no tempo que servir como embaixador dos Estados Unidos. Temos 1.500 funcionários, dois terços deles brasileiros, trabalhando comigo na Embaixada e nos Consulados. Juntos, faremos desses planos uma realidade!