JERUSALÉM — Com a mediação do governo de Donald Trump, Israel e os Emirados Árabes Unidos chegaram a um acordo histórico, nesta quinta-feira, que levará a uma normalização total das relações diplomáticas entre as duas nações do Oriente Médio.
Sob o acordo, Israel concordou em suspender a anexação de áreas da Cisjordânia, segundo altos funcionários da Casa Branca. As autoridades descreveram o pacto, que será conhecido como Acordos de Abraão, como o primeiro do tipo desde que Israel e Jordânia assinaram um tratado de paz, em 1994.
— Começa uma nova era nas relações entre Israel e mundo árabe — disse o premier israelense, Benjamin Netanyahu, horas depois do anúncio.
Esse é o terceiro acordo de Israel com seus vizinhos no Oriente Médio — anteriormente, apenas Jordânia e Egito, em 1979, fecharam pactos diplomáticos. No caso dos Emirados, no entanto, nunca havia sido travada uma guerra, por isso trata-se de um acordo de estabelecimento de relações diplomáticas formais, e não de paz. Tecnicamente, apenas Líbano e Síria possuem conflitos com Israel.
O acordo foi o produto de longas discussões entre Israel, Emirados Árabes Unidos e os Estados Unidos acelerados recentemente. Para o presidente americano, Donald Trump, trata-se de uma vitória diplomática meses antes da disputa pela reeleição, em 3 de novembro.
“Este histórico avanço diplomático irá acelerar a paz na região do Oriente Médio e é um testemunho da ousada diplomacia e visão dos três líderes e da coragem dos Emirados Árabes Unidos e de Israel para traçar um novo caminho que desbloqueará o grande potencial na região”, disse um comunicado conjunto emitido pelos três países envolvidos nas negociações.
O texto ainda afirma que representantes dos três governos irão fazer uma série de encontros bilaterais nas próximas semanas em diversas áreas, incluindo “investimentos, turismo, voos diretos, telecomunicações, tecnologia, saúde, cultura, meio-ambiente, o estabelecimento de embaixadas recíprocas, e outras áreas de benefícios mútuos”.
As anexações na Cisjordânia era uma das bandeiras eleitorais de Netanyahu e, após o acordo com o opositor Benny Gantz, foi a prioridade nos primeiros dias do novo governo. O plano de anexar até 30% do território ocupado deveria ter entrado em uma fase mais agressiva em 1º de julho, mas por conta do avanço da pandemia do novo coronavírus, foi adiado.
Segundo um alto funcionário israelense, no entanto, a suspensão é temporária e a anexação ainda está na agenda do governo, algo que grande parte do mundo vê como uma violação do direito internacional e uma nova barreira para o estabelecimento de um futuro Estado palestino.
— O governo americano pediu a suspensão temporária do anúncio (da anexação) para que o acordo de paz histórico com os Emirados Árabes Unidos pudesse ser implementado — afirmou ao jornal Haaretz.
Israel e os Emirados Árabes Unidos já haviam anunciado, no fim de junho, um acordo de cooperação na luta contra o coronavírus. A parceria, anunciada pelo primeiro-ministro israelense, em uma base da Força Aérea perto de Tel Aviv, já representava um passo significativo para a normalização entre dois importantes aliados dos Estados Unidos no Oriente Médio.
Vitória diplomática para Trump – Em entrevista a jornalistas após o anúncio, o ministro das Relações Exteriores dos Emirados, Anwar Gargash, garantiu que os dois países iriam abrir embaixadas em breve. Segundo ele, o acordo é um “passo corajoso” que abre caminho para uma solução de “dois Estados” para o povo palestino.
Para o movimento islâmico palestino Hamas, que detém o poder no Faixa de Gaza, no entanto, a normalização das relações “não ajuda a causa palestina” e representa um “cheque em branco para continuar com a ocupação”.
— Rejeitamos e condenamos esse acordo. Ele é visto como uma continuação da negação dos direitos do povo palestino — disse Hazem Qasem, porta-voz do Hamas, à AFP.
A deputada Hanan Ashrawi, membro do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), também condenou o acordo no Twitter. “Israel foi recompensado por não declarar abertamente o que tem feito à Palestina de forma ilegal e persistente desde o início da ocupação”, escreveu, referindo-se ao acordo de anexação. “Os Emirados Árabes Unidos falaram abertamente sobre suas negociações secretas/normalização com Israel. Por favor, não nos façam um favor”.