“De que serve uma vacina se as pessoas não podem acessá-la?”, interrogou a diretora da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Carissa Etienne, durante coletiva de imprensa desta terça-feira (14/7). A pergunta é um dos principais desafios adiantados pela entidade representativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas diante do avanço nas descobertas de imunizações contra a covid-19. Para oportunizar a proteção de forma ampla à população, a Opas organiza um fundo com o objetivo de que a vacina chegue também às regiões mais vulneráveis.
A estratégia consiste no incentivo ao “Fundo Rotatório”, um mecanismo de cooperação pelo qual as vacinas e demais equipamentos para garantir que a dose chegue à população são adquiridas em nome dos Estados-membros. O objetivo é ofertar “recursos compartilhados e acesso equitativo a preços acessíveis”, como resumiu Etienne.
Por enquanto, 30 países e territórios já integram a ação, incluindo o Brasil. “Precisamos trabalhar agora para fortalecer a capacidade que nos permitirá alcançar comunidades vulneráveis quando encontrarmos uma vacina bem-sucedida. Caso contrário, pode levar anos para que as pessoas sejam vacinadas e não podemos permitir esse atraso”, alertou a diretora.
A importância de alcançar populações mais vulneráveis foi exemplificada pela diretora que, inclusive, citou especificamente a situação dos povos indígenas brasileiros. Para Etienne, as populações mais vulneráveis são as mais duramente atingidas. “No Brasil, por exemplo, as comunidades indígenas ao longo da bacia amazônica estão vendo taxas de incidência mais de cinco vezes maiores que a média nacional”. Etienne ainda alertou para o número crescente de mortes, principalmente no Brasil, México e Estados Unidos que, juntos, “registraram 77% de todas as mortes na última semana e estão enfrentando alguns dos surtos mais mortais do mundo”.
Além de alcançar comunidades mais vulneráveis, outra vantagem estimada com o fundo é permitir uma única negociação em nome de vários países e com diversos produtores ao mesmo tempo. A aquisição já teria o aval da OMS, principal entidade de expertise na área, e permitiria que países, independentemente do nível de renda, garantam melhores preços e assumam menos riscos do que se negociarem individualmente.
“Nenhum país deve fazer isso sozinho, especialmente porque melhoramos nossas chances de sucesso e reduzimos a concorrência se trabalharmos juntos”, acrescentou Etienne. Na ocasião, a diretora ainda incentivou a abertura para ensaios clínicos e testes das vacinas mais promissoras. “No entanto, os países só devem participar se isso for feito corretamente, com a adoção de medidas regulatórias, técnicas e éticas adequadas”, alertou.
Até lá, a líder aconselhou que todos os países continuem seguindo as recomendações da OMS de distanciamento social, medidas de higiene e uso de máscaras que, segundo ela, tanto serviram para achatar a curva, limitar a mortalidade e proteger os sistemas de saúde.