Rodrigo Craveiro
Receita para perpetuar-se no poder: controle o Judiciário, conquiste a lealdade das Forças Armadas muitas vezes de maneira escusa, crie um Legislativo paralelo, impeça as forças antagônicas ao poder de se manifestarem nas ruas, utilize a truculência e a força bruta. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tem seguido à risca a lição para garantir a continuidade do chavismo em uma nação devastada pela miséria e pela inflação astronômica. A mais recente atitude do Palácio de Miraflores envolveu o uso da Justiça para calar os adversários de Maduro. Nas últimas três semanas, o Tribunal Supremo de Justiça interveio nos três maiores partidos da oposição, ao trocar a junta diretora e manter a identidade gráfica das legendas. Como se o governo roubasse uma parte da oposição.
O último partido afetado, o Voluntad Popular, confunde-se com os líderes opositores Leopoldo López e Juan Guaidó, este último presidente autodeclarado da Venezuela, respaldado por mais de 50 países. A manobra de Maduro, ainda que indireta, representa golpe contundente contra seus inimigos políticos e, sobretudo, contra a pseudodemocracia que vigorava em território venezuelano. O caminho à reeleição de Maduro está completamente aberto, e a votação terá caráter meramente protocolar ou simbólico. A oposição havia declarado boicote às eleições parlamentares de 06 de dezembro, em protesto contra o regime socialista. Agora, com a face completamente desfigurada por Miraflores, os partidos da oposição tornaram-se fantoches do establishment.
Maduro está disposto a permanecer como presidente, entronizado pelo populismo e pelas missões bolivarianas — uma mistura de proselitismo político e de caridade social. Ainda que conte com o apoio de uma parcela da população, que depende da ajuda do governo, o presidente compreende que a Venezuela tornou-se um barco à deriva. Nesse sentido, percebe que calar a oposição é a única forma de garantir a própria sobrevivência política. As sanções internacionais têm causado forte impacto sobre a economia venezuelana, amparada por outras nações, como o Irã, a Síria e a Rússia.
O temor de Maduro é que os escombros da economia caiam sobre ele, levando a uma rebelião popular ou a uma guerra civil. O silêncio dos adversários é a estratégia vista pelo presidente para evitar esse cenário. As eleições parlamentares de dezembro são favas contadas. Tudo indica que Maduro reconquistará, por meios escusos ou nada republicanos, a maioria da Assembleia Nacional. As próximas eleições presidenciais devem ocorrer em 2024. O resultado parece previsível: a vitória, ainda que fraudulenta, sob risco de minar a propalada Revolução Bolivariana de Hugo Chávez.