BRUXELAS — A chanceler alemã, Angela Merkel, cujo país passou na semana passada a ocupar a Presidência rotativa da União Europeia (UE), pediu nesta quarta-feira aos líderes europeus que cheguem a um acordo “em breve” sobre o plano de recuperação comum, em meio à pandemia do novo coronavírus.
Em sua primeira viagem fora da Alemanha desde que a Europa entrou em confinamento, em março, para conter a Covid-19, Merkel disse aos integrantes do Parlamento Europeu em Bruxelas que os países do bloco não apenas precisam superar as consequências econômicas, mas também manterem-se unidos diante “do maior desafio de sua História”.
— Se avaliarmos bem a profundidade da crise, não temos tempo a perder. Espero que cheguemos a um acordo neste verão (que vai até 20 de setembro na Europa) — disse Merkel ao Parlamento Europeu nesta quarta-feira. — A principal prioridade será a unidade para garantir que a Europa saia da crise mais unida.
Nos dias 17 e 18 de julho, os líderes dos 27 países do bloco discutirão novamente o plano de recuperação de € 750 bilhões (4,5 trilhões) para tentar sair da profunda recessão em 2020, causada pela pandemia no continente.
O plano, que precisa da aprovação unânime de todos os membros, mas enfrenta a oposição de países como Holanda, Áustria, Dinamarca e Suécia — seguidores do rigor fiscal —, procura combater as assimetrias no bloco, que aumentaram como resultado do impacto desigual do surto do coronavírus em cada uma das nações, e das diferentes respostas nacionais.
Holanda, Áustria, Dinamarca e Suécia defendem que os fundos sejam concedidos principalmente através de empréstimos e não como subsídios, aplicando critérios rigorosos. Merkel, alinhada a esses países no passado, mudou radicalmente de postura e pede agora “um esforço extraordinário”.
A chanceler federal alemã que cumpre seu último mandato em seu país e, segundo analistas, procura deixar seu legado político durante a Presidência do bloco, garantiu que suas prioridades serão a coesão, a luta contra as mudanças climáticas e a informatização.
— A Europa emergirá mais forte após a crise se fortalecermos o espírito comum. Ninguém pode sair dessa crise sozinho. Somos todos vulneráveis — enfatizou. — Os direitos humanos e civis são o bem mais valioso que temos na Europa.
Cenário de não acordo com o Reino Unido – Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia e ex-ministra da Defesa da Alemanha, reforçou o pedido de solidariedade, em um discurso na sequência ao de Merkel.
— Todo e qualquer país-membro tem trabalho a fazer. Se quisermos sair mais fortes da crise, todos devemos mudar para melhor.
Merkel também reforçou que a Alemanha continuará pressionando para selar um novo acordo de parceria com o Reino Unido até o final do ano, mas destacou que a União Europeia também deve se preparar para uma saída abrupta dos britânicos do bloco a partir de 2021.
Autoridades britânicas e da UE se reúnem em Londres esta semana para conversas sobre bens, serviços, pesca e governança, depois que a rodada de negociações do Brexit da semana passada foi interrompida, com os dois lados dizendo que, embora desejassem um acordo, ainda não haviam superado suas discordâncias em vários temas.
— O progresso das negociações até agora tem sido pequeno, para falar de maneira diplomática. Concordamos com o Reino Unido em acelerar o ritmo das negociações. Continuarei pressionando por uma boa solução, mas também devemos nos preparar para a possibilidade de um cenário de não acordo.
Além do fundo de recuperação, a Europa também está trabalhando em seu próximo orçamento plurianual para o período 2021-2027. O chefe do Conselho Europeu, Charles Michel, vem preparando uma proposta para um plano que agrade os 27 membros, enquanto as reuniões para pavimentar esse caminho acontecem. Juntos, os fundos dão a Bruxelas uma alavancagem significativa para exercer influência sobre os seus membros, especialmente em países como Hungria e Polônia, onde os valores democráticos estão sendo corroídos.