Súsan Faria
Fotos: Eliane Loin
Com depoimento impressionante de um dos sobreviventes do holocausto, Sigfried Glatt, Brasília homenageou quarta-feira, 15, as seis milhões de vítimas mortas pelos nazistas e outras que conseguiram escapar. A cerimônia, realizada no auditório da Câmara Legislativa do DF, foi organizada pelas embaixadas de Israel, do Canadá e representantes da União Europeia.
Durante o evento, muitas orações; canções executadas pela Banda do Corpo de Bombeiros do DF; recital de poesias e discursos emocionados. Autoridades, representantes do Corpo Diplomático, parlamentares e estudantes lotaram o auditório da CLDF. O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto é comemorado anualmente em 27 de janeiro.
Sigfried Glatt destacou que foram seis milhões de vítimas do holocausto, mortas nos campos de concentração nazistas, das quais 1,5 milhão de crianças. Falou sobre as fábricas de mortes e os requintes da crueldade do governo nazista, matando humanos com fome, inanição, frio, câmaras de gás, experiências e torturas. Explicou que antes do holocausto sinagogas foram queimadas e os bens dos judeus começaram a ser tomados, sem que o mundo se manifestasse contra tais atrocidades.
Ao mesmo tempo em que eram exibidas fotos da mãe, dos avós e irmãos de Sigfried numa telona, ele foi contando sua história. O avô, com então 78 anos e recém-operado, junto com a avó, estavam na Bélgica. Foram pegos por um grupo de adolescentes belgas nazistas. O avô conseguiu deixar um bilhete cair fora do trem explicando que tinham sido pegos e que não deveriam voltar. No bilhete constava o endereço da família, a qual nunca mais o viu. Os irmãos de Sigfried também morreram nas câmaras de gás.
Sigfried, que vive no Rio de Janeiro (RJ), conseguiu fugir e se abrigar num castelo da juventude operária cristã, na Holanda, onde a polícia alemã esteve por três vezes e matou alguns dos que estavam no local. Sobreviveu com dificuldades, subempregos, fome e frio, sempre se escondendo, inclusive de um judeu traidor, Jack que andava à frente da Gestapo procurando seus conterrâneos. Sigfried trabalhou em uma fábrica clandestina de pilhas, reencontrou a mãe e os dois usavam jornais dentro das camisas para se aquecerem e também nos pés para os sapatos não se encharcarem de água, pois já estavam furados.
Com a ajuda do pai – que já vivia com outra família no Rio – Sigfried e sua mãe vieram para o Brasil, em viagem de 19 dias no navio Desirah. Ficou encantado pelo Rio, onde trabalhou, se casou, teve três filhos, seis netos e bisnetos, e hoje preside a Associação das Vítimas do Holocausto.
Na cerimônia em homenagem às vítimas do holocausto em Brasília estiveram presentes o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, que representou o presidente Michel Temer (PDMB/SP); o embaixador de Israel, Yossi Sheli; o embaixador do Canadá, Rick Sanove; o presidente da Câmara Legislativa do DF, Joe Valle (PDT) e representantes da União Europeia. O maestro e capitão Félix regeu a Banda de Música do Corpo de Bombeiros do DF que tocou o Hino Nacional Brasileiro e a Marcha Fúnebre, esta enquanto foram apresentadas dezenas de fotos de judeus nas câmaras de gás ou nos campos de concentração nazistas. Foi também lida a “Canção da Judia de Varsóvia” que descreve a revolta e a dor contra a matança e a tortura de judeus.