Mais de 575 mil casos e pelo menos 29,3 mil mortes — 21.048 no Brasil. Enquanto os números do novo coronavírus cresciam na região, Michael Ryan, diretor de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS) admitia: “A América do Sul se tornou o novo epicentro da doença”. “Vemos o número de casos aumentar em numerosos países sul-americanos. Há muita preocupação em torno desses países, mas, claramente, o mais afetado no momento é o Brasil”, comentou. Depois do Brasil, o Peru registra o maior número de casos (111.698) e de óbitos (3.244), seguido de Chile (61.857 infectados e 630 mortos), Equador (35.828 e 3.056) e Colômbia (19.131 e 682).
Morador de Santiago, o analista de sistemas chileno Sócrates López Baquedano, 48 anos, faz parte das estatísticas. Ele começou a apresentar os sintomas no último dia 14 e, cinco dias depois, recebeu o teste positivo. “Tive muito medo. Quando soube que estava infectado, fiquei em choque. O principal temor se deve ao fato de toda a minha família ter contraído o vírus: minha mulher, minha sogra e dois de meus cinco filhos, que ainda vivem conosco, de 18 e de 22 anos. Com certeza, se infectaram antes de eu saber que estava doente”, contou ao Correio.
Segundo Sócrates, a preocupação maior é com a sogra, de 75 anos. “Por sorte, eles estão bem, com sintomas mais amenos do que os meus. Os mais angustiantes, para mim, são a tosse incontrolável e as dores musculares.” Ele recomenda a quem teve a sorte de não ser contagiado que obedeça à quarentena, lave bem as mãos e, ao chegar em casa, tire toda a roupa e entre diretamente no banho.
Em Guayaquil, a segunda maior cidade do Equador e a mais castigada pela covid-19, a professora María José Jiménez, 35, sofreu dois golpes sucessivos. No fim de março, contraiu o novo coronavírus. Apesar da doença, foi demitida. “Estou com muito medo. Meu bebê tem 9 meses, meus pais moram comigo e ambos são hipertensos e diabéticos. Depois que me despediram, foi muito duro e difícil, e tive ataques de pânico”, disse à reportagem.
Maria José afirma que a covid-19 é uma doença muito séria, que afeta tanto o físico quanto o emocional. “Penso que muitas mortes foram produto de enfarte por ataque de pânico. Em meu país, eu soube de muita gente que morreu por não encontrar oxigênio ou atenção médica urgente”, lamentou. Ela lembrou que a pandemia do novo coronavírus deu três golpes muito duros no país: no sistema de saúde; no campo do trabalho, com milhares de desempregados; e na educação, pois há colégios que nem sequer têm 10% de alunos matriculados.”
Também no Equador, Carmén Márquez, uma vendedora de empanadas de 56 anos, viu a covid-19 levar o filho, Favio Joel Jaramillo Márquez, 27 anos, e a mãe dela, Carmen Alban, 82. “Eles morreram em um intervalo de oito dias. Ainda não tinha assimilado a perda do meu filho. Ainda que sinto que está vivo, assim como a mamãe. É tudo muito lamentável. Não se pode chegar a Guayaquil. Por isso, não pude ajudar minha família nem se despedir dos dois”, desabafou ao Correio a moradora da cidade de Libertad, a 127km de Guayaquil. “Nem sequer pude estar com eles quando morreram. Mamãe faleceu no hospital.” O corpo de Favio ficou dois dias em casa até que fosse levado pelo Serviço Médico Legal de Guayaquil. “A covid-19 é a maior provação dos nossos tempos. Uma prova de humanidade, de nossa ideologia e do valor que damos às nossas vidas”, comentou.
Vizinhos brasileiros – No dia em que os peruanos tiveram quase 3 mil novas infecções e 96 mortes, o presidente Martín Vizcarra prorrogou o confinamento até 30 de junho, assim como o estado de emergência, o qual terminaria amanhã. “Estamos prorrogando o estado de emergência até 30 de junho e estabelecendo metas em todos os aspectos”, declarou. “O isolamento social obrigatório é mantido, em razão das graves circunstâncias que afetam a nação devido à covid-19. A quarentena é para evitar a propagação do vírus”, anunciou. A Colômbia atingiu, ontem, as cifras mais altas de óbitos (30) e de contágios (801) em 24 horas. Pouco antes da divulgação do balanço, o presidente Iván Duque anunciou a chamada “Missão Amazonas”, um plano do governo para a região fronteiriça com o Brasil onde há mais infectados. Ele revelou que 49% das mortes no país foram de idosos com mais de 60 anos e ressaltou a importância de manutenção de protocolos de biossegurança.
Na quinta-feira, Vizcarra, Duque e os colegas Sebastián Piñera (Chile) e Luis Alberto Lacalle Pou (Uruguai) participaram de uma reunião por videoconferência para debater desafios e ações na América do Sul para enfrentar o novo coronavírus. O encontro virtual contou com a participação de Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA).