Brasília – O intercâmbio comercial Brasil-Canadá deverá ganhar maior dinamismo e relevância no pós-pandemia, quando empresas dos dois países poderão avançar na exploração de oportunidades comerciais identificadas antes da Covid-19 que afetou as principais economias de todo o mundo. Intensificar as relações comerciais com o Brasil será uma das alternativas para o Canadá tentar reduzir a grande dependência do país em relação ao intercâmbio com os Estados Unidos.
Donos em 2019, respectivamente, da oitava e décima maiores economias do mundo, Brasil e Canadá têm vínculos comerciais ainda distantes de seu elevado potencial econômico industrial e tecnológico. De janeiro a março deste ano, as exportações para o Canadá totalizaram US$ 1,227 bilhão (alta de 19,6% em relação ao mesmo período do ano anterior) enquanto as vendas canadenses para o Brasil, que tiveram uma queda de 12,7%, somaram pouco mais de US$ 548 milhões.
Com isso, o comércio com os canadenses gerou para o Brasil um superávit de US$ 680 milhões. Esses números fizeram do Canadá o décimo-primeiro país no ranking das exportações brasileiras e o vigésimo maior fornecedor de bens ao Brasil.
Números bastante modestos especialmente quando se leva em consideração o fato de que em 2019 o Canadá exportou produtos no valor de US$ 447 bilhões, figurando na décima-quarta posição entre os maiores exportadores mundiais, segundo a OMC. Nesse ranking, o Brasil ocupou a vigésima-sétima colocação, com US$ 227 bilhões exportados.
No tocante às importações, o Canadá igualmente figura entre os maiores players do comércio internacional, com US$ 464 bilhões e o décimo-quarto lugar entre os principais importadores. O Brasil ficou em vigésimo-sétimo lugar, com importações no montante de US$ 184 bilhões.
Alternativas aos EUA – Segundo Paulo de Castro Reis, diretor de Relações Institucionais da Câmara de Comércio Brasil Canadá (CCBC), “mesmo no período pré-pandemia, o Canadá começou a perceber que não era tão saudável o país ter a maior parte de suas exportações direcionada ao mercado dos Estados Unidos. Até mesmo pelo fato de que a própria política protecionista do atual governo americano já não administrava as relações comerciais com o Canadá da mesma forma como acontecia no passado. A partir daí, o Canadá passou a entender que seria interessante começar a diversificar as suas exportações, o seu comércio exterior”.
O especialista em comércio exterior destaca que diante desse processo,o Canadá se empenhou fortemente na busca de vários acordos comerciais, com blocos como a União Europeia e o Acordo Transpacífico, e acordos isolados com países da Ásia e da América Latina. Com isso, hoje o Canadá dispõe hoje de uma vasta rede de acordos comerciais que contribui para o dinamismo e crescimento de suas exportações.
Ainda assim, ele adverte que “uma coisa é a politica estratégica de quem está administrado e outra coisa é a vida real das empresas que estão lá instaladas, produzindo e exportando e que acabam ficando na sua própria zona de conforto , atendendo ao mercado americano”.
Com a chegada da pandemia de Covid-19, ressalta Paulo de Castro Reis, “as fronteiras não só dos Estados Unidos, mas do mundo inteiro, se fecharam, o número de voos foi reduzido drasticamente e o Canadá se ressentiu muito, nas questões do comércio exterior, da concentração das exportações para o mercado americano”.
Oportunidades de negócios – Voltando a analisar as relações comerciais Canadá-Brasil, ele concorda com a avaliação de que o fluxo comercial bilateral é muito pequeno em relação ao potencial de negócios que os dois países poderiam ter em conjunto: “isto é algo que a gente tem muito claro nas análises da CCBC. E o próprio trabalho da CCBC nestes últimos anos tem sido não só de identificar as oportunidades de negócios entre os dois países mas de fazer um trabalho de conscientização para que as empresas de um país comecem a perceber o potencial existente no parceiro”.
O diretor da CCBC destaca que a Câmara tem procurado trabalhar com os produtores brasileiros, que não têm o Canadá como alvo preferencial para destino de suas exportações e que preferem exportar para os Estados Unidos, a União Europeia e para a América Latina e se esquecem de considerar o mercado canadense.
Nesse contexto, ele afirma que “nosso trabalho não é só ajudar os empresários brasileiros a exportar para o Canadá, mas, numa primeira fase, é ainda mostrar a eles as oportunidades que o mercado canadense oferece e que eles não estão percebendo. A partir do momento que eles percebem o que lhes interessa, nós entramos na segunda fase do nosso trabalho que é de conectar exportadores e importadores para gerar negócios”.
Conforme ressalta o Diretor de Relações Institucionais da CCBC, essa é uma via de mão dupla: “a mesma coisa temos feito do Canadá para o Brasil. Hoje, os exportadores canadenses estão sendo obrigados a sair da sua zona de conforto, estão percebendo as dificuldades para exportar para os EUA, seus clientes tradicionais, e isso abre uma grande oportunidade para eles começarem a buscar outros mercados, como por exemplo o Brasil. Tanto para importar quanto para exportar”.
Efeitos colaterais da pandemia – Em sua percepção pragmática e realística das relações comerciais entre os dois países, Paulo de Castro Reis enxerga um efeito colateral da pandemia, junto com uma série de outros fatores, que contribuem para forçar tanto os canadenses quanto os brasileiros a buscar mercados nos quais tradicionalmente não prestavam atenção.
Segundo ele, “no caso do Brasil para os canadenses e do Canadá para o Brasil, existem opções muito interessantes, com alto potencial e que estavam sendo muito pouco exploradas. Acho que a pandemia acaba trazendo um cenário muito importante principalmente com vistas ao momento de recovery, de retomada após a pandemia”.
Em suas atividades na Câmara, o executivo identifica um cenário verdadeiramente desafiador mas ainda assim vislumbra o surgimento de novidades alvissareiras: “é interessante observar que neste último mês a gente teve doze novas empresas se associando à Câmara, sendo que, dentre elas, quatro são empresas canadenses, que perceberam que esse é um momento propicio para as pessoas começarem a se organizar, a planejar para que daqui alguns meses, quando as coisas começarem a melhorar, estejam mais prontas para trabalhar num mercado novo, o mercado canadense para os brasileiros e o mercado brasileiro para os canadenses.”
Segundo Paulo de Castro Reis, “agora é a hora de mudar embalagens, mapear mercados, ajustar algum detalhe técnico do produto, ir preparando os registros dos produtos em outros países pois às vezes são necessários registros no Ministério da Saúde ou da Agricultura. Então a gente vê que existe um movimento de algumas empresas já se preparando e se ajustando para começar a usufruir das oportunidades que a relação Brasil/Canadá pode oferecer”.
Paulo de Castro Reis vê com otimismo o futuro das relações comerciais entre os dois países, tema que conhece como poucos. Conhecimento reforçado por uma vasta e sólida expertise em negócios internacionais, com uma carreira marcada pela atuação em áreas como Diretoria Comercial, Relações Institucionais, Gestão de Marca e Marketing, entre outras. Profissional eficiente em comércio exterior e internacionalização de empresas, responsável pela abertura e desenvolvimento de novos mercados em mais de vinte países. Um cosmopolita e “globetrotter” do comércio internacional.