No Cadastro Vitícola do Rio Grande do Sul, segundo a Doutora Loiva Mello, a viticultura está presente em 27 microrregiões do estado, distribuídas em 14.417 propriedades familiares de distintos tamanhos com topografia acidentada. Destaque para a região de Caxias do Sul com 11.488 propriedades, representando 80% de toda a área de videiras plantadas no estado, liderando tanto na produção de uvas para elaboração de sucos, vinho colonial, geléias e doces, quanto na produção das Vitis viníferas para elaboração de vinhos finos tranquilos e espumantes.
E é exatamentes das terras gaúchas que vem a boa notícia: Excelente safra 2020 com uvas de alta qualidade! Favorecidos pelo tempo seco, grande amplitude térmica com dias quentes e noites frias e a baixa umidade no período da colheita garantiram com boa maturação, sem podridão nos cachos, preservando a acidez, concentrando os compostos fenólicos, aumentando os taninos (substâncias presentes na casca da uva que dão estrutura e corpo ao vinho) e agregando maior quantidade de açúcar nas uvas. Segundo o pesquisador Mauro Ceso Zanus, em outros anos, a média do Brix ficava entre 13º a 20º e na citada safra, a Chardonnay e a Pinot Noir foram colhidas com grau de açúcar entre 19 a 22º Brix, as Moscatos (Branco, Giallo e R2) entre 16 a 19º Brix e as variedades tintas Teroldego, Merlot, Cabernet Franc, Tannat e Cabernet Sauvignon apresentaram entre 20 a 24º Brix.
Eis o histórico da natureza que culminou com a boa safra: Dados do Instituto Nacional de Meteorologia informam que em dezembro foram somente 3 dias com chuvas e em janeiro foram 8 dias, mantendo constante a temperatura em torno de 22ºC. Outro fato a considerar ocorreu nos meses de agosto e setembro de 2019, quando houve pouca chuva, reduzindo naturalmente a quantidade brotos que logo deveriam formar os cachos. Fato contrário aconteceu nos meses seguintes, outubro e novembro, quando choveu muito, prejudicando a floração, diminuindo ainda mais os cachos e em seguida, na vindima, veio a desejável estiagem. Menor quantidade de uvas mas de maior qualidade e isso é tudo que os enólogos querem. Em contrapartida, os pequenos viticultores que, se pudessem escolher, optariam por maior quantidade de frutas, porque o seu lucro está no volume colhido.
Logo depois da vindima (período da colheita da uva que acontece no final de dezembro até março), o Brasil e o mundo entrou em “quarentena” por conta da pandemia do Covid-19. Mas isso não atrapalhou a elaboração do vinho desta safra excepcional. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Enologia: “… a maioria das vinícolas está operando com um número reduzido de funcionários … Não há previsão de atraso ou paralisação na produção, pois a uva é um produto perecível.”
Contando com a excepcional qualidade das uvas e com o emprego de alta tecnologia na elaboração dos vinhos, a previsão é que os vinhos brancos tenham maior intensidade aromática e acidez equilibrada e que os vinhos tintos tenham coloração intensa e taninos macios com potencial de guarda por muitos anos, especialmente das variedades Tannat e Merlot.
E no nordeste, como ficou a safra por lá? Precisamos registrar que na região banhada pelo Rio São Francisco, o clima é estável, o ciclo das parreiras é controlado pelo estresse hídrico, resultando em safras regulares e estáveis. A região não registra diminuição nem aumento da safra, tampouco mudança de qualidade. Tudo é previsto!
Nós que apreciamos vinhos acreditamos que teremos excelentes amostras da excepcional safra de 2020, tim-tim!
Rachel Alves Massanori Nariyoshi
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