Em comunicado, o ministério taiwanês dos Negócios Estrangeiros, expressou “forte insatisfação” e “pena” pelas declarações do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, realizadas na quarta-feira.
As autoridades de Taipé exigiram que Adhanom Ghebreyesus “corrija imediatamente as suas alegações infundadas” e “peça desculpas” a Taiwan.As 23 milhões de pessoas de Taiwan foram “discriminadas” pelas políticas do sistema internacional de saúde e “condenam todas as formas de discriminação e injustiça”, lê-se no comunicado.
Taiwan é uma “nação madura e altamente sofisticada e nunca instigaria ataques pessoais ao diretor-geral da OMS, muito menos expressar sentimentos racistas”, acrescenta.Em conferência de imprensa, em Genebra, Tedros defendeu na quarta-feira a resposta da agência de saúde da ONU à pandemia da covid-19 e acusou Taiwan de estar vinculado a uma campanha contra ele, alegando que, desde o início do surto do novo coronavírus, foi atacado pessoalmente, incluindo através de ameaças de morte e insultos racistas.
“Este ataque veio de Taiwan”, apontou Tedros, ex-ministro da Saúde e dos Negócios Estrangeiros da Etiópia e o primeiro líder africano da OMS. O responsável disse que diplomatas de Taiwan estavam cientes dos ataques, mas que não se dissociaram. Tedros não detalhou as bases destas alegações.
China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. Taiwan tornou-se, entretanto, numa democracia com uma forte sociedade civil, mas Pequim considera a ilha parte do seu território e ameaça a reunificação pela força. Tedros foi eleito com o forte apoio da China, um dos cinco membros permanentes com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU.
O diretor-geral da OMS elogiou a gestão do surto pelas autoridades chinesas, considerando-a “aberta e transparente”, apesar de evidências de que os primeiros relatos de infeções foram abafadas pela polícia de Wuhan, a cidade chinesa de onde a doença é originária.
Por insistência da China, Taiwan foi barrada da ONU e da OMS e perdeu o estatuo de observadora na Assembleia Mundial da Saúde anual. No entanto, a resposta de Taiwan ao surto tem servido para afirmar a ilha, que funciona como uma entidade política soberana apesar da oposição de Pequim, como um dos Estados que melhor preveniu a doença.
Com mais de um milhão de cidadãos a viver e a trabalhar na República Popular da China, Taiwan contabiliza apenas 379 casos de infeção pela Covid-19, a grande maioria importados do exterior. As autoridades dos Estados Unidos e de Taiwan reuniram no mês passado para discutir formas de aumentar a participação da ilha no sistema mundial de saúde, provocando a fúria de Pequim, que se opõe a todos os contactos oficiais entre Washington e Taipé.
Mensagem da Presidente Tsai Ing-Wen
Hoje, protesto, veementemente, contra as acusações de que Taiwan está instigando ataques racistas na comunidade internacional. Taiwan sempre se opôs a todas as formas de discriminação. Durante anos, fomos excluídos de organizações internacionais e sabemos, melhor do que ninguém, como é ser discriminado e isolado.
Quero aproveitar esta oportunidade para convidar o Diretor-Geral Tedros a visitar Taiwan e constatar, pessoalmente, o quanto o povo taiwanês está comprometido em contribuir com o mundo, mesmo diante da discriminação e do isolamento.
Trabalhadores médicos e voluntários altruístas de Taiwan podem ser encontrados em todo o mundo. O povo taiwanês não se diferencia pela cor da pele ou idioma; todos nós somos irmãos e irmãs. Nunca deixamos nossa impossibilidade de ingressar em organizações internacionais diminuir nosso apoio à comunidade internacional.
Taiwan dedicou todos seus esforços para impedir a propagação da COVID-19, e nossas conquistas receberam muita atenção de todo o mundo. Apesar de termos sido excluídos da OMS devido à manipulação política, assumimos nossa responsabilidade como membro da comunidade internacional e tomamos a iniciativa de doar máscaras faciais e outros suprimentos para trabalhadores médicos nos países mais afetados pela pandemia do coronavírus. Os taiwaneses podem ajudar; o espírito de Taiwan está sempre ajudando e nunca foi influenciado pela nacionalidade ou raça.
Taiwan é dedicada aos valores de liberdade, democracia, diversidade e tolerância. Não toleramos o uso de comentários racistas para atacar pessoas com opiniões diferentes. Se o diretor-geral Tedros pudesse suportar a pressão da República Popular da China e viesse à Taiwan, para ver os esforços para combater a COVID-19, ele veria que o povo taiwanês é a verdadeira vítima desse tratamento injusto. Acredito que a OMS só estará verdadeiramente completa se Taiwan for incluída.”