Em meio a críticas sobre a atuação da Organização Mundial da Saúde (OMS) na pandemia do novo coronavírus e insinuações sobre favorecimento à China, o presidente americano Donald Trump ameaçou suspender as contribuições financeiras do país à entidade.
— Nós vamos impor a suspensão nos gastos à Organização Mundial de Saúde — afirmou o presidente, para surpresa de muitos dos jornalistas que acompanhavam o briefing diário na Casa Branca. Trump seguiu acusando a organização de ser “sinocêntrica” e de criticar as medidas de restrição de viagens anunciadas pelo governo americano no começo do ano.
— Eles disseram que estava errado. Eles erraram na avaliação.
Contudo, pouco depois o próprio Trump esclareceu que essa não era uma medida imediata. Ele anunciou que vai conduzir uma investigação sobre o que considera ser “ações equivocadas” da OMS e as relações com a China. Ou seja, não se sabe quando ou mesmo se o corte vai acontecer.
Para o ano fiscal de 2020, o Congresso havia autorizado pagamentos de US$ 123 milhões à OMS — para o ano seguinte, a proposta da Casa Branca é reduzir esse valor para US$ 58 milhões, segundo planos divulgados em fevereiro. O país é o maior contribuinte para o orçamento da organização.
A confusa porém ameaçadora declaração veio horas depois de uma série de ataques do presidente. Em postagens no Twitter, acusou a OMS de “tomar decisões ruins” e, mais uma vez, de ser muito favorável à China.
“A OMS estragou tudo. Por alguma razão, embora [a organização] financiada em grande parte pelos Estados Unidos, está muito centrada na China. Nós daremos uma boa olhada. Felizmente, rejeitei o conselho deles de manter nossas fronteiras abertas à China desde o início. Por que eles nos deram uma recomendação tão falha?”, escreveu Trump na rede social.
Em 31 de janeiro, a organização de saúde das Nações Unidas aconselhou os países a manter as fronteiras abertas, apesar da pandemia, embora tenha ressaltado que cada nação tinha o direito de adotar medidas para tentar proteger seus cidadãos. Nesse mesmo dia, o governo de Trump anunciou restrições às viagens da China.
A resposta não demorou: para o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, a organização e, especialmente, o diretor-geral, Tedros Adhanom, estão fazendo um “um tremendo trabalho no combate à Covid-19”.
— A OMS está mostrando a força do sistema internacional de saúde — disse a repórteres, lembrando do trabalho realizado na mais recente epidemia de ebola na República Democrática do Congo.
Lampejos – Trump, que na entrevista prometeu ainda 110 mil respiradores e cerca de 15 mil leitos já nas próximas semanas, também disse acreditar que os EUA estejam chegando “perto do ponto mais alto da curva”, se referindo ao número máximo de casos e mortes.
— Vemos lampejos de esperança apesar de uma semana muito, muito dura — disse aos repórteres logo no início do briefing.
Ele também foi questionado se tinha algum conselho a líderes que se recusam a adotar medidas de distanciamento social. Sem mencionar nomes, disse apenas que “não há muitos deles”. Na mesma resposta, deu a entender que não havia subestimado a Covid-19, muito embora o tenha feito diante dos mesmos repórteres.
Antes de subir ao púlpito, o presidente atacou um relatório produzido pelo Departamento de Saúde dos EUA sobre a falta de equipamentos e insumos em algumas unidades hospitalares no país. Segundo ele, o documento é falso, muito embora não tenha revelado quais pontos do estudo não sejam condizentes com a realidade.